
A preocupação da população brasileira com a desigualdade social e a inflação aumentou em julho, em um cenário de crescente tensão econômica e social agravado pela ameaça de tarifas dos Estados Unidos e pelo debate interno sobre a taxação das grandes fortunas. Os dados fazem parte da edição mais recente da pesquisa global “What worries the world”, realizada pelo instituto Ipsos e reportada pelo jornal O Globo.
Segundo o levantamento, a proporção de brasileiros que acredita que o país está no rumo errado cresceu três pontos percentuais em relação ao mês anterior, chegando a 66%. Para Marcos Calliari, CEO da Ipsos no Brasil, o aumento reflete uma polarização mais evidente entre classes sociais e reabre o debate sobre a distribuição de renda. “A estagnação ou retrocesso no Brasil parece dialogar com a permanência do crime como principal preocupação nacional”, afirma.
O crime é apontado como a maior inquietação por 41% dos entrevistados. Em seguida, aparece a corrupção, citada por 32%, embora tenha recuado dois pontos percentuais em comparação com junho. A desigualdade social, por sua vez, subiu três pontos e alcançou 36%, superando a média global de 29%. Já a inflação, embora esteja sob controle técnico, ainda preocupa 31% da população e teve leve alta de um ponto percentual.
Inflação silenciosa afeta periferias
“Mesmo sem grandes oscilações nos preços de bens essenciais, a inflação ainda preocupa por corroer o poder de compra, especialmente nas periferias e entre as famílias de menor renda”, ressalta Calliari. A percepção de perda do poder aquisitivo segue sendo um dos motores da insatisfação popular, principalmente entre os grupos mais vulneráveis.
Em meio a esse cenário, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a intensificar, desde o fim de junho, o discurso de justiça tributária, com foco na taxação dos mais ricos e na isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. A estratégia busca reconectar o governo à sua base histórica, formada majoritariamente por trabalhadores e classes populares.
Governo tenta recuperar protagonismo social
Com a proximidade das eleições de 2026, a gestão petista tenta construir uma marca que dialogue com seu legado dos anos 2000, quando a redução da pobreza marcou os dois primeiros mandatos de Lula. No entanto, pesquisas qualitativas mostram que o eleitorado ainda tem dificuldade em identificar conquistas emblemáticas no terceiro governo do presidente.
Diante disso, assessores próximos a Lula apostam na reformulação da pauta econômica como forma de reposicionamento político. Entre os principais pontos estão a ampliação da faixa de isenção do IR, o fim da jornada de trabalho 6 x 1 — defendido por centrais sindicais — e o enfrentamento aos supersalários no funcionalismo público. Essas bandeiras podem ganhar tração como símbolo do compromisso com a equidade fiscal e social.
Metodologia da pesquisa
A pesquisa “What worries the world” ouviu 25.703 pessoas em 30 países entre 20 de junho e 4 de julho, por meio de painel on-line. No Brasil, participaram cerca de mil respondentes com idades entre 16 e 74 anos. O Ipsos esclarece que a amostra brasileira não é representativa da população total, refletindo majoritariamente os grupos mais conectados, urbanizados e com maior renda e escolaridade.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/preocupacao-com-desigualdade-social-cresce-entre-brasileiros-e-fortalece-pauta-por-justica-fiscal-aponta-pesquisa/