
Três dias após o governador Cláudio Castro (PL) anunciar que enviaria à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) dois pacotes de projetos prioritários — um de segurança pública e outro voltado à economia —, o presidente da Casa, Rodrigo Bacellar (União), se antecipou e protocolou proposta semelhante, voltada ao enfrentamento do crime no Rio. O movimento político escancarou mais um capítulo da tensão crescente entre o chefe do Executivo e o presidente do Legislativo, que protagonizam uma disputa silenciosa, mas cada vez mais evidente, nos bastidores do poder estadual.
O “Pacote de Enfrentamento ao Crime Violento” apresentado por Bacellar inclui medidas como a restrição de visitas íntimas a presos condenados por crimes hediondos, regulamentação do videomonitoramento com uso de inteligência artificial e reconhecimento facial, e será debatido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Alerj a partir da próxima semana. Coincidentemente (ou não), parte das propostas já haviam sido ventiladas dias antes por Castro, que prometia encaminhar projeto semelhante.
Embora aliados do presidente da Alerj garantam que o texto vinha sendo elaborado durante o recesso legislativo de julho, o anúncio logo após o governo sinalizar que enviaria uma proposta à Casa foi interpretado como uma movimentação calculada de Bacellar para marcar território político — e, sobretudo, reforçar sua posição diante do governador. O gesto de antecipação, somado ao histórico recente de embates, desenha um cenário político marcado por rivalidade e agendas sobrepostas.
O pano de fundo da disputa é a crise deflagrada com a exoneração de Washington Reis (MDB), então secretário de Transportes, durante o curto período em que Bacellar assumiu o governo interinamente. O ato surpreendeu Castro e aprofundou o mal-estar entre os dois aliados. Na última terça-feira (5), em entrevista ao “RJ2”, da TV Globo, o governador deu sinais claros de distanciamento: embora já tivesse declarado apoio à pré-candidatura de Bacellar ao governo do estado em 2026, recuou e afirmou que a sucessão só será discutida no ano que vem.
Entre os pontos mais polêmicos tanto do pacote de Bacellar quanto do esboço apresentado pelo governo está o fim das visitas íntimas e das “saidinhas” temporárias de presos — como aquelas permitidas em datas comemorativas. Apesar de reconhecer que o debate será difícil e pode enfrentar questionamentos judiciais, Castro sustenta que há margem para legislar no âmbito estadual, citando o artigo 24, inciso I, da Constituição Federal, que permite legislação concorrente com a União.
“A gente sabe que vai ser um debate duro, difícil, mas estamos encaminhando esse projeto para que a Assembleia, o Rio e a sociedade discutam esses dois pontos, que são tão importantes para melhorar a segurança pública”, afirmou Castro na entrevista.
O pacote do Executivo inclui ainda a convocação de três mil policiais militares da reserva para reforçar o efetivo, e uma reforma na estrutura da Polícia Civil, reduzindo o número de carreiras e alinhando o estado a diretrizes federais. Também está prevista a facilitação da instalação de câmeras de vigilância em postes, como parte de uma política de ampliação do videomonitoramento urbano.
Com dois projetos semelhantes tramitando na Alerj, ganha prioridade o que for protocolado primeiro — no caso, o de Bacellar. Mais do que uma disputa legislativa, o episódio evidencia a disputa de protagonismo entre os dois principais atores da política fluminense. Em meio à violência crescente no estado e à cobrança da sociedade por ações efetivas, o debate sobre segurança pública se transforma também em palco para a prévia da sucessão de 2026.
A disputa entre Bacellar e Castro, cada vez menos discreta, promete novos capítulos — e não apenas em plenário.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/pacotes-de-seguranca-escancaram-queda-de-braco-entre-claudio-castro-e-rodrigo-bacellar-no-rio/