9 de julho de 2025
Seu smartphone é alimentado por detritos da explosão de uma
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Hoje em dia, o lítio é parte fundamental da tecnologia moderna, sendo utilizado em baterias que alimentam tudo, de smartphones a veículos elétricos. No entanto, a origem desse metal é envolta em um grande mistério – que um artigo recém-publicado na revista Astronomy & Astrophysics pode ajudar a desvendar.

Em poucas palavras:

  • Estudo sugere que o lítio presente nas baterias surgiu de explosões de estrelas;
  • Após o Big Bang, havia pouco lítio no Universo primitivo;
  • Estrelas jovens têm mais lítio, indicando uma origem posterior e desconhecida;
  • Cientistas apontam as “novas”, explosões superficiais em anãs brancas, como possíveis fontes;
  • Raios gama emitidos por um evento desse tipo observado em 2013 revelaram sinais da formação recente de lítio.
Presente nas baterias de celulares, carros elétricos e diversos dispositivos do dia a dia, o lítio é essencial na tecnologia atual. Crédito: Poravute Siriphiroon – Shutterstock

Logo após o Big Bang, o Universo tinha muito hidrogênio e hélio. O lítio também surgiu ali, mas em quantidade bem menor. Isso foi descoberto pela investigação de estrelas muito antigas, que possuem pouquíssimo lítio em sua composição.

Por outro lado, as estrelas mais jovens têm uma abundância bem maior desse metal. Mas, de onde vem todo esse lítio extra? A nova pesquisa aponta para um tipo específico de explosão estelar: as chamadas “novas”.

O que são as “novas”?

Diferentemente das supernovas, explosões poderosas que destroem totalmente uma estrela, as novas são menos intensas, permitindo que o objeto sobreviva ao evento e até repita o processo mais de uma vez. Elas ocorrem na superfície de uma anã branca – o núcleo de uma estrela como o Sol, que já chegou ao fim da sua vida útil.

Quando uma estrela semelhante ao Sol envelhece, ela se transforma em uma gigante vermelha e depois se desfaz, deixando para trás uma anã branca. Essa anã branca pode ter uma estrela companheira ao seu lado, formando um sistema binário. E é aí que começa o processo que leva à nova.

Representação artística de um sistema binário, o progenitor de uma nova clássica, onde o componente primário, uma anã branca, agrega matéria de uma companheira evoluída. Créditos: NASA/Esa L. Hustak (STScI)

A anã branca, por ser mais densa, começa a sugar matéria da vizinha. Quando acumula material suficiente, a pressão e a temperatura em sua superfície aumentam muito, até provocar uma reação nuclear e explodir em uma nova.

Os cientistas acreditam que é justamente nessas explosões que o lítio moderno é formado. Com o tempo, mais estrelas viram anãs brancas, mais novas acontecem e mais lítio é espalhado pelo espaço – sendo incorporado em novas estrelas e nos planetas que se formam ao redor delas.

Animação mostra a explosão Nova Velorum 2025, descoberta por J. Seach e A. Pearce em 25 de junho de 2025. Créditos: E. Guido e M. Rocchetto (Spaceflux)

Segredo foi descoberto na Nova V1369 Centauri 

Mas essa teoria precisava de provas. Em 2013, uma nova chamada V1369 Centauri foi observada no céu do hemisfério sul. Ela foi monitorada por vários telescópios, incluindo o satélite INTEGRAL (sigla para Laboratório Internacional de Astrofísica de Raios Gama), da Agência Espacial Europeia (ESA).

A ideia era simples: se o lítio é realmente criado numa nova, ele deve surgir a partir da transformação de outro elemento, o berílio-7. Esse processo libera uma radiação específica, com uma energia de 478 keV. O problema era que, na época, os astrônomos acreditavam que a nova V1369 Centauri estava longe demais para essa radiação ser detectada.

De acordo com um comunicado, isso mudou com a chegada de outro satélite europeu, o Gaia, que calcula distâncias de estrelas com precisão. Usando os dados dessa espaçonave, e equipe de cientistas liderada pelo astrônomo Luca Izzo, do Instituto Nacional de Astrofísica da Itália (INAF), descobriu que a nova estava a cerca de 3.200 anos-luz da Terra, mais perto do que se pensava há 12 anos.

Com essa nova distância, os pesquisadores voltaram aos dados antigos do INTEGRAL e, para surpresa geral, encontraram o sinal de 478 keV. Isso indicava que o berílio-7 realmente havia se transformado em lítio-7 durante a nova.

Data center.
Data center tecnológico equipado com baterias de lítio: energia mais eficiente e sustentável em ação. Crédito: Gorodenkoff -Shutterstock

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Explosão de estrela mais próxima pode confirmar origem do lítio

A quantidade estimada de lítio formada foi equivalente a cerca de 100 milionésimos da massa do Sol, o que bate com previsões anteriores, feitas a partir de observações com luz visível.

Apesar de animadora, a descoberta ainda não é considerada definitiva. O sinal de radiação detectado é fraco, e sua confiabilidade é de 2,5 sigma. Isso significa que há 2% de chance de ser um erro. A ciência costuma aceitar resultados a partir de 5 sigma, com menos de 0,0001% de chance de erro.

Mesmo assim, os cientistas estão otimistas. Para Massimo della Valle, membro da equipe de Izzo no INA, a coincidência entre o sinal e a nova observada é forte demais para ser descartada. O time acredita que, na próxima vez que uma nova ocorrer perto o suficiente, será possível confirmar de vez que é ali que nasce o lítio que usamos hoje.

Ou seja: as baterias do seu celular, dos carros elétricos e de tantos outros aparelhos modernos podem estar cheias de “poeira estelar”.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/07/08/ciencia-e-espaco/seu-smartphone-e-alimentado-por-detritos-da-explosao-de-uma-estrela/