A denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) que apontou o deputado federal João Francisco Inácio Brazão, mais conhecido como Chiquinho Brazão, e o irmão dele, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), como mandantes das mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, executados por homens ligados à milícia, revela a formação de alianças dos irmãos com grupos paramilitares no início dos anos 2000. Segundo o documento, a aproximação ajudou a dupla a explorar o mercado imobiliário irregular e ainda transformou comunidades controladas por milicianos em redutos eleitorais dos Brazão.
Três locais onde a aliança aconteceu são citados no documento, encaminhado pela PGR para o Superior Tribunal Federal. São eles o Bairro de Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio; Rio das Pedras, no Itanhangá, na Zona Oeste; e Jacarepaguá, também na Zona Oeste. Em Rio das Pedras, por exemplo, segundo a denúncia, Domingos Brazão foi o mais votado para deputado estadual, em 2010.
Ele conseguiu 29,6% votos da localidade, totalizando quase o dobro do segundo colocado nas urnas da comunidade, que atingiu apenas um percentual de 15%. Na reeleição de 2014, a vantagem foi ainda maior. Domingos obteve 30,2% dos votos, contra 5,2% do segundo mais votado na favela. Em 2012, na eleição municipal, Chiquinho Brazão repetiu o sucesso alcançado por seu irmão e foi o mais votado para vereador, em Rio das Pedras, com 14,6%, contra 6,25% do segundo colocado.
Em 2016,Chiquinho voltou a ser reeleito, contado com 16,7% dos votos dos eleitores da comunidade. Já o candidato que alcançou o posto de segundo mais votado, naquela ocasião, conseguiu apenas 9,6% da preferência dos eleitores do local.
Em Oswaldo cruz, o documento da PGR cita o sargento PM Edmilson da Silva Oliveira, o Macalé, como pessoa que atuava no exercício de funções típicas de milicianos, notadamente extorsões contra os moradores da região, homicídios, enquanto os irmãos Brazão exerciam influência política na região.
Suspeito de envolvimento na trama que originou a morte de Marielle, ele teria procurado Ronnie Lessa para executar o crime, o militar foi morto em novembro de 2021, em Bangu, na Zona Oeste. Já em Rio das Pedras, a denúncia cita o miliciano Marcus Vinicius Reis dos Santos, conhecido por “Fininho”, preso em 2019 na Operação Intocáveis, do Ministério Público do Rio (MPRJ), e condenado a cinco anos de prisão por ser um dos chefes do grupo paramilitar que domina a comunidade.
Por conta da aliança, ele teria sido contemplado, conforme o documento, com cotas de cargos em comissão, de cujo controle Domingos dispunha, formal e informalmente. A mãe de um filho do miliciano, por exemplo, chegou a ser nomeada na Assembleia Legislativa do Rio, onde permaneceu por dois anos, entre 2017 e 2019.
“Já em Rio das Pedras, foi o trânsito propiciado pelo miliciano Marcus Vinicius Reis dos Santos, conhecido por “Fininho”, que permitiu que Domingos Inácio Brazão fosse o candidato mais votado para o cargo de Deputado Estadual na região, nos anos de 2010 e 2014. Na mesma localidade, João Francisco Inácio Brazão figurou como o candidato a vereador que recebeu mais votos nas eleições municipais de 2012 e 2016, conforme dados consolidados no Relatório Final”, diz um trecho da denúncia da PGR.
O deputado federal Chiquinho Brazão e o conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão foram denunciados por organização criminosa e como mandantes das mortes de Marielle e Anderson, Já o delegado Rivaldo Barbosa é apontado no mesmo documento como uma espécie de garantidor do crime, prestando auxílio intelectual aos criminosos.
Além deles foram denunciados ainda mais suspeitos. Um deles é o ex-chefe da milícia de Rio das Pedras, o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, que já cumpre pena por dois processos de homicídio, teria monitorado os passos de Marielle. Já o soldado da PM Robson Calixto da Fonseca, o Peixe, que foi assessor de Domingos no TCE e na Assembleia Legislativa do Rio, é apontado pela Polícia Federal como a pessoa que intermediou o encontro dos irmãos Brazão com Lessa. A investigação não o ligou ao assassinato, por isso ele foi denunciado apenas por organização criminosa.
Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados a tiros, na noite do dia 14 de março de 2018, no cruzamento das Ruas Joaquim Palhares e João Paulo I, no Estácio, na Região Central do Rio. Além dos denunciados citados anteriormente, também estão presos o PM reformado Ronnie Lessa, que confessou ter sido o autor dos disparos contra as duas vítimas, e o ex-PM Élcio de Queiróz. Este último confirmou dirigir o carro usado no crime, de onde Lessa teria efetuado os tiros contra a parlamentar e o motorista.
Com informações do GLOBO.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/caso-marielle-mandantes-fizeram-alianca-com-milicia-e-transformaram-3-comunidades-do-rio-em-redutos-eleitorais/