
Integrantes da comitiva do Senado que viajou a Washington para tratar do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros voltaram com um diagnóstico político que vai além da crise comercial: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), está sendo alvo de um processo de desgaste junto ao entorno de Donald Trump, estimulado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Segundo dois parlamentares que participaram da viagem declararam à coluna de Malu Gaspar, no jornal O Globo, ficou evidente que o deputado tem atuado ativamente para minar a imagem de Tarcísio entre aliados do presidente dos EUA, acusando-o de “traição” a Jair Bolsonaro por ter recuado em sua posição inicial de apoio às tarifas e defender uma saída negociada para o conflito.
A tensão entre os dois se acentuou após Tarcísio apagar de suas redes sociais um vídeo em que aparece celebrando a posse de Trump, usando o icônico boné vermelho com o slogan “Make America Great Again”. Desde então, passou a criticar o tarifaço, o que causou forte irritação na ala mais radical do bolsonarismo e, segundo interlocutores, no próprio Trump.
“Essa história de tarifaço foi um tiro no pé pro Tarcísio e pros governadores, quem vai apoiar isso? O Eduardo começa a se posicionar contra o Tarcísio para tentar manter o patrimônio do pai, mas não vai conseguir”, afirmou, em reserva, um dos integrantes da comitiva parlamentar.
Crise política e comercial entrelaçadas
De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), São Paulo é um dos Estados mais prejudicados pelas novas tarifas, já que 19% de suas exportações têm os Estados Unidos como destino. O impacto foi imediato entre setores do agronegócio e da indústria, o que levou Tarcísio a se reposicionar rapidamente e defender o diálogo com autoridades estadunidenses.
A guinada não foi bem recebida por Eduardo Bolsonaro, que passou a criticar abertamente o governador. O deputado chegou a chamá-lo de “servil” e o acusou de “desrespeitá-lo” após Tarcísio buscar interlocução com Gabriel Escobar, encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil.
Trégua ensaiada, ataques retomados
O ex-presidente Jair Bolsonaro tentou intervir na disputa e orientou o filho a se reaproximar de Tarcísio. Eduardo chegou a fazer gestos conciliatórios nas redes sociais, mas a trégua durou pouco. Na semana passada, ele voltou a ironizar o governador, dessa vez após declarações dadas durante um evento da XP Investimentos sobre as negociações em torno do tarifaço.
Nos bastidores, aliados de Tarcísio reconhecem a movimentação de Eduardo para “queimá-lo” junto ao bolsonarismo mais fiel. Em meio ao agravamento da crise diplomática com os EUA e o impasse em torno da Lei Magnitsky, o governador paulista tem preferido não alimentar a disputa.
“Eduardo colocou na cabeça dele que ele é o candidato a presidente. Todo esse movimento é porque ele tem certeza disso”, disse à reportagem um interlocutor próximo ao governador.
Rumo a 2026: dois projetos em colisão
A tensão entre os dois nomes é, no fundo, uma disputa antecipada pela sucessão de Jair Bolsonaro na direita. Eduardo tem dito publicamente que pretende concorrer à Presidência em 2026, caso o pai permaneça inelegível. Em junho, declarou à revista Veja que a hipótese está “na mesa”, e tem reiterado essa intenção em entrevistas e lives feitas nos Estados Unidos.
O movimento conta com apoio de figuras como Steve Bannon, ex-estrategista de Trump e influente na direita dos EUA. Em seu podcast War Room, Bannon tem apresentado Eduardo como “o próximo presidente do Brasil”.
Tarcísio, por sua vez, mantém o discurso de que buscará a reeleição em São Paulo, embora seja alvo de pressões de setores do mercado financeiro, da Faria Lima e de alas do centrão para disputar o Planalto contra o presidente Lula. Ao mesmo tempo, tem causado desconforto entre bolsonaristas “raiz” por não repetir o tom beligerante do ex-presidente contra o STF e o ministro Alexandre de Moraes.
Entre os episódios que provocaram ruído no núcleo bolsonarista estão a participação de Tarcísio em encontros com investidores na Brazil Week, em Nova York, e a ausência de críticas ao Supremo em atos públicos. A interlocutores, o governador tem evitado discutir 2026 e diz que a hora é de “governar”.
Nos bastidores da política brasileira e estadunidense, no entanto, a disputa pelo espólio da direita já começou — e promete ser feroz.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/fritura-nos-bastidores-eduardo-bolsonaro-age-nos-eua-para-isolar-tarcisio-e-assumir-lideranca-da-direita/