18 de julho de 2025
Maranhão lidera lista de mais municípios com fraudes na saúde
Compartilhe:

Auditorias conduzidas pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS (DenaSUS), órgão ligado ao Ministério da Saúde, revelam uma série de irregularidades na aplicação de emendas parlamentares destinadas à saúde, com potencial de ter causado um prejuízo de mais de R$ 140 milhões aos cofres públicos.

O Maranhão se destaca negativamente nesse cenário: 23 das 51 auditorias realizadas até agora se referem a municípios maranhenses, responsáveis por cerca de R$ 120 milhões do total cobrado. 

Os dados colocam o estado no epicentro de um escândalo que envolve a manipulação de registros de atendimentos do Sistema Único de Saúde (SUS), uso indevido de credenciais de acesso ao sistema e suspeitas de favorecimento de empresas ligadas a políticos influentes.

O caso mais emblemático é o de Vitorino Freire, cidade com aproximadamente 30 mil habitantes que declarou, em 2021, mais de 800 mil consultas médicas — número que levantou suspeitas imediatas dos auditores. A prefeitura deverá restituir R$ 13,4 milhões, sendo este o maior valor individual cobrado até o momento. 

A gestão local argumenta que o volume expressivo de atendimentos ocorreu durante a pandemia da Covid-19 e atribui a responsabilidade a falhas operacionais de uma empresa terceirizada contratada para gerenciar o sistema. 

No entanto, as justificativas não afastam a gravidade do caso, que envolve ainda a terceirização irregular de senhas de acesso ao sistema do SUS, prática que compromete a segurança das informações públicas e o controle sobre os dados inseridos.

Outro município sob forte escrutínio é Paulo Ramos (MA), alvo de uma cobrança de R$ 10,3 milhões. A auditoria identificou repasses significativos à empresa Center Med, que aparece também em investigações da Polícia Federal e tem ligação com emendas destinadas pelo deputado federal Cleber Verde (MDB-MA). 

O parlamentar, que nega qualquer envolvimento irregular, afirmou que os recursos foram aplicados com o objetivo de ampliar os serviços de saúde no município.

PF investiga rede de desvio de recursos

Vitorino Freire, com aproximadamente 30 mil habitantes que declarou, em 2021, mais de 800 mil consultas médicas (Foto: Reprodução)

As investigações revelam um padrão preocupante: a existência de uma possível rede de desvio de recursos por meio da manipulação de dados do SUS, com envolvimento de gestores locais, empresas privadas e operadores técnicos.

O nome de Roberto Rodrigues Lima, que já havia sido investigado pela Polícia Federal em 2022, volta a aparecer nos relatórios como um dos responsáveis por acessar o sistema com senhas indevidamente compartilhadas.

Em todo o país, as auditorias se concentram no período entre 2019 e 2022, período em que houve um crescimento acentuado no uso de emendas parlamentares — instrumento legítimo, mas que, na prática, vem sendo utilizado em muitos casos sem os devidos critérios técnicos e com baixo grau de fiscalização. São Paulo, por exemplo, aparece com cinco municípios citados nas investigações, totalizando R$ 1,8 milhão em cobranças. Em nível nacional, o governo já conseguiu reaver R$ 12,1 milhões.

Apesar de algumas prefeituras negarem as irregularidades e afirmarem que aprimoraram seus sistemas de registro, a extensão dos valores cobrados e a reincidência de práticas questionáveis apontam para um problema estrutural no modelo de repasse e controle dos recursos públicos via SUS.

Em Vitorino Freire, a administração local reconheceu parte dos erros e já firmou um acordo com o Ministério Público Federal para devolver R$ 4,6 milhões. Outras prefeituras, como Lago dos Rodrigues, alegam desconhecimento formal das acusações ou jogam a responsabilidade para gestões anteriores.

Com novas fases da investigação em curso, o Ministério da Saúde e a Controladoria-Geral da União (CGU) devem aprofundar as apurações e buscar responsabilizar os envolvidos. A expectativa é que o caso sirva de alerta para a urgente revisão dos mecanismos de controle de emendas parlamentares e a reestruturação da fiscalização sobre os dados do SUS, sob pena de o sistema seguir vulnerável à captura por interesses alheios ao bem público.

Análise da notícia

A notícia expõe um grave problema estrutural na gestão de recursos públicos destinados à saúde, revelando como brechas no controle de emendas parlamentares podem abrir espaço para fraudes sistemáticas. O fato de o Maranhão concentrar quase 90% do valor cobrado pelo governo federal e liderar em número de investigações aponta para uma possível articulação local que se beneficiou do aumento dos repasses durante a pandemia. A manipulação de dados do SUS, uso indevido de sistemas e o envolvimento de empresas e políticos indicam não apenas má gestão, mas possíveis esquemas de corrupção. A situação compromete não só os cofres públicos, mas também o acesso da população a serviços essenciais de saúde, principalmente em municípios de baixa renda. Trata-se de um alerta para a necessidade urgente de transparência, fiscalização e responsabilização de gestores e parlamentares.

Quer receber as notícias da sua cidade, do Maranhão, Brasil e Mundo na palma da sua mão? Clique AQUI para acessar o Grupo de Notícias do O Imparcial e fique por dentro de tudo!

Siga nossas redes, comente e compartilhe nossos conteúdos:

Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/07/maranhao-lidera-lista-de-mais-municipios-com-fraudes-na-saude/