
O que era para ser uma estratégia de defesa acabou se tornando mais um revés para Anderson Torres. O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal (DF) teve seu pedido de quebra do sigilo telefônico do coronel Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da Polícia Militar do DF (PMDF), concedido — mas o resultado jogou contra ele.
A expectativa de Torres era demonstrar que teria ligado para o comandante da PMDF, para evitar os atos golpistas de 8 de Janeiro de 2023. No entanto, a resposta da operadora Claro enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) frustrou essa tentativa: não há qualquer registro de chamadas ou mensagens trocadas entre os dois no dia do tumulto em Brasília.
As informações integram a Ação Penal 2.668, que investiga a trama golpista para tentar manter Jair Bolsonaro no poder após a derrota nas urnas em 2022. Os dados foram encaminhados à Polícia Judiciária nesta terça-feira (24) e representam um novo capítulo na responsabilização dos envolvidos pela omissão ou conivência com os atos de vandalismo que tomaram a Praça dos Três Poderes.
Em depoimento ao STF no último dia 10 de junho, Torres alegou que ficou “desesperado” ao tomar conhecimento da gravidade dos ataques — ele estava nos Estados Unidos naquele fim de semana — e que teria feito diversas ligações para autoridades brasileiras, inclusive para o então comandante-geral da PMDF. Agora, porém, as evidências contradizem essa versão.
“Fiquei desesperado. Liguei para todo mundo”, disse o ex-secretário durante o interrogatório, em uma tentativa de demonstrar que não foi omisso diante da escalada golpista. Ele responsabilizou a Polícia Militar do DF pelo fracasso do planejamento de segurança e pela falha no cumprimento do Protocolo de Ações Integradas (PAI), que, segundo ele, foi assinado por várias instituições — inclusive pelo STF — para prever medidas de contenção.
“Houve uma falha muito grave no cumprimento do protocolo. O coração do protocolo era a PMDF — eles fazem isso há 65 anos. Essa é a expertise deles, e a grande maioria das ações cabia à PMDF”, justificou Torres, ao ser questionado pelo ministro Luiz Fux.
A tentativa de transferir a responsabilidade integral para a Polícia Militar, no entanto, se vê enfraquecida diante da ausência de registros de ligações entre Torres e o coronel Vieira no momento crítico dos ataques. A quebra do sigilo, que seria uma peça de defesa, transformou-se em evidência contra o próprio ex-ministro, sugerindo que, ao contrário do que afirmou, ele pode não ter feito o esforço alegado para conter a crise.
O processo contra os integrantes da cúpula da PMDF, também réus na mesma ação penal, está em fase avançada no STF e deve ser julgado em plenário virtual. Enquanto isso, os desdobramentos da quebra de sigilo reacendem questionamentos sobre o papel de Anderson Torres nos bastidores da tentativa de golpe — e aumentam seu desgaste jurídico e político.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/quebra-de-sigilo-mostra-que-ex-ministro-anderson-torres-nao-ligou-para-comandante-da-pmdf-em-8-de-janeiro/