
A Procuradoria-Geral da República (PGR) identificou o uso da palavra “churrasco” como codinome para se referir ao plano golpista em mensagens trocadas entre manifestantes e figuras centrais da articulação, como o tenente-coronel Mauro Cid e o general da reserva Mário Fernandes. A descoberta integra o parecer final da PGR entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (14), em que o órgão também solicita a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros oito investigados por envolvimento direto na trama que culminou nas ações golpistas após as eleições de 2022.
De acordo com o procurador-geral da República, Paulo Gonet, o termo era usado para driblar investigações e se referia à deflagração do próprio golpe de Estado. Em um dos trechos citados no documento, um dos participantes das conversas, identificado como Aparecido Andrade Portela, pressiona Cid sobre a execução do plano: “O pessoal que colaborou com a carne está me cobrando se vai ser feito mesmo o churrasco. Pois estão colocando em dúvida a minha solicitação”. Em resposta, o tenente-coronel disse que o tema era um “ponto de honra” e que se prontificaria a conversar com os descontentes.
A mesma expressão cifrada foi usada por outro manifestante, Rodrigo Yassuo, que se comunicava com o general Mário Fernandes. Em 10 de dezembro de 2022, ele informou que participaria de uma manifestação na Esplanada dos Ministérios e mencionou a necessidade de conversar sobre “aquele churrasco”. Após a tentativa de invasão da sede da Polícia Federal em Brasília, em 13 de dezembro, Yassuo voltou a escrever ao general, questionando se havia uma agenda definida e se Fernandes estava acompanhando os desdobramentos. “Peço uma orientação, por favor, Brasil”, escreveu.
A manifestação da PGR recapitula os principais elementos da denúncia apresentada em fevereiro e reforça a posição de que Bolsonaro foi o principal articulador da tentativa de golpe. Para o procurador-geral, “as evidências são claras: o réu agiu de forma sistemática, ao longo de seu mandato e após sua derrota nas urnas, para incitar a insurreição e a desestabilização do Estado Democrático de Direito”.
Gonet argumenta que o ex-presidente “não se limitou a uma postura passiva de resistência à derrota, mas configurou uma articulação consciente para gerar um ambiente propício à violência e ao golpe”. Segundo ele, Bolsonaro utilizou a máquina pública, recursos do Estado e a própria estrutura de governo para promover ataques às instituições e alimentar a radicalização política.
“As evidências revelam que o ex-presidente foi o principal coordenador da disseminação de notícias falsas e ataques às instituições, utilizando a estrutura do governo para promover a subversão da ordem”, afirma o texto. “Portanto, cabe a responsabilização do réu pelos crimes descritos na denúncia”, conclui o procurador-geral.
O relatório final agora será analisado pelos ministros do Supremo Tribunal Federal, que deverão decidir se acolhem ou não o pedido de condenação dos réus. O parecer também consolida os indícios já reunidos nas investigações da Polícia Federal e reforça a gravidade do plano golpista que teve como alvos principais as instituições democráticas e a ordem constitucional brasileira.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/aliados-de-bolsonaro-usavam-o-codinome-churrasco-para-disfarcar-plano-golpista-diz-pgr/