O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), manteve em seu gabinete três funcionárias com rotinas incompatíveis com a jornada exigida de um cargo comissionado no Legislativo. Segundo investigação da Folha de S.Paulo, as mulheres – uma fisioterapeuta, uma estudante de medicina e uma assistente social da prefeitura de João Pessoa – recebiam salários públicos mesmo atuando em atividades paralelas que as impediam de cumprir a carga de 40 horas semanais exigida pelo cargo de secretário parlamentar.
A revelação levou à demissão de duas das três funcionárias, Gabriela Pagidis e Monique Magno, determinada por Motta apenas após a imprensa questionar oficialmente o caso em 8 de julho. A assessoria do deputado confirmou a exoneração somente nesta terça-feira (15), mas os desligamentos ainda não foram publicados no boletim oficial da Câmara.
De acordo com os dados obtidos pela reportagem por meio de cruzamento de registros públicos, documentos oficiais e acompanhamento da rotina das funcionárias, as três somaram, apenas em 2025, um custo de R$ 112 mil aos cofres públicos, incluindo salários, auxílios e gratificações.
Rotinas incompatíveis e vínculos paralelos
Gabriela Pagidis, fisioterapeuta formada pela Universidade de Brasília (UnB), atende pacientes em duas clínicas do Distrito Federal durante o horário comercial. Segundo a apuração da Folha, nas manhãs livres de terça e quinta-feira, ela frequenta academia, o que contradiz uma rotina compatível com o serviço na Câmara. Gabriela é filha da antiga chefe de gabinete de Motta e ingressou no cargo em 2017.
Louise Lacerda, estudante de medicina e filha de um ex-vereador aliado de Motta, também figurava na folha de pagamento do gabinete desde 2018, mesmo estudando em período integral em João Pessoa (PB), a mais de 2.000 km do Congresso. Ela se recusou a responder aos questionamentos e bloqueou a equipe de reportagem após ser procurada.
Já Monique Magno, servidora da Prefeitura de João Pessoa, aparece em folha de ponto com expediente fixo das 8h às 14h. Mesmo que não houvesse vedação formal, ela teria de trabalhar 14 horas por dia para cumprir as duas jornadas integrais. Monique ainda alegou, em processo judicial, viver apenas com o salário da prefeitura para pleitear Justiça gratuita, omitindo o vínculo com a Câmara.
Outros vínculos e nepotismo cruzado
Além das três funcionárias investigadas, Motta emprega em seu gabinete Maria do Carmo Brito, ex-sogra de seu pai, o prefeito de Patos (PB), Nabor Wanderley. A servidora, que também recebe aposentadoria estadual, alegou em ação judicial não ter vínculo empregatício algum. Ela ocupa cargo no gabinete desde 2020.
O que diz o deputado
A assessoria de Hugo Motta afirmou que o deputado “preza pelo cumprimento rigoroso das obrigações dos funcionários de seu gabinete, inclusive os que atuam remotamente”, e alegou que todos os atos estão dentro das normas da Câmara. Entretanto, o gabinete se recusou a apresentar registros de ponto ou informações sobre as atribuições das funcionárias, mesmo após repetidos pedidos da reportagem.
Hugo Motta está na Câmara desde 2011 e, em 2025, tornou-se presidente da Casa com apoio de ampla base política. A série de nomeações investigadas remonta ao período anterior à sua ascensão ao cargo máximo do Legislativo.
A Prefeitura de João Pessoa informou que não foi notificada por Monique Magno sobre qualquer outro vínculo público, como exige a legislação, e que toda a documentação exigida na contratação foi apresentada de forma regular.
A reportagem da Folha tentou contato direto com todas as servidoras citadas, mas não obteve respostas consistentes. Gabriela Pagidis chegou a alegar que cuidava da agenda do deputado, mas encerrou a ligação quando questionada sobre seus horários de trabalho. Dias depois, voltou a postar em redes sociais imagens em academia e passeios.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/hugo-motta-emprega-funcionarias-fantasmas-e-demite-duas-apos-denuncia-da-imprensa/
