
Por Tiago Amor, CEO da Lecom
Já pensou se fosse possível testar o futuro antes que ele acontecesse? Não em um laboratório, nem em uma planilha de Excel, mas em um reflexo dinâmico e atualizado da sua operação, como se você tivesse um “clone” virtual da sua empresa, funcionando ali, lado a lado, aprendendo com cada decisão, prevendo os tropeços antes que eles virem quedas?
É mais ou menos isso que os Gêmeos Digitais estão oferecendo. Digo mais ou menos, porque sempre que a gente tenta traduzir uma inovação com palavras muito exatas, corre o risco de empobrecer a ideia. E essa ideia é rica. Complexa. Talvez até um pouco desconfortável, dependendo do ponto de vista.
O nome “Gêmeo Digital” até parece coisa de ficção científica e, de fato, já foi. Mas hoje está aqui, entre nós, discretamente revolucionando o jeito como as empresas operam. Em fábricas, sim, como era de se esperar. Mas também em hospitais, bancos, governos e, principalmente, nos bastidores invisíveis dos processos de negócio.
Segundo GlobalData, o uso de gêmeo digital avança em média 35%ao ano, desde 2019. O mercado global de gêmeos digitais está em uma trajetória de crescimento exponencial, com projeção de alcançar um valor de US$ 154 bilhões (R$ 862 bilhões) até 2030.
Um outro levantamento mostra que o tamanho do mercado global de gêmeos digitais foi avaliado em US$ 12,91 bilhões em 2023 e US$ 17,73 bilhões em 2024, devendo avançar para US$ 259,32 bilhões até 2032, exibindo um CAGR de 39,8% durante o período de previsão. A América do Norte dominou o mercado global com uma participação de 34,55% em 2023.
O crescimento do mercado de gêmeos digitais é impulsionado por aplicações aprimoradas de saúde e avanços em simulação 3D e tecnologias de impressão.
Réplicas digitais que pensam com a gente (ou por nós)
Vamos direto ao ponto: um Gêmeo Digital é uma representação virtual de algo que existe no mundo físico. Pode ser um motor, um prédio, um time, um processo. O que for. Ele é alimentado em tempo real com dados, observa o comportamento do original e aprende com isso. E aí vem a parte interessante: ele não serve apenas para “copiar”, mas para simular, prever, testar alternativas, sugerir caminhos.
Pensa num jogo de xadrez em que você consegue prever as próximas jogadas do adversário com base no histórico das partidas anteriores. Agora substitua o xadrez por uma operação logística. Ou por um fluxo de atendimento. Ou por uma jornada do cliente. O tabuleiro ficou bem mais complexo, né?
A graça está justamente aí: em traduzir complexidade em clareza. Em deixar de reagir aos problemas para antecipá-los. Quem já se viu apagando incêndio todo dia sabe o valor disso.
E onde isso já está rolando?
Na indústria automotiva, por exemplo, tem Gêmeo Digital que “sente” o desgaste de peças em tempo real e avisa quando é hora de intervir, antes mesmo do problema aparecer. Na saúde, alguns hospitais conseguem prever a lotação de leitos com base em sazonalidade e dados históricos.
E sim, existe uma turbina de avião que tem seu próprio gêmeo digital voando junto com ela, avisando sobre qualquer desvio de padrão. Poético, não?

Mas o movimento mais interessante, talvez o mais sutil e promissor, não está nas engrenagens. Está nos processos. Isso mesmo: fluxos, formulários, aprovações, decisões. Toda aquela estrutura invisível que sustenta o dia a dia de uma organização. Essa é a nova fronteira.
Processos com espelho retrovisor e farol alto
Imagine poder simular o comportamento de um processo inteiro antes de colocá-lo em prática. E não estou falando de desenho em PowerPoint. Estou falando de testar impactos, prever gargalos, antecipar reações humanas, tudo com base em dados reais. É como jogar um videogame em modo “sandbox”, onde você experimenta sem correr risco.

E aí entra o casamento perfeito com outras tecnologias. RPA, IA, analytics. Cada uma alimentando e sendo alimentada por esse gêmeo, que deixa de ser uma fotografia e vira um filme em tempo real. Um organismo vivo.
Leia mais:
- “Gêmeos digitais”: conheça a nova IA que lê mentes
- Conheça 13 profissões malucas que só existem por causa da IA
- Gêmeos digitais terão grande impacto econômico e ambiental em 2025
Tem algo de filosófico nisso tudo. A gente deixa de tratar os processos como algo estático e passa a encará-los como sistemas vivos, mutáveis. E, talvez, esse seja o maior desafio: mudar a mentalidade. Porque, no fundo, a tecnologia já está pronta. Quem precisa se preparar somos nós.
Não é sobre ferramenta. É sobre visão.
Tem gente que ainda olha para o Gêmeo Digital como uma “novidade bacana”. Algo que pode ser útil “lá na frente”. Mas a verdade é que ele já está aqui, e mais do que isso: ele aponta para o tipo de empresa que queremos ser.

Uma empresa que decide com base em dados e não em achismos. Que aprende com o próprio funcionamento. Que olha o processo como ativo estratégico, e não como burocracia necessária.
É preciso coragem para dar esse salto. Porque significa admitir que talvez a forma como fazemos as coisas hoje não seja a melhor. Que dá para melhorar. Que dá para antecipar. E que estamos dispostos a construir esse cérebro virtual, não para substituir o humano, mas para ampliar o que a gente é capaz de enxergar.
E o futuro?
Talvez você lembre de quando o ERP virou obrigação. Depois, o BPM, o CRM. Agora, será que chegou a vez dos Gêmeos Digitais? Será que eles vão deixar de ser um diferencial e passar a fazer parte da infraestrutura básica, do esqueleto operacional das empresas inteligentes?

Então a pergunta não é se você vai adotar. É quando. E como. E com qual profundidade.
Porque digitalizar é importante, claro. Mas simular, prever e otimizar… isso é outro jogo. É sair da reação e entrar na orquestração.
E nesse novo jogo, será que o Gêmeo Digital vai ser apenas mais uma peça? Ou será que ele vai conduzir tudo como um maestro?
O post Gêmeo Digital: o cérebro virtual das empresas inteligentes apareceu primeiro em Olhar Digital.
Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/06/29/pro/gemeo-digital-o-cerebro-virtual-das-empresas-inteligentes/