22 de julho de 2025
Quais são os principais inimigos dos escorpiões na natureza?
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Apesar de serem criaturas resilientes e adaptáveis, os escorpiões enfrentam predadores na natureza que desempenham um papel de inimigos cruciais no controle de suas populações. Compreender esses algozes é fundamental para apreciar o equilíbrio ecológico e, em certas situações, para auxiliar na diminuição da ocorrência desses aracnídeos peçonhentos em áreas urbanas.

No Brasil, diversas espécies, como o escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) e o escorpião-marrom (Tityus bahiensis), servem de alimento para uma variedade de animais, que vão desde anfíbios até aves e outros artrópodes. 

A natureza mantém um equilíbrio delicado, e até mesmo escorpiões perigosos possuem predadores que controlam suas populações. De sapos a aves e mamíferos, esses animais são cruciais para o ecossistema.

Em cidades, onde escorpiões podem ser um problema, proteger predadores como sapos e corujas é uma tática de controle natural. Contudo, é essencial prevenir: evite lixo e entulho, que servem de abrigo para escorpiões e suas presas.

Posso citar o exemplo da cidade de São Paulo. Por aqui os escorpiões estão fazendo a festa e nos preocupando muito. E de quem é a culpa? Um monte de fatores que parecem conspirar contra nós. A cidade crescendo sem planejamento, com entulho e lixo por todo canto, vira um paraíso para eles.

E cadê os gambás, lagartos e sapos que poderiam dar um jeito nisso? Sumiram! Pra piorar, o escorpião-amarelo se reproduz sozinho e ainda tem um banquete de baratas à disposição.

O resultado é que nos últimos dez anos, o número de picadas simplesmente explodiu, mais que dobrou. Em 2022, o Estado de São Paulo registrou 42.757 acidentes com escorpiões, sendo o maior notificador do país, segundo o Ministério da Saúde. Esse número representa um aumento em comparação com anos anteriores, com destaque para um aumento de 22% em relação a 2021. 

Escorpião-marrom, também conhecido como escorpião-negro, dentro de um tênis. A espécie Tityus bahiensis é encontrada do leste e centro do Brasil (Imagem: RHJPhtotos / Shutterstock)

Em 2023, houve 200 mil acidentes com escorpiões em todo o Brasil, conforme o Ministério da Saúde. O Sudeste liderou em número de casos, com 93.369 registros. Apenas em São Paulo, foram 48.655 notificações, o que representa 24% do total nacional e um crescimento de 15% em relação ao número do ano anterior.

Se sua área tem muitos escorpiões, a presença desses predadores pode ser uma ajuda invisível. Abaixo, apresentamos os principais predadores naturais dos escorpiões, com foco naqueles presentes em nosso país, incluindo em regiões rurais e periurbanas.

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7 predadores naturais dos escorpiões

Sapo-cururu (Rhinella icterica)

Imagem mostra um sapo-cururu, espécie é um dos predadores inimigos dos escorpiões na natureza
Estudos científicos demonstraram que o sapo-cururu se alimenta de escorpiões e é imune ao seu veneno (Imagem: Guilherme Sementili / Shutterstock)

O sapo-cururu, também conhecido como sapo-boi, é um dos maiores anfíbios do Brasil e um dos principais predadores de escorpiões. Com seu corpo robusto e hábitos noturnos, ele caça insetos, aranhas e até pequenos escorpiões.

Características e alimentação:

  • Possui glândulas de veneno, mas não é afetado pela picada de escorpiões comuns.
  • Alimenta-se de pequenos animais que encontra no chão, incluindo escorpiões jovens.
  • É comum em áreas úmidas, jardins e até em zonas urbanas próximas a matas.

Apesar de sua aparência pouco atraente, o sapo-cururu é um aliado no controle de pragas porque é um predador generalista. Inclui escorpiões em sua alimentação, especialmente em ambientes urbanos e rurais onde ambas as espécies coexistem.

Estudo de campo do Instituto Butantan de 2018 observou que sapos-cururus capturam escorpiões-amarelos jovens e adultos, mas preferem indivíduos menores (até 5 cm).

 O sapo ataca rapidamente, engolindo o escorpião antes que ele consiga picar. Ele não é imune, mas possui resistência maior que outros animais devido a proteínas plasmáticas que neutralizam toxinas (estudo publicado no Journal of Venomous Animals and Toxins em 2020).

O sapo-cururu é um aliado importante, porém subestimado, no controle de escorpiões. Sua resistência ao veneno e hábitos alimentares o tornam eficaz, mas não é uma solução isolada. Para cidades é interessante combinar a preservação de sapos-cururus (evitar morte por pesticidas) e controle integrado (limpeza urbana e vedação de abrigos).

Coruja-buraqueira (Athene cunicularia)

Coruja-buraqueira (Athene cunicularia) voando em um campo
A coruja-buraqueira é um predador eficaz de escorpiões, especialmente em áreas abertas e periurbanas (Imagem: Henk Bogaard / Shutterstock)

Essa pequena coruja, comum em campos e pastagens, é uma caçadora eficiente de pequenos animais, incluindo escorpiões. Estudos publicados na Revista Brasileira de Ornitologia confirmam pelo conteúdo estomacal e regurgitações (pelotas) que escorpiões representam até 15% da dieta dessa coruja em regiões do Cerrado e da Caatinga.

Características e alimentação:

  • Vive em buracos no chão e caça principalmente à noite, período de maior atividade dos escorpiões (noite e crepúsculo).
  • Ataca com garras afiadas, evitando a picada ao imobilizar o escorpião pela cauda.
  • Consome principalmente espécies pequenas (como Tityus bahiensis), mas também jovens de T. serrulatus.
  • É comum em áreas abertas e até em cidades do interior. Vive em campos de futebol, terrenos baldios e áreas rurais, justamente onde escorpiões proliferam.

Sua visão aguçada e voo silencioso a tornam uma predadora temível para os escorpiões. Não é imune ao veneno do escorpião, mas é resistente graças à sua técnica de caça que minimiza os riscos. Evita o télson (ferrão) ao segurar o escorpião pelas patas ou metassoma (parte posterior).

Estudos em cativeiro (UFMG, 2020) mostraram que corujas rejeitam escorpiões grandes, maiores que 6 cm), sugerindo cautela instintiva. Mesmo assim, a taxa de consumo é alta. Uma única coruja pode comer até 50 artrópodes por noite, incluindo escorpiões. E, diferente de mamíferos (como gatos), aves têm menor sensibilidade a toxinas de escorpiões.

Lacraia (Scolopendra gigantea e outras)

Imagem mostra luta entre lacraia e escorpião
A luta entre lacraia e escorpião acontece entre picadas venenosas de ambos (Imagem: I Wayan Sumatika / Shutterstock)

Apesar de também ser um artrópode peçonhento, a lacraia (ou centopeia-gigante) é uma predadora natural de escorpiões, principalmente os menores. No Brasil, a lacraia-gigante (Scolopendra viridicornis) e a lacraia-vermelha (Scolopendra subspinipes) são as que mais interagem com escorpiões.

A lacraia possui corpo segmentado com múltiplas patas e veneno potente. Caça à noite, atacando insetos, aranhas e até filhotes de escorpião. Também é curioso notar que a competição entre lacraias e escorpiões pode levar ao canibalismo, com as lacraias geralmente levando vantagem.

Entretanto, lacraias não são uma solução prática para controlar infestações de escorpiões. São noturnas, reclusas e caçam menos presas que gambás ou lagartos. Além disso, também são perigosas e suas picadas causam dor extrema e necrose em humanos.

Ambos vivem sob pedras, entulhos e folhas secas e competem pelo mesmo habitat. Portanto, a lacraia é um inimigo natural ocasional de escorpiões, mas não deve ser incentivada como controle biológico devido ao seu perigo para humanos. Seu papel ecológico é mais relevante no controle de baratas e grilos (outras presas preferenciais).

Tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla)

Imagem mostra um Tamanduá-do-sul (Tamandua tetradactyla) ou Tamanduá-de-colar, um dos predadores inimigos de escorpiões na natureza
O tamanduá-mirim usa as longas garras para revirar troncos e folhagem, lambendo os animais com sua língua pegajosa (até 40 cm de extensão) (Imagem: Diego Grandi / Shutterstock)

Não só de formigas vive um tamanduá. Esse pequeno mamífero, parente do tamanduá-bandeira, tem uma dieta baseada em formigas e cupins, mas também consome escorpiões quando os encontra.

Apesar de preferir insetos, não recusa um escorpião quando o encontra em troncos ou folhas secas. Possui garras fortes para escavar e uma língua comprida para capturar presas. Vive em matas e áreas de cerrado, mas pode aparecer em zonas rurais e semiurbanas.

Só que há ressalvas importantes no consumo de escorpiões pelo tamanduá-mirim:

  • Estudos de conteúdo estomacal realizados pela Embrapa, em 2015, mostram que menos de 5% da dieta inclui outros artrópodes, como escorpiões e aranhas.
  • Prefere presas fáceis, escorpiões só são consumidos quando o tamanduá os encontra acidentalmente em troncos ou folhas secas.
  • Evita espécies grandes. Dados do Projeto Tamanduá sugerem que ele raramente ataca Tityus serrulatus adultos (devido ao veneno potente).

O tamanduá não é imune ao veneno do escorpião, escorpiões grandes podem picar sua boca ou focinho, causando dor e inchaço. Porém, a língua rápida e a saliva espessa reduzem o risco de ferroadas e a pele grossa nas patas dianteiras oferece alguma resistência ao veneno.

O tamanduá-mirim não é um controle efetivo contra infestações de escorpiões, mas sua presença em áreas naturais ajuda a manter o equilíbrio ecológico.

Galinha-doméstica (Gallus gallus domesticus)

Imagem de uma galinha caipira com pintinhos em um quintal rural. A espécie Gallus gallus domesticus é um dos mais eficientes inimigos como predadores de escorpiões na natureza.
A galinha doméstica é altamente eficaz no controle de escorpiões (Imagem: Majna / Shutterstock)

Pode parecer surpreendente, mas as galinhas são excelentes caçadoras de escorpiões e outros pequenos animais e uma das soluções mais eficazes (e naturais) para controle em zonas rurais e periurbanas.

Características e alimentação:

  • Ciscam o solo em busca de insetos, aranhas e escorpiões.
  • Suas bicadas rápidas evitam que o escorpião as pique.
  • São comuns em sítios e áreas rurais, ajudando no controle natural de pragas.

As galinhas ciscam o solo e devoram escorpiões de todos os tamanhos, incluindo o escorpião-amarelo (Tityus serrulatus). Como técnica de caça, bicam rapidamente o escorpião, evitando o ferrão e engolem a presa inteira, neutralizando o veneno no sistema digestivo (ácido estomacal degrada as toxinas).

Em sítios do interior de Minas Gerais e São Paulo, propriedades com galinhas livres têm até 70% menos relatos de escorpiões. E em relação à resistência ao veneno, são quase imunes por conta do pH ácido do estômago (em torno de 2.0) e enzimas digestivas quebram as toxinas antes que causem danos.

Estudo de referência e pesquisas da UNESP de Botucatu confirmaram que galinhas criadas soltas consomem até 20 escorpiões por mês sem efeitos adversos, o que é uma grande vantagem no controle biológico. E, além disso, as galinhas fazem uma prevenção indireta, porque ao comerem baratas (principal alimento dos escorpiões), reduzem a fonte de nutrição da praga.

Outra vantagem é o baixo custo, afinal, não requerem químicos ou infraestrutura complexa – só espaço para ciscar.

Gambá (Didelphis albiventris)

Foto de um Gambá-de-orelha-branca Opossum (Didelphis albiventris) em uma árvore
Além de comer escorpiões, o gambá devora baratas, cortando a fonte de alimento principal da praga (Imagem: Celso Margraf / Shutterstock)

O gambá, comum em áreas rurais e até urbanas, é um dos poucos mamíferos que caçam escorpiões sem sofrer grandes efeitos do veneno.

Características e alimentação:

  • Possui certa resistência ao veneno de escorpiões e serpentes.
  • Tem hábitos noturnos e dieta variada, incluindo frutas, insetos, pequenos roedores e escorpiões.
  • É frequentemente visto revirando lixo ou folhas no chão em busca de alimento.

Estudos do Instituto Butantan comprovam que o gambá possui proteínas no sangue que neutralizam toxinas de escorpiões e serpentes. A dose letal para humanos não o afeta, o gambá pode ser picado repetidamente sem efeitos graves.

Os escorpiões são mais ativos no período noturno, o mesmo horário em que o gambá caça. Ele se aproxima silenciosamente e esmaga o escorpião com as patas, evitando o ferrão e come desde filhotes até adultos grandes.

Por isso, fica a dica: não mate os gambás, eles são aliados gratuitos. Ofereça abrigos seguros, como deixar espaços como ocos de árvores ou caixas de madeira em terrenos. E evite venenos, os inseticidas podem intoxicar gambás e quebrar a cadeia de controle natural.

Lagarto teiú (Salvator merianae)

Imagem mostra um lagarto Teiú (Salvator merianae)
O teiú caça escorpiões de todos os tamanhos, incluindo adultos da espécie Tityus serrulatus (Imagem: Wladimir Lopes / Shutterstock)

O teiú, um dos maiores lagartos do Brasil, é um predador oportunista que não hesita em comer escorpiões quando os encontra. Este réptil pode chegar a mais de 1 metro de comprimento e tem mandíbulas fortes que auxiliam na caça. Sua resistência e tamanho o tornam capaz de enfrentar escorpiões adultos sem grandes riscos.

Possui imunidade quase total ao veneno por causa de sua pele resistente e metabolismo acelerado e está presente em zonas rurais e periferias urbanas, onde busca alimento no solo. Por ser um lagarto majoritariamente terrestre, ele explora os mesmos habitats onde os escorpiões são encontrados (sob pedras, troncos e frestas), aumentando a chance de encontro.

Sua natureza onívora e generalista significa que ele não é seletivo a ponto de ignorar escorpiões, caso eles representem uma fonte de alimento acessível. Se alimentam de uma grande diversidade de itens, tanto animais quanto vegetais. Na natureza, sua dieta pode incluir:

  • Invertebrados: insetos, caramujos, aranhas e, sim, escorpiões.
  • Pequenos vertebrados: aves, roedores, anfíbios, outros lagartos, cobras e ovos.
  • Vegetais: frutas e folhas.
  • Até mesmo carniça.

Novamente fica a ressalva que, embora o teiú seja um predador natural de escorpiões, a presença de teiús por si só não é uma solução única ou garantida para o controle de infestações de escorpiões em ambientes urbanos.

O controle de pragas envolve uma abordagem integrada que inclui saneamento básico e eliminação de abrigos para os escorpiões. No entanto, em seu habitat natural, o teiú certamente desempenha um papel no controle populacional de diversas espécies, incluindo escorpiões.

Prevenção e preservação de predadores naturais

A prevenção envolve ações como eliminar focos de proliferação (limpeza, vedação de frestas e colocação de telas em ralos), controle químico especializado e preservação de predadores naturais. Em caso de picada, lavar o local e procurar socorro médico imediato.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/07/22/ciencia-e-espaco/quais-sao-os-principais-inimigos-dos-escorpioes-na-natureza/