
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reagiu com veemência à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Em declaração ao programa Barão Entrevista nesta quinta-feira (10), Haddad classificou a medida como uma “decisão eminentemente política”, sem qualquer “racionalidade econômica”. Segundo o ministro, o Brasil, nos últimos 15 anos, acumula um déficit de bens e serviços superior a R$ 400 bilhões em relação aos EUA, o que, para ele, desqualifica a alegação de Trump de que a medida seria justificada economicamente.
“Eu acredito que essa decisão é uma decisão eminentemente política, porque ela não parte de nenhuma racionalidade econômica. Não há racionalidade econômica no que foi feito ontem [quarta], uma vez que os Estados Unidos, como todos sabem, ele é super arbitrário com relação à América do Sul como um todo, e ao Brasil também”, disse Haddad.
O ministro não poupou críticas à família do ex-presidente Jair Bolsonaro, apontando que a postura do clã bolsonarista contribuiu diretamente para a decisão de Trump. “O próprio Eduardo Bolsonaro disse a público que se não vier o perdão, as coisas tendem a piorar. Isso ele disse publicamente, fazendo todos nós acreditarmos, porque não há outra explicação, de que esse golpe contra o Brasil, contra a soberania nacional, foi medido de forças dentro do país. Até a extrema direita vai ter que reconhecer, mais cedo ou mais tarde, que deu um tiro no pé”, afirmou Haddad.
Críticas a Tarcísio de Freitas e a postura diplomática
O ministro também foi enfático ao criticar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmando que ele cometeu um erro ao apoiar a medida de Trump. “Sobre o governador, o governador errou muito. Porque ou bem uma pessoa é candidata à presidente, ou é candidata a vassalo. E não há espaço no Brasil para vassalagem, desde 1822 isso acabou. O que está se pretendendo aqui? Ajoelhar diante de uma agressão unilateral sem nenhum fundamento econômico”, declarou Haddad.
As críticas de Haddad refletem a crescente polarização interna no Brasil sobre a postura a ser adotada em relação aos Estados Unidos, especialmente no contexto da política externa. Para o ministro, não há espaço para subordinação aos interesses de nações estrangeiras, e o Brasil deve atuar com soberania e independência nas suas relações internacionais.
Reações à tarifa de 50% e a Lei da Reciprocidade Econômica
A tarifa de 50%, a mais alta entre as taxas anunciadas por Trump, foi publicada em uma carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e entrou em vigor a partir de 1º de agosto. A medida gerou críticas do governo brasileiro, que, por meio da Lei da Reciprocidade Econômica, prevê uma resposta similar às tarifas impostas pelos Estados Unidos. Essa lei foi criada pelo Congresso Nacional como uma forma de reação a medidas que prejudicam as exportações brasileiras, como as tarifas extras aplicadas por Trump a diversos países.
O presidente Lula também se manifestou, afirmando que o Brasil não aceitará ser tutelado por ninguém. “A elevação unilateral de tarifas sobre exportações brasileiras será respondida com base na Lei da Reciprocidade Econômica”, declarou o presidente, reforçando a postura do país em defender seus interesses comerciais e sua soberania.
Tarifas globais de Trump e impacto nas relações comerciais
O presidente Donald Trump anunciou, ainda, uma série de outras tarifas que serão aplicadas a diversos países a partir de 1º de agosto, com taxas variando entre 20% e 50%, dependendo da nação. O Brasil foi o país com a tarifa mais alta, uma medida que está sendo amplamente criticada no cenário internacional, principalmente por afetar diretamente o setor siderúrgico brasileiro, já que produtos como aço e alumínio já enfrentam tarifas de 50%.
No total, 14 países receberam notificações da nova política comercial de Trump. Além da tarifa de 50% para o Brasil, a menor tarifa foi estabelecida para as Filipinas, com 20%. A medida segue a linha de ações protecionistas do governo dos EUA, que tem adotado uma postura mais agressiva em relação ao comércio internacional.
O futuro das relações Brasil-EUA
A decisão de Trump sobre as tarifas levanta questões sobre o futuro das relações comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos. O governo de Lula está trabalhando para encontrar soluções que possam mitigar os efeitos negativos dessa medida, enquanto busca reforçar sua soberania econômica e política no cenário global. A utilização da Lei da Reciprocidade Econômica será uma das principais ferramentas do Brasil para responder ao aumento das tarifas e proteger seus interesses no comércio internacional.
As repercussões dessa medida podem afetar as relações políticas e comerciais entre os dois países, e o Brasil se prepara para um cenário de negociações tensas. O desafio será equilibrar os interesses internos com as exigências externas, buscando garantir um caminho que preserve a autonomia nacional e fortaleça os laços econômicos com outros parceiros internacionais.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/haddad-diz-que-tarifa-de-trump-e-decisao-politica-nao-ha-racionalidade-economica/