
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quinta-feira (7) que pode anunciar novas tarifas comerciais contra a China, em resposta às compras de petróleo russo realizadas por Pequim. A declaração, ainda vaga quanto aos detalhes e prazos, eleva a tensão econômica entre os dois maiores países do mundo e acende um sinal de alerta para outras nações que mantêm relações comerciais com a Rússia — entre elas, o Brasil.
“Pode acontecer… Não posso lhes dizer ainda”, disse Trump, ao ser questionado sobre possíveis sanções contra a China. Em seguida, afirmou: “Fizemos isso com a Índia. Provavelmente estamos fazendo isso com alguns outros. Um deles pode ser a China”.
A ameaça surge poucas horas após o anúncio de tarifas adicionais de 25% sobre produtos indianos, decretadas pelo governo estadunidense. A medida foi justificada pelas importações indianas de petróleo russo, que, segundo Washington, sustentam a máquina de guerra de Vladimir Putin na Ucrânia.
Sanções secundárias e tensão crescente
Trump também indicou que pretende anunciar “sanções secundárias” para pressionar a Rússia a encerrar o conflito que já se estende desde fevereiro de 2022. A estratégia visa atingir não apenas Moscou, mas também os parceiros comerciais que ajudam a manter seu fluxo de receita por meio da exportação de energia.
O decreto da Casa Branca divulgado nesta quarta não menciona explicitamente a China, mas a fala de Trump sinaliza que Pequim está sob observação. Na semana passada, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, já havia feito um alerta semelhante: se a China não reduzir suas compras de petróleo russo, também poderá ser alvo de tarifas comerciais.
Brasil na linha de risco
Embora o foco principal do governo dos EUA, por ora, esteja na Ásia, autoridades brasileiras demonstram preocupação com a possibilidade de o país ser incluído em futuras rodadas de sanções ou sobretaxas.
O motivo é a crescente dependência brasileira do óleo diesel vindo da Rússia. Em 2024, o Brasil importou um volume recorde de US$ 5,4 bilhões do combustível russo, consolidando-se como um dos principais destinos do produto redirecionado após as sanções ocidentais a Moscou.
Desde 2022, as importações brasileiras de diesel russo se multiplicaram. Naquele ano, o volume quintuplicou. Em 2023, o crescimento foi ainda mais acentuado: alta de 47 vezes. Já em 2024, o avanço foi mais modesto, de 19%, mas ainda assim significativo. Mais de 60% do diesel importado pelo Brasil neste ano veio da Rússia.
Mudança de rota em julho
Apesar da tendência de alta, dados recentes da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) indicam que os EUA superaram a Rússia como principal fornecedor de óleo diesel ao Brasil no mês de julho. Essa reversão temporária ocorre após meses de liderança russa e pode ser interpretada como um sinal de reequilíbrio nas fontes de importação.
A mudança, no entanto, ainda é pontual. O governo brasileiro monitora com cautela os desdobramentos das declarações de Trump e as possíveis consequências de uma política externa estadunidense mais agressiva contra países que mantêm relações comerciais com Moscou.
Internamente, integrantes do governo avaliam que o Brasil pode argumentar, em eventual ofensiva americana, que não está violando sanções formais e que seu comércio com a Rússia é guiado por necessidade energética, não por alinhamento político. Ainda assim, o temor de retaliações econômicas por parte de Washington persiste.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/trump-ameaca-impor-tarifas-a-china-por-compra-de-petroleo-russo-e-acende-alerta-no-brasil/