5 de julho de 2025
Bets passam a ser o segundo maior destino na internet
Compartilhe:

O SimilarWeb, que acompanha o tráfego mundial da internet, apontou que as casas de apostas, as populares bets, ultrapassaram plataformas importantes e populares no Brasil em número de acessos, se tornando o segundo destino mais acessado na internet brasileira.

Mas, apesar desse sucesso todo, essas empresas são questionadas pelo fato de que muitas pessoas que usam seus serviços viciam no jogo a ponto de perderem todas as suas economias e bens.

E, para aumentar essa onda de acesso às bets, os apps delas estão começando a crescer na Google Play Store, pois a big tech resolveu liberar tais games, inclusive os de cassino — e os do tigrinho.

Detalhes do levantamento das bets na internet

Vale ressaltar que os dados correspondem apenas às bets legalizadas no Brasil. Segundo o Comitê Gestor da Internet (CGI), são 193 ao todo. A audiência dessa categoria de site é superior, contudo, a parte que compete às casas de apostas ilegais não foi contabilizada.

Ao colunista do UOL Helton Simões Gomes, Leonardo Benites, diretor de comunicação da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), explicou o motivo desse grande boom de acessos. “Até pelos investimentos de marketing feitos hoje pela indústria, faz total sentido a quantidade de tráfego que geramos. Isso só concatena com a ideia de que é algo que o brasileiro buscava e vai continuar buscando”, pontuou.

“Tínhamos uma demanda extremamente reprimida, porque os jogos e as apostas foram banidos no Brasil de forma legal desde 1948. Eu tenho certeza que hoje o tráfego só está em segundo porque trata somente das bets reguladas. Ainda temos uma fatia significativa de mercado ilegal no Brasil, porque as ações de combate ao ilegal ainda são morosas”, prosseguiu.

2024 mostrou que as apostas esportivas online vieram para ficar (Imagem: Shutterstock)

Como tudo isso começou

  • A reviravolta das bets começou em janeiro, quando uma parcela dessas empresas passou a operar de forma regulamentada por aqui;
  • Elas foram legalizadas em 2018, mas as casas de aposta de quota fixa precisaram, a partir de 2025, seguir várias regras, como:
    • Obter licença da Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda;
    • Pagar R$ 30 milhões;
    • Seguir uma série de regras que versam sobre a movimentação do dinheiro de apostadores e identificação dessas pessoas;
    • Trocar o domínio de seu site, saindo do “.com.br” para “.bet.br”.
  • A troca de domínio facilitou o trabalho da SimilarWeb, que, normalmente, exibe visitas de cada site separadamente;
  • Segundo a companhia, a novidade aconteceu para “para garantir uma visão mais precisa do mercado”, mas diz que “essa configuração já está sendo revisada”.

O consultor e professor de estratégia de marketing da FAAP, José Sarkis Arakelian, essa comparação (compilação de portais com um único domínio e sites separados) é importante para mostrar a dimensão que as bets têm no mercado.

Em contrapartida, o especialista alera que essa comparação precisa ser analizada com cautela, já que o “duelo” é de um segmento inteiro contra players que são isolados de outras, como redes sociais e sites de notícia.

Leia mais:

  • Dá para ganhar dinheiro em apostas nas bets? O que a matemática te ensina
  • É possível apostar em bet e não se viciar? O que diz a Ciência
  • Aviator é um jogo de aposta? Descubra o que é e como funciona

Números

Logo em janeiro, primeiro mês de regulamentação, as bets chegaram à média diária de 55 milhões de acessos, contudo, o valor subiu gradativamente até chegar a 68 milhões por dia em maio, último mês computado até o momento.

Naquele mês, as casas de apostas obtiveram 2,7 bilhões de visitas, seguido por YouTube (1,3 bilhão), Globo (765 milhões), WhatsApp (759 milhões), TikTok (740 milhões). Só perde para o Google (4,9 bilhões). Além disso, o Brasil concentra 99,92% do tráfego do domínio “bet.br”, sendo o 14º mais visitado no mundo.

Dados obtidos pela coluna apontam que as visitas têm pouca variação no dia a dia. Quando há jogos de futebol decisivos, mais pessoas correm para as bets, como, por exemplo, durante a final da UEFA Champions League 2024/25, ocorrida há pouco mais de um mês, entre PSG e Inter de Milão, quando 73,8 milhões de pessoas acessaram os sites dessas plataformas.

Contudo, o recorde aconteceu em 7 de maio, dia de semifinal da competição europeia, entre PSG e Arsenal, além de confrontos de três clubes brasileiros: Bahia (contra o Nacional [URU]); Flamengo (contra o Central Córdoba); e Palmeiras (contra o Cerro Porteño). Naquela oportunidade, foram 76,7 milhões de visitas.

O colunista do UOL pediu para que o consultor em marketing digital William Porto compilasse os dados e realizasse uma análise da estratégia das bets. Com as informações fechadas em maio, temos que:

  • O tráfego direto foi o principal agente quando falamos das visitas, com 67,8%;
  • As redes sociais influenciaram bem menos: apenas 8,24%, sendo que, dentro deste segmento, o YouTube foi o que mais ajudou, com 57,4% do total;
  • Acessos vindos de sites de busca, como o Google, são a segunda maior fonte de audiência das bets, com 14,26%, sendo que a estratégia de Otimização de Motores de Busca (SEO, na sigla em inglês) se baseia nas marcas das próprias bets, levando em consideração as palavras-chave procuradas pelos apostadores para chegarem aos sites de suas casas de apostas favoritas.

Porto indica ainda que, os números, em especial os de tráfego orgânico, apontam para uma estratégia bem-sucedida de construção da marca dessas empresas.

Arakelian destrincha esse processo: após as bets terem obtido a sanção para operarem legalmente no Brasil, elas conseguiram aceitação social via patrocínios oferecidos aos principais clubes de futebol brasileiros e em programas esportivos de TV e rádio, ao passo em que passaram a patrocinar influenciadores digitais e personalidades de vários segmentos.

“A bet tem uma característica muito importante: o serviço em si é semelhante para todas as marcas. Há um jogo de futebol ou de outro esporte acontecendo e tem alguns resultados possíveis. Com isso, a empresa vai quebrando em parciais: quem vence o set, quem faz gol, quantos escanteios? E, baseado no volume apostado em cada categoria, você tem um retorno previsto sobre o seu capital. Eu acabei de descrever uma bet. Qual delas? Todas. São absolutamente iguais. Como não muda nada, a construção de marca não é conectada com o tangível, a usabilidade do serviço, mas a partir dos intangíveis: confiança, reputação e a experiência do consumidor”, disse Arakelian.

Logo do Google na fachada de uma loja
Apenas o Google está à frente das bets (Imagem: Below the Sky/Shutterstock)

Durante seus momentos de maior visibilidade, a CPI das Apostas Esportivas (CPI das Bets), conduzida pelo Senado, chamou para depor influenciadores digitais ligados ao setor, como Virgínia Fonseca e Rico Melquíades.

Em sessões com menor repercussão, a comissão ouviu representantes do setor publicitário, entre eles, Sérgio Pompilio, presidente do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar).

As estratégias de marketing utilizadas pelas casas de apostas são alvo de projeto de lei já aprovado no Senado e atualmente em análise na Câmara dos Deputados. A proposta inclui diversas restrições, como:

  • Proibição da participação de atletas, artistas, autoridades e influenciadores em campanhas publicitárias de apostas;
  • Veto a mensagens que associem apostas a sucesso pessoal, alternativa de emprego, geração de renda ou investimento;
  • Limitação do horário de veiculação de publicidade em plataformas como TV, streaming, redes sociais e provedores de internet, restrita ao período entre 19h30 e 0h; no rádio, apenas das 9h às 11h e das 17h às 19h30;
  • Proibição de peças publicitárias voltadas ao público infantojuvenil, incluindo o uso de animações, mascotes, personagens — inclusive criados por inteligência artificial (IA) — e o patrocínio em uniformes de menores de idade;
  • Obrigatoriedade de alertas sobre os prejuízos causados pelas apostas esportivas.

Segundo o professor da FAAP, essas limitações não devem prejudicar as casas de apostas legalizadas, pois elas já possuem ampla visibilidade. Tanto ele quanto Benites demonstram preocupação com o fato de que as medidas atingem apenas as plataformas regularizadas, conferindo vantagem às operadoras ilegais.

A liberação dos aplicativos de apostas na loja do Google tende a facilitar o acesso às plataformas, embora não deva alterar significativamente o tráfego na internet.

Atualmente, os usuários precisam digitar manualmente o endereço dos sites e passar por autenticação facial a cada acesso. Com os aplicativos, esses procedimentos tornam-se mais simples.

“Nada é tão poderoso quanto estar no celular de alguém. Ele é a última coisa que a gente larga antes de dormir e a primeira coisa que pega ao acordar”, completou Benites.

Cidade vista de cima, com trações conectando diferentes conexões, simulando uma rede de comunicação
Internet brasileira responde pela maioria de 99,92% do tráfego do domínio “bet.br” (Imagem: metamorworks/Shutterstock)

O post Bets passam a ser o segundo maior destino na internet do Brasil apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/07/04/internet-e-redes-sociais/bets-passam-a-ser-o-segundo-maior-destino-na-internet-do-brasil/