O aumento de 50% nas tarifas sobre produtos importados do Brasil, imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, gerou um desgaste político para o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu grupo político. A decisão de Trump, anunciada na quarta-feira (9), foi interpretada como uma medida em defesa de Bolsonaro, sendo que o próprio ex-presidente foi diretamente citado na carta que acompanha a sobretaxa.
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, aliados de Bolsonaro reconhecem — embora reservadamente — que a decisão gera um desgaste político, mas buscam, por ora, blindar o ex-presidente de responsabilidades pela medida. A avaliação é que, por enquanto, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem conseguido posicionar a decisão como uma violação da soberania nacional, o que enfraquece a narrativa bolsonarista. Entretanto, a indefinição sobre os impactos econômicos e políticos da tarifa não impediu que figuras do PL (partido de Bolsonaro) começassem a se mobilizar para desvincular o ex-presidente da crise.
O próprio Bolsonaro não fez comentários diretos sobre o aumento das tarifas. Em suas redes sociais, ele se absteve de abordar o assunto e, ao invés disso, repetiu seu discurso de perseguição por parte da Justiça brasileira, algo amplificado por Trump em sua carta. O ex-presidente também compartilhou um provérbio: “Quando os justos governam, o povo se alegra. Mas quando os perversos estão no poder, o povo geme”, publicou.
Ainda na quarta-feira, o debate político se acirrou com a esquerda criticando a postura dos bolsonaristas, os chamando de “vira-latas” e acusando-os de subserviência aos EUA. A fala de Lula sobre a necessidade de uma nova moeda de comércio internacional, defendendo a desdolarização, gerou um contraponto, com bolsonaristas tentando associar a tarifa de Trump às declarações do presidente durante a cúpula dos Brics, realizada no Rio.
A estratégia bolsonarista: “A culpa é do Lula”
Nos bastidores, uma estratégia começou a ser desenhada para atribuir a culpa pela tarifa ao governo Lula. A argumentação bolsonarista gira em torno da falta de uma relação diplomática eficaz com os Estados Unidos durante o governo petista. Integrantes do PL e aliados de Bolsonaro buscaram distanciar o ex-presidente de qualquer responsabilidade sobre a medida, com o foco em responsabilizar o atual presidente.
“O governo Lula, aliado à China, à Rússia, à Venezuela, a Cuba e ao próprio Irã, vai sofrer represálias no campo diplomático”, afirmou o deputado Sanderson (PL-RS). Para ele, a falta de habilidade e respeito do governo petista com seus adversários políticos teria levado a esse tipo de represália. Filipe Barros (PL-PR), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, foi ainda mais enfático ao afirmar que “a culpa é exclusivamente do presidente Lula”, citando ainda a questão da censura e o alinhamento do Brasil com os chamados “países do eixo do mal”.
No Senado, Hamilton Mourão (Republicanos-RS) criticou a diplomacia do governo Lula, atribuindo a tarifa de Trump aos “sucessivos fiascos de uma diplomacia inoculada de ideologias ultrapassadas”. Para Mourão, a abordagem ideológica adotada pelo governo petista teve um impacto negativo nas relações exteriores do Brasil.
O ex-ministro de Bolsonaro e deputado federal Osmar Terra (PL-RS) também endossou a ideia de que a economia brasileira está em crise devido à gestão do atual governo. Em sua visão, o pior cenário econômico será responsabilidade do governo Lula, e não do tarifaço de Trump.
A crítica da esquerda e a reação nas redes sociais
Enquanto isso, nas redes sociais, o governo Lula e seus aliados reagiram à postura bolsonarista. O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) fez uma comparação irônica entre os bonés usados por Bolsonaro e Lula, associando a tarifa de Trump à “taxa Bolsonaro”. A ministra Gleisi Hoffmann (PT), da Secretaria de Relações Institucionais, também reforçou o discurso de que a medida de Trump era uma consequência direta do alinhamento de Bolsonaro aos Estados Unidos.
“O projeto de Lula é taxar os super ricos, o de Bolsonaro é taxar o Brasil!”, escreveu Gleisi, associando o aumento da tarifa ao comportamento de subserviência de Bolsonaro em relação aos Estados Unidos. Para a ministra, as ações de Bolsonaro e sua família ajudaram a criar o cenário para que Trump tomasse essa decisão, prejudicando economicamente o país.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/bolsonaristas-tentam-blindar-ex-presidente-apos-trump-sobretaxar-produtos-brasileiros-e-culpam-lula/
