
O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) atribuiu os recentes episódios de mal-estar de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), às sequelas da facada sofrida em 2018 e ao uso contínuo de medicamentos opioides, utilizados no controle de dores agudas decorrentes de múltiplas cirurgias abdominais. A declaração foi feita por meio das redes sociais nesta sexta-feira, 20, após Bolsonaro passar mal durante um evento com apoiadores em Goiânia.
Segundo reportagem publicada pelo Estadão, o ex-presidente participava de um churrasco no Frigorífico Goiás quando apresentou sintomas de náusea e precisou se retirar do local ainda pela manhã. Ele deixou a capital goiana e retornou a Brasília, onde deve permanecer em repouso.
Em sua conta no X (antigo Twitter), Carlos Bolsonaro compartilhou uma notícia sobre os enjoos do pai e explicou que os problemas seriam resultado das intervenções cirúrgicas após o atentado de 2018. “Para controlar dores agudas, foi necessária a administração de medicamentos opioides – alguns com efeitos comparáveis aos da heroína médica, como o fentanil ou similares, geralmente restritos a ambientes hospitalares de alta complexidade”, escreveu o vereador.
Durante evento na véspera, o ex-presidente já havia demonstrado desconforto. Ao discursar, chegou a arrotar no microfone e pediu desculpas ao público: “Desculpe aqui porque eu estou muito mal. Eu vomito 10 vezes por dia, talvez”.
Desde a facada sofrida em Juiz de Fora (MG), Jair Bolsonaro passou por seis cirurgias na cavidade abdominal, a mais recente em abril deste ano, quando se submeteu a uma laparotomia exploradora para tratar uma obstrução intestinal causada por aderências — tecido cicatricial que se forma na parede do intestino após procedimentos invasivos.
De acordo com Raphael di Paula, chefe da cirurgia oncológica do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, os sintomas descritos por Bolsonaro são compatíveis com quadros pós-operatórios no trato gastrointestinal. “A obstrução intestinal por aderências é uma complicação comum em pacientes submetidos a múltiplas cirurgias abdominais”, explicou o especialista.
Cálculo político e jurídico
O novo episódio reforça a expectativa, entre aliados e integrantes da equipe jurídica de Bolsonaro, de que seu estado de saúde possa ser utilizado como argumento para pleitear, no Supremo Tribunal Federal (STF), a substituição de eventual condenação em regime fechado por prisão domiciliar.
Embora não comentem publicamente, interlocutores do ex-presidente já consideram praticamente certa uma condenação no caso da tentativa de golpe de Estado, relacionada aos atos de 8 de janeiro de 2023. A avaliação é de que o ministro Alexandre de Moraes tende a fixar inicialmente o cumprimento da pena em regime fechado. No entanto, o precedente estabelecido com o ex-presidente Fernando Collor, que obteve prisão domiciliar por razões de saúde, é visto como possível caminho também para Bolsonaro.
Em sua publicação, Carlos Bolsonaro criticou o sistema judicial e disse que o atentado contra o pai teve efeitos mais profundos do que os físicos. “A faca perfurou mais que o abdômen de Bolsonaro: ela cortou qualquer ilusão de que o Estado trata a ele e sua família com igualdade diante da lei e da dor do ser humano”, afirmou o vereador.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/carlos-bolsonaro-culpa-efeitos-da-facada-de-2018-por-novo-mal-estar-do-pai-em-evento-em-goiania/