Inquérito das milícias digitais: STF mantém investigação sobre bolsonaristas por fatos novos

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, confirmou nesta quinta-feira (3) que o tribunal manteve a decisão de seguir com o inquérito das milícias digitais, que investiga ex-integrantes do governo Jair Bolsonaro e aliados. Segundo Barroso, a manutenção da apuração se deu pela multiplicação de novos fatos relacionados ao caso. As informações são exclusivas da Folha de São Paulo.

Em entrevista ao C-Level Entrevista, videocast semanal da Folha, Barroso explicou que, embora inicialmente tivesse sido discutido o encerramento do inquérito, novas revelações sobre o caso exigiram a prorrogação das investigações. “O problema são os fatos que se multiplicam e, portanto, levaram efetivamente à provocação [do Supremo]”, afirmou.

Tensão Política e a Trama Golpista

Além do inquérito, Barroso comentou o julgamento da tentativa de golpe que ocorreu após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022. Para o ministro, o que gera maior tensão no cenário político atual não são as investigações em andamento, mas o julgamento da trama golpista, que envolve diversos apoiadores do ex-presidente. “Se as provas confirmarem que houve tentativa de golpe, temos que julgar, pois é preciso encerrar esses ciclos da história brasileira”, declarou Barroso.

Anistia: O Debate que Virá Após a Condenação

Sobre a possibilidade de anistia para os acusados de envolvimento na tentativa de golpe, Barroso afirmou que essa discussão não deve ocorrer antes de uma eventual condenação. “Em linha de princípio, anistia é uma competência do Congresso Nacional”, disse. O ministro também destacou que, caso o Congresso aprove uma medida de anistia, o STF poderá analisá-la, mas sempre com o entendimento de que a anistia deve ocorrer após a punição, e não antes.

Excesso de Judicialização e Limitação de Acesso ao STF

Barroso também abordou a crescente judicialização no Brasil e afirmou ser “razoável” uma discussão sobre a limitação do acesso de partidos menores ao STF, para que as demandas tenham mais representatividade. A judicialização excessiva tem gerado críticas ao Judiciário, com setores da sociedade insatisfeitos com decisões que envolvem questões políticas, sociais e econômicas.

A Imagem do STF e Suas Relações com Empresários

Durante a entrevista, Barroso falou sobre a percepção pública de suas ações, especialmente sua participação em eventos com empresários. “Quando converso com os indígenas ou os quilombolas, isso não é notícia. Mas quando encontro empresários, levantam-se suspeitas”, afirmou. Ele defendeu que não há justificativa para o preconceito contra a livre iniciativa no Brasil, ressaltando a diversidade de interesses entre os próprios empresários.

Conclusão

O presidente do STF reforçou que, embora o Judiciário seja frequentemente alvo de críticas, o papel do tribunal é interpretar a Constituição, muitas vezes desagradando diversos setores. “A importância de um tribunal não pode ser medida por pesquisas de opinião pública”, concluiu Barroso, ao destacar a relevância das decisões do STF, mesmo quando contrariam interesses populares ou corporativos.