
Apesar de esforços de ministros para abrir um canal de diálogo com o governo dos Estados Unidos, integrantes do Palácio do Planalto consideram improvável qualquer avanço real nas negociações para suspender ou reduzir as sobretaxas impostas pelo presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros. A avaliação interna é de que, além da resistência dos EUA em negociar, o Brasil ainda enfrenta o risco de novas sanções contra membros do Supremo Tribunal Federal (STF), em especial o ministro Alexandre de Moraes.
De acordo com fontes no governo Lula ouvidas pelo portal g1, a disposição brasileira para negociar existe, mas é vista como unilateral. Na prática, não há sinais concretos de reciprocidade por parte da Casa Branca. Para o Planalto, os principais auxiliares de Trump, como o secretário de Comércio Howard Lutnick e o secretário de Estado Marco Rubio, não têm autonomia para conduzir tratativas que impliquem em qualquer tipo de recuo. A condução da política tarifária está completamente centralizada na figura do presidente estadunidense, que não dá sinais de que pretende ceder.
Sobretaxa já atinge 36% das exportações
A sobretaxa de 50% imposta aos produtos brasileiros começou a valer na quarta-feira (6). Segundo estimativa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, a medida afeta cerca de 35,9% das exportações do Brasil para os Estados Unidos.
A medida não é totalmente abrangente: há uma série de exceções na lista de produtos, incluindo suco de laranja, aeronaves civis, petróleo, veículos, fertilizantes e insumos energéticos. Entretanto, importantes commodities brasileiras como carne e café estão entre os setores mais impactados.
Contatos diplomáticos limitados à retórica
Desde abril, quando Trump anunciou a primeira rodada de tarifas de 10%, o governo brasileiro vem tentando abrir uma via de negociação. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, já se reuniu pessoalmente com Marco Rubio. Alckmin manteve conversas com Howard Lutnick e, nesta quinta-feira (7), recebeu o encarregado de negócios da embaixada estadunidense, Gabriel Escobar, em Brasília. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve conversar por videoconferência com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, na próxima quarta-feira (13).
Apesar desses contatos, fontes do governo reconhecem que qualquer avanço depende exclusivamente de Trump. A avaliação é de que o republicano só reverteria as sobretaxas se pudesse apresentar ao eleitorado interno algum tipo de ganho simbólico — como fez com o Japão e a União Europeia em negociações anteriores.
Condição considerada inaceitável pelo Brasil
A Casa Branca, no entanto, teria colocado como condição para rever as tarifas o encerramento dos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado e atualmente em prisão domiciliar. O Planalto considera a exigência uma interferência direta no Judiciário brasileiro e um ataque à soberania nacional.
Essa condição é vista como inegociável, o que também tem adiado uma possível ligação telefônica entre Lula e Trump. O receio é de que a conversa, em vez de contribuir para uma solução, possa aprofundar o atrito caso Trump tente confrontar Lula sobre decisões do STF e receba uma resposta direta do presidente brasileiro.
Segundo interlocutores próximos, Lula tem reafirmado internamente que o Brasil está aberto ao diálogo e disposto a buscar uma solução para o tarifaço. No entanto, também tem sido claro: “não vai se humilhar” diante de Trump.
Preocupação com novas retaliações ao STF
Além do impasse comercial, membros do governo temem o agravamento da ofensiva de Trump contra o Supremo Tribunal Federal. Essa tensão aumentou depois que a embaixada dos EUA divulgou uma nota considerada como ameaça velada a aliados de Alexandre de Moraes, responsável por decretar a prisão domiciliar de Bolsonaro nesta semana.
Na semana passada, os EUA aplicaram sanções contra Moraes com base na Lei Magnitsky, que permite punir estrangeiros acusados de graves violações de direitos humanos ou corrupção sistêmica — dois crimes em que Moraes não se enquadra, segundo diversos especialistas. Antes disso, o governo Trump já havia revogado os vistos de Moraes e de outros sete ministros do STF.
Nos bastidores, o Planalto avalia que novas medidas podem ser adotadas nos próximos dias, aprofundando ainda mais a crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos. Ao mesmo tempo, cresce no Itamaraty a percepção de que o atual governo dos EUA pretende usar o confronto com o Judiciário brasileiro como ferramenta de pressão política e eleitoral.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/planalto-esta-cetico-quanto-a-trump-recuar-no-tarifaco-e-teme-novas-sancoes-contra-ministros-do-stf/