29 de julho de 2025
Tarifa de 50% imposta por Trump favorece avanço de montadoras
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A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados ao país a partir de 1º de agosto acendeu o sinal de alerta no setor automotivo nacional. Ainda que o Brasil não exporte veículos montados para o mercado estadunidense, o impacto sobre a cadeia de autopeças, motores e sistemas eletrônicos — muitos dos quais integrados à produção de montadoras nos EUA — pode ser imediato e profundo.

Especialistas ouvidos pela coluna de Paula Gama, no portal UOL, apontam que a medida representa não apenas um obstáculo comercial, mas uma ruptura com efeitos geopolíticos e estratégicos. A alta da tarifa pode intensificar o movimento de aproximação do Brasil com mercados considerados mais abertos, como a China, cujas montadoras já vêm ampliando sua presença no país com fábricas, centros de pesquisa e planos de exportação regional.

“É um impedimento de importação”

Para o consultor automotivo Cássio Pagliarini, a tarifa de 50% não é apenas uma barreira: “é um impedimento de importação”. Ele lembra que o Brasil fornece componentes essenciais para fábricas estadunidenses e que a competitividade desses itens será inviabilizada.

“Com uma taxa dessas, ninguém consegue competir. Já houve queda de 20% quando a tarifa era de 10%. Com 50%, vai a zero”, alerta. O especialista vê risco imediato para empresas brasileiras integradas à cadeia global e ressalta que a mudança no cenário pode redirecionar investimentos, favorecendo novos parceiros.

Brasil se torna rota estratégica para chinesas

Esse novo contexto internacional coincide com a crescente presença de montadoras chinesas no Brasil. Para a advogada Andrea Weiss, especialista em direito aduaneiro, o país asiático já enxerga o Brasil como rota estratégica, sobretudo diante das severas barreiras enfrentadas nos EUA e na Europa.

“Mesmo com a retomada gradual do imposto de importação sobre elétricos no Brasil, o país continua sendo visto como uma oportunidade. Aqui não há uma barreira geopolítica, como nos EUA”, afirma Weiss, destacando a atratividade do mercado consumidor brasileiro e o ambiente regulatório menos hostil.

Hisayoshi Kameda, especialista em negócios internacionais, concorda e aponta três razões que tornam o Brasil um “porto seguro”: o tamanho do mercado interno, a demanda crescente por carros acessíveis e a postura independente do país em relação às pressões comerciais vindas de Washington.

“As montadoras chinesas já estão instalando fábricas, centros de pesquisa e traçando planos para fazer do Brasil uma base de exportação regional”, observa. No entanto, ele faz um alerta: “Essa dependência pode deixar o mercado brasileiro vulnerável a futuras disputas políticas e comerciais”.

Concorrência e riscos para a indústria local

O avanço chinês levanta debates sobre os impactos na indústria nacional. De um lado, a entrada de novas marcas aumenta a competição, derruba preços e democratiza o acesso a tecnologias antes restritas a veículos de luxo. De outro, há o temor de uma competição desigual entre marcas consolidadas no Brasil e gigantes chinesas com margens reduzidas e forte apoio estatal.

“Executivos de montadoras estabelecidas há muito tempo no Brasil já declararam que não conseguem competir com os preços dos carros chineses que eles mesmos precisam importar”, destaca Pagliarini.

Reação dos EUA e cenário geopolítico

Para Weiss e Kameda, uma aproximação mais intensa entre Brasil e China pode não passar despercebida por Washington. Embora não se espere retaliações formais, ambos preveem pressões nos bastidores ou por meio de exigências técnicas que dificultem exportações brasileiras aos EUA.

Já o consultor José Pimenta, da BMJ, adota uma visão menos alarmista. Para ele, a presença chinesa no Brasil é um movimento de longo prazo, vinculado à transição energética e ao potencial do mercado nacional.

“Falar em retaliação dos EUA é muito forte. O que existe é monitoramento e reposicionamento de mercado”, avalia.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/tarifa-de-50-imposta-por-trump-favorece-avanco-de-montadoras-chinesas-no-brasil/