
No passado dia 22 de junho, a 59.ª edição do Festival de Sintra chegou ao seu final com um concerto de encerramento no Centro Cultural Olga Cadaval, que reuniu a violinista Nicola Benedetti, o maestro Pablo Urbina e a Orquestra do Algarve. Depois de dois eventos inusitados e exclusivos deste festival — um duelo entre dois pianistas de renome no Palácio Nacional de Sintra e uma caminhada-concerto ao nascer do sol com Bruno Pernadas — terminamos a nossa cobertura com um evento dedicado à música clássica, elemento sempre presente no festival.

Antes do concerto em si, o diretor artístico do festival desde 2023, Martim Sousa Tavares, deu um pequeno discurso exaltando a importância daquele que é o festival mais antigo do país e dos apoios públicos que o mesmo tem, nomeadamente da Câmara Municipal de Sintra. São esses apoios que permitem ao público ter acesso a iniciativas culturais gratuitas, como foi o caso deste concerto. Numa altura em que a cultura é cada vez mais vista como um luxo, tendo a sua importância reduzida ao nível de uma pasta partilhada com a juventude e o desporto, e a sua diversidade atacada por manifestações violentas, a democratização do acesso à mesma é um tema premente.
Entretanto, subiu ao palco a Orquestra do Algarve, uma das Orquestras Regionais do país, que tem feito um enorme trabalho na dinamização cultural e na divulgação da música clássica a todas as camadas sociais no sul de Portugal. Não é surpreendente, então, que o seu Maestro Titular atual seja o espanhol Pablo Urbina, um grande dinamizador da inclusão musical e da pedagogia como formas de transformação das comunidades. Juntando-se a eles, como solista da noite, esteve a escocesa Nicola Benedetti, a vencedora de um Grammy e de dois Classical BRIT Awards descrita pelo festival como “uma das violinistas mais requisitadas da sua geração a nível mundial”.

O programa da noite incluiu a “Sinfonia em Mi-bemol Maior, H.664”, de Carl Bach, o “Concerto para violino n.º 3 em Sol Maior, K.216”, de Wolfgang Amadeus Mozart, e a “Sinfonia n.º 7 em Lá Maior, Op.92”, de Ludwig van Beethoven, algumas das obras emblemáticas de três grandes nomes da música clássica.
A curta primeira sinfonia, de Bach, foi interpretada apenas pela orquestra. Logo aí se viu o nível técnico elevado dos músicos em palco, guiados pelo dinâmico maestro como se este se tratasse de um ventríloquo com dezenas de fios ligados à sua batuta. No final desta primeira interpretação, entrou então Nicola para o concerto para violino de Mozart, que precisa da solista para a sua energética melodia. O público aplaudiu de pé com entusiasmo e Nicola acabou por recompensá-lo com um pequeno momento a solo antes de abandonar o palco. A música escolhida foi um clássico norte-americano inspirado pela herança celta da Escócia, cujo nome não conseguimos discernir.

Depois de um intervalo de dez minutos, a orquestra voltou a tomar os seus lugares para concluir o programa da noite. A impactante sinfonia n.º 7 de Beethoven foi tocada de forma absolutamente sublime. Arriscamo-nos a dizer que ficámos mais impressionados com esta segunda parte do concerto do que com a primeira. Talvez tenha sido o facto de a sinfonia ser facilmente reconhecível, por ter sido incluída em filmes e séries como “Westworld”, “Mr. Robot” e “O Discurso do Rei”, ou apenas pela vivacidade que esta música requer ter sido tão bem personificada pelos músicos em palco. De qualquer forma, no final ouviu-se um coro de “bravo!” vindo do público e as pessoas pareceram saltar das cadeiras como se tivessem molas.
Decerto ninguém terá saído de expectativas goradas deste concerto ou, de forma geral, do festival. O elitismo associado a estilos de música mais eruditos continua a ser algo comum, mas eventos como o Festival de Sintra fazem um ótimo papel em trazer a população para as salas de espetáculos — e até em levar os espetáculos para fora das salas, como já mencionámos. Este concerto de encerramento teve a lotação praticamente esgotada, o que, inclusive, aconteceu com a maioria dos eventos do festival — algo que Martim fez questão de salientar no seu balanço final do certame. A porta ficou já aberta e o convite feito para a 60.ª edição, a acontecer no próximo ano, que certamente será uma celebração especial.
Fonte: https://comunidadeculturaearte.com/reportagem-concerto-da-orquestra-do-algarve-com-a-violinista-nicola-benedetti-encerrou-a-59-a-edicao-do-festival-de-sintra/