
O ator Paulo Betti está de volta a São Luís, desta vez com o monólogo “Autobiografia Autorizada”, em cartaz neste final de semana (sábado e domingo), no Teatro Arthur Azevedo. Betti esteve no final do ano passado na capital e em outras cidades do Maranhão, com o espetáculo “Os Mambembes”, ao lado de Júlia Lemmertz, Leandro Santana, Orã Figueiredo, Cláudia Abreu e Déborah Evelyn. Desta vez, Betti chega interpretando a própria história. No palco, durante 1h e 15 minutos, o ator conta sua própria trajetória de vida, algo que tem emocionado plateias de todo o Brasil, e alguns países, por uma década.
As apresentações em São Luís encerram uma temporada que passou nas sete unidades da CAIXA Cultural espalhadas pelo Brasil. O espetáculo será apresentado nos dias 12 e 13 de julho, às 20h e 19h, respectivamente, com patrocínio da CAIXA e do Governo Federal.
Em entrevista exclusiva a O Imparcial, Paulo Betti falou sobre o espetáculo, sobre em que contexto surgiu a necessidade de montar o monólogo, sobre a vida, sobre o cenário do teatro no Brasil, dentre outros assuntos, em um bate-papo em que se revelou ainda um interessado pelas coisas das cidades por onde passa.
O aclamado monólogo “Autobiografia Autorizada”, com texto e atuação de Paulo Betti pode ser definido como uma viagem íntima e envolvente ao levar para o palco a saga de um menino nascido em Rafard, interior de São Paulo. O texto reúne memórias acumuladas em seus diários de adolescência (1980‑1992) e em crônicas escritas para um jornal de Sorocaba, sua cidade natal, por quase 30 anos.
Na peça, que estreou em 2015, Betti apresenta vários personagens de sua vida, incluindo seu pai, mãe e avó, proporcionando ao público uma experiência divertida e emocionante, por cerca de 90 minutos de duração, alternando cenas de humor (50 %), drama (25 %) e poesia (25 %).
Além das apresentações, o ator oferecerá também um Workshop de interpretação para teatro e TV, no dia 12 de julho (sábado), a partir das 14h30, para artistas e aspirantes às artes cênicas. O objetivo é proporcionar contato com a interpretação, oferecendo técnicas, ritmo e os tipos de dramaturgia característicos dessas modalidades.
“O workshop é muito interessante porque é um contato corpo a corpo com as pessoas interessadas em arte, teatro, cinema, em cultura em geral. E sempre é muito prazeroso e positivo esse encontro. Eu me entrego tanto que eu não sei se eu gosto mais de fazer a peça, ou de fazer esses encontros”, disse o ator aos risos.
Serviço
O quê: Monólogo Autobiografia Autorizada
Quando: 12 e 13 de julho (Sábado, às 20h; Domingo, às 19h)
Onde: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol s/n, Centro, São Luís)
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) – na bilheteria do teatro ou site Bilheteria Digital
Informações: (98) 2016-4368
Entrevista com Paulo Betti
O Imparcial – Paulo, dez anos de espetáculo na estrada. Qual o desafio pra manter um trabalho desse por tanto tempo?
Paulo Betti – O que faz com que a gente se esforce para mantê-lo em cena, é a relevância, o conteúdo. As pessoas gostam muito e apreciam muito valorizar as suas histórias pessoais, então, há uma identificação muito grande do publico com a peça. Isso que mantem ela em cartaz. Em todo lugar que eu vou com ela o pulico aumenta de uma sessão para outa. Isso é uma constatação. O público embarca na peça. É uma peça que valorizando a minha ancestralidade, valoriza a ancestralidade de todo mundo. Você cuidar da sua história pessoal, falar dos seus avós, dos seus irmãos, dos seus pais, falar do contexto em que você foi criado, o lugar onde você nasceu, quem eram as pessoas… o público se identifica com a peça.
Todos os obstáculos vão sendo vencidos pela necessidade de as pessoas ouvirem essas histórias. Aos 72 anos eu complemento as peças, nas visitas às cidades, com uma espécie de conversa, curso, bate papo, interação com os jovens, com os interessados. Eu não só apresento a peça e vou embora, eu converso com o público.
OIMP – Nessa década o espetáculo foi se moldando, de alguma forma?
PB – Por mais que ele seja um monólogo, escrito, estruturado, não é improvisado, tem projeções, música, cenário, tem uma composição, ao mesmo tempo ele vai se adaptando. Ele começou muito longo quando estreou, depois foi mudando. Eu mudei histórias, botei outros conteúdos, quer dizer, sempre vai se alterando. Na pandemia eu fiz de casa, mais curto. Quando estreou tinha duas horas, hoje, uma hora e quinze, porque as pessoas querem mais interação. É difícil cortar uma obra autobiográfica, porque a gente corta na própria carne, mas ela se mantém livre.
OIMP – Por falar em se mantém, encerra-se essa temporada com a Caixa, mas ele continua…
PB – Sim. Em São Paulo temos mais de 15 espetáculos. Eu acho que eu tenho condições nessa altura da minha vida de contar minha história, e de achar que essa história pessoal se conecta com muita gente, e de estimular e de dar conselhos, então eu tô na estrada para encontrar as pessoas, para fazer aliança, passar conhecimento, aprender, saber como está o movimento de teatro em São Luís, saber o que as pessoas estão fazendo, eu tenho muito esse espírito de ir para a estrada.
OIMP – E nessa busca, como você acha que está o cenário do teatro no Brasil?
PB – Está muito forte. O Brasil passa por uma fase de reconstrução. Nós fomos acusados de sermos mamadores da Lei, de vivermos às custas do governo. Nós fomos perseguidos, a atividade artística, a cultura em geral foi perseguida, mas não existe país, nação, identidade, sem cultura, sem arte. A vida é o quê? trabalho, trabalho? A vida tem que ser também diversão, tem que ser entendimento da beleza, da poesia, do humor, é onde você se apega. Pelo que tenho visto, quanto mais somos atacados, mais nos fortalecemos. Minha peça não tem um conteúdo político direto. Eu não falo sobre as situações políticas atuais, mas o próprio ato de eu me debruçar em cima de uma família onde o personagem principal é uma empregada doméstica, minha mãe. Esse ato é político. É uma peça de teatro que glorifica, que exalta, que valoriza uma classe baixa, os pobres, eu venho de uma mãe analfabeta, empregada doméstica e não falo de meritocracia, a minha peça exalta o ensino púbico, eu só existo porque havia uma escola pública forte com a possibilidade de uma creche, com a possibilidade de um lugar onde eu passava o dia inteiro, comendo lá. Quinze filhos minha mãe teve, sete sobreviveram. Eu fui o sétimo.
OIMP – Pra contar a sua história você teve que se podar de alguma passagem?
PB – Eu nasci 10 anos depois do último filho da minha mãe. São algumas circunstâncias extraordinárias que fizeram com que eu achasse que era importante contar a minha história, porque você para fazer uma autobiografia você tem que passar por cima de um pudor. Eu nasci num espaço físico de uma senzala, onde os imigrantes italianos vinham e ficavam. É claro que o meu lugar de fala não é de alguém que foi escravizado, porque nós éramos descendentes de italianos, mas eu fui criado num quilombo. Até os 20 anos eu vivi num quilombo, então, eu pude observar com muita clareza as vantagens que eu tinha por estar numa escola pública, o que os meus amigos negros não tiveram.
A sua história, se você se debruçar sore ela, vai ser interessante também. Eu ando por aí dizendo para os jovens: “tomem nota. Um dia essas anotações serão preciosas”. Eu fui ver as minhas anotações de uma vida inteira, eu escrevi durante 25 anos para uma coluna de um jornal de Sorocaba, e eu não me dava conta que era escritor.
OIMP – Depois da última novela, “Amor Perfeito”, tem previsão de voltar à TV?
PB – Nenhuma previsão no momento. Eu fiz três filmes recentemente, um deles, “Dr Pitico”, com o grande diretor Júlio Bressani; eu fiz também em Brasília um filme com a Letícia Sabatella, chamado “Sistemático”; e está estreando agora na Itália o filme “Loucos Amores Líquidos”, uma coprodução italiana e brasileira. E eu estou muito realizado.
OIM – São 50 anos de carreira, chega a ter alguma preferência por TV, teatro ou cinema?
PB – Eu gosto de fazer os três. Não digo que eu tenho predileção por alguns deles. Eu digo que a base de tudo é o teatro. É o lugar onde o ator está mais inteiro, onde ele é mais exigido, onde não existe nenhuma barreira entre o público e ele, onde ele se mostra por completo. O teatro é o lugar. Então, eu me desminto aqui, eu tenho predileção sim pelo teatro. A televisão também é muito boa de se trabalhar e é onde ganhamos nosso sustento, e o cinema também me dá muito prazer.
OIMP – Por fim, convide o público a te ver no teatro.
PB – Eu quero falar que quem for assistir à peça vai se divertir, vai dar boas risadas, vai se emocionar, vai curtir, a peça porque tem muita música, tem cenário, figurino, projeções… a peça é predominante comédia, em alguns momentos de drama e de poesia.
Vou ficar muito feliz com a presença de todos. Estou muito honrado de trabalhar no Teatro Arthur Azevedo, eu acabei de fazer uma peça do Arthur Azevedo recentemente em São Luís, numa praça pública que foi “Os Mambembes”, e depois em outras cidades do estado. Eu tenho ótimas impressões de São Luís. Queria agradecer a ajuda do Felix Alberto (jornalista maranhense) que nos ajudou a levar a peça para São Luís, queria dizer que comigo também vai a Dadá Coelho (que é atriz, comediante e jornalista, esposa de Paulo Betti), uma apaixonada por São Luís, e depois eu irei com ela para os Lençóis Maranhenses.
Fonte: https://oimparcial.com.br/entretenimento-e-cultura/2025/07/eu-estou-na-estrada-para-encontrar-as-pessoas-diz-paulo-betti/