
A última semana de junho registrou a maior liberação de emendas parlamentares de 2025 até agora, informa reportagem do portal g1. Segundo dados do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (Siop), foram liberados R$ 2,3 bilhões apenas nos últimos dias do mês. A maior parte desses recursos — 53% — foi direcionada a partidos do Centrão, grupo informal que reúne legendas de centro e centro-direita com forte influência no Congresso Nacional. Quando se consideram os valores efetivamente pagos, a proporção sobe para 59%.
Ao todo, o governo já empenhou mais de R$ 3,13 bilhões em emendas neste ano, sendo que cerca de R$ 940 milhões foram pagos até o momento. A maioria absoluta das liberações ocorreu por meio de emendas individuais impositivas, ou seja, indicações feitas por parlamentares que, por força de lei, o Executivo é obrigado a executar. Não houve empenho de recursos para emendas de comissões, mecanismo que vem sendo criticado pelo Supremo Tribunal Federal desde o ano passado.
Das 8.861 emendas registradas por deputados e senadores em 2025, 1.510 foram empenhadas, 560 liquidadas e apenas 492 efetivamente pagas. Destas, apenas três são de bancadas estaduais, somando R$ 2,2 milhões. Os R$ 938 milhões restantes referem-se a emendas individuais.
Centrão domina, mas PL lidera individualmente
O levantamento aponta que, mesmo com a predominância do Centrão no recebimento de recursos, o partido mais beneficiado individualmente foi o PL, de oposição ao governo. Com a maior bancada no Congresso Nacional, o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro foi responsável por 17,7% do total de emendas liberadas na última semana de junho, com R$ 418 milhões pagos. No acumulado do ano, o PL já recebeu R$ 520 milhões.
Em seguida aparecem MDB (11,8%), PSD (11,7%) e PT (11,5%) como os partidos mais contemplados. A distribuição, segundo analistas, reflete a tentativa do governo de consolidar apoio no Congresso em meio a votações delicadas, como a que resultou na derrubada dos decretos presidenciais sobre o IOF. Apesar da movimentação, Câmara e Senado votaram majoritariamente contra o Executivo.
No Senado Federal, a divisão também revela a força do Centrão, que concentrou 46% das emendas empenhadas. A base governista aparece com 37% e a oposição com 16%. A proporção se manteve próxima na Câmara dos Deputados: dos R$ 702 milhões pagos aos deputados, 58% foram destinados ao Centrão, 28% à base aliada e 14% à oposição.

Pagamentos consolidados favorecem União Brasil
Entre os recursos efetivamente pagos até agora, o União Brasil lidera o ranking de repasses, com R$ 130 milhões recebidos. O partido, que ocupa postos estratégicos no governo e tem à frente do Senado o senador Davi Alcolumbre (AP), ficou à frente do PSD (R$ 118 milhões) e do próprio PL (R$ 117 milhões). O PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aparece apenas na quinta posição, com R$ 99 milhões, atrás também do MDB (R$ 108 milhões).
A liberação acelerada de emendas no final do primeiro semestre é uma prática comum em anos de maior tensão política, especialmente quando o governo tenta reorganizar sua base e evitar derrotas no Congresso. No entanto, a concentração dos recursos em partidos do Centrão e na oposição levanta questionamentos sobre a real capacidade do Executivo de garantir fidelidade nas votações legislativas apenas por meio de repasses orçamentários.

Grupos em disputa
No Congresso Nacional, os partidos se dividem em três blocos principais. A base do governo reúne legendas como o PT, PSB, PCdoB, PV e PSOL, que, em geral, apoiam as propostas do Palácio do Planalto. A oposição é formada principalmente por PL e Novo. Já o Centrão — composto por PP, União Brasil, Republicanos e PSD — atua com flexibilidade, ora apoiando o governo, ora impondo derrotas, conforme as negociações políticas.
Essa configuração torna o Centrão o principal foco de articulação do Executivo. Ao mesmo tempo, partidos como o PL, mesmo na oposição, seguem sendo contemplados com volumosas fatias das emendas, devido à força de suas bancadas e à lógica distributiva das emendas impositivas individuais.
O crescimento na liberação de emendas coincide com um momento em que o governo Lula tenta recuperar apoio no Legislativo, após sucessivos embates com o Congresso. Se as cifras conseguirão traduzir-se em votos no plenário, no entanto, ainda é uma equação incerta.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/liberacao-de-emendas-dispara-no-fim-de-junho-com-mais-da-metade-dos-recursos-destinados-ao-centrao/