
Durante uma reunião do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se emocionou ao relembrar episódios de fome na infância e juventude. Em um discurso marcado por lágrimas e fortes declarações políticas, Lula fez uma crítica indireta ao bolsonarismo e alertou sobre o risco de retrocessos sociais nas eleições de 2026.
“Se a gente deixar o governo e entrar uma coisa qualquer nesse país, a fome volta outra vez”, afirmou o presidente. “Porque não é prioridade. Não deveria ser um compromisso de governo, deveria ser uma obrigatoriedade constitucional.”
A fala foi acompanhada de choro ao lembrar do tempo em que trabalhou na indústria Villares, em São Bernardo do Campo, nos anos 1960.
“Eu era muito novo de fábrica, e os companheiros ficavam oferecendo alguma coisa pra você: ‘Ô Lula, você não vai comer?’. E eu dizia: ‘Não tô com fome’. E cada vez que eles colocavam o sanduíche de mortadela na boca, eu imaginava eu mordendo aquele sanduíche”, contou. “Isso aconteceu várias vezes.”
Ainda emocionado, Lula lembrou que só foi comer pão pela primeira vez aos sete anos de idade.
“Onde eu nasci nem tinha dinheiro, nem lugar para comprar pão”, disse, reforçando que o combate à fome “deveria ser cláusula pétrea” da Constituição.
“Num governo que deixar alguém passando fome, tem que decapitar o presidente”
A declaração mais impactante do discurso veio em seguida, com Lula defendendo que a fome não pode ser tolerada em nenhuma gestão:
“Num governo que tiver alguém passando fome, tem que decapitar o presidente.”
A fala, em tom de indignação, gerou reações nas redes sociais e entre opositores. Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) interpretaram a frase como uma provocação direta à antiga gestão, marcada pelo aumento dos índices de insegurança alimentar durante a pandemia.
Críticas ao tarifaço de Trump
Durante a mesma reunião, Lula também comentou a recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor sobretaxas de até 50% sobre produtos brasileiros. Segundo o petista, a medida tem motivação política e eleitoral, e poderia ter sido tratada de forma mais diplomática:
“O presidente dos Estados Unidos poderia ter pegado o telefone, ligado pra mim, para o Alckmin, estaríamos aptos a negociar. O pretexto da carta, da taxação, não é nem político, é eleitoral”, afirmou.
Mesmo diante do desgaste, Lula garantiu que pretende ligar para Trump nos próximos dias, mas para convidá-lo à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá em Belém, em novembro:
“Não vou ligar para o Trump para comercializar, porque ele não quer falar. Mas pode ficar certa, Marina [Silva, ministra do Meio Ambiente], que vou ligar para convidá-lo para vir pra COP. Quero saber o que ele pensa da questão climática.”
Além de Trump, Lula disse que também entrará em contato com outros líderes globais, como o presidente da China, Xi Jinping, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
Defesa da soberania e do multilateralismo
Em outro momento de sua fala, o presidente criticou a forma como as potências globais têm agido unilateralmente em temas comerciais e geopolíticos.
“Não é possível o mundo dar certo se a gente perder o mínimo de senso de responsabilidade com o respeito à soberania, à integridade territorial, à Suprema Corte dos países, ao Poder Judiciário como um todo, ao funcionamento do Congresso Nacional”, afirmou.
Para Lula, a ruptura do sistema multilateral construído no pós-guerra representa um grave retrocesso:
“O multilateralismo foi a melhor coisa criada depois da Segunda Guerra Mundial. Mas ele está sendo destruído para que as negociações passem a ser feitas de forma individualizada entre os países”, criticou.
Veja o vídeo:
Fonte: https://agendadopoder.com.br/lula-se-emociona-e-chora-em-reuniao-no-planalto-e-faz-alerta-sobre-fome-se-bolsonarismo-voltar-ao-poder/