11 de agosto de 2025
Lula acelera programa social para reconquistar apoio da classe média
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O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensifica o lançamento de programas sociais e amplia sua presença junto à população, numa tentativa clara de recuperar apoio popular diante do ano eleitoral de 2026. A estratégia do Planalto inclui ações focadas na classe média e na periferia, ao mesmo tempo em que reforça o discurso de justiça tributária e soberania nacional em resposta ao aumento tarifário dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.

Entre os principais programas estão o Gás para Todos, que prevê a distribuição de botijões de gás para famílias de baixa renda; o Luz do Povo, que oferece isenção ou descontos na conta de luz para essas famílias; e o Agora Tem Especialistas, que visa reduzir a fila de espera no Sistema Único de Saúde (SUS). O primeiro deve ser implementado ainda neste mês via Medida Provisória, enquanto as outras duas já tiveram suas MPs publicadas.

Além disso, o governo prepara uma linha de crédito para pequenas reformas residenciais — provisoriamente chamada de Melhorias — e um programa de financiamento para compra de motos e carros para trabalhadores de aplicativos. Na classe média, destaca-se o projeto que isenta do Imposto de Renda pessoas com renda mensal de até R$ 5 mil e a criação de uma nova faixa do programa Minha Casa Minha Vida para famílias com renda de até R$ 12 mil.

A proposta de emenda constitucional (PEC) sobre Segurança Pública também integra as prioridades do governo, com impacto direto na classe média urbana. Essas medidas foram discutidas recentemente pelo PT em encontro nacional com sua bancada no Congresso.

Um integrante do primeiro escalão revelou que o Planalto pretende aproveitar o momento de leve recuperação na popularidade para apresentar ações concretas à população. Após a controvérsia sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o governo conseguiu firmar um discurso de “justiça tributária” focado na desigualdade entre ricos e pobres, ganhando força especialmente após a sobretaxa de 50% imposta pelos EUA a produtos brasileiros.

Pesquisa Genial/Quaest, divulgada uma semana após o anúncio do tarifaço, indicou queda da reprovação ao governo de 57% para 53%, e alta na aprovação de 40% para 43%. Outros institutos mostraram dados semelhantes, exceto o Datafolha, que registrou estabilidade.

Lula também intensificou sua agenda com a população, participando em julho de nove eventos públicos, mais do que o dobro do mês anterior. Entre suas visitas, destacam-se a Favela do Moinho, no centro de São Paulo, e o Jardim Rochdale, em Osasco, onde dialogou diretamente com moradores, reforçando seus discursos sobre justiça tributária e soberania nacional.

“Quem ganha R$ 1 milhão por ano vai pagar um pouquinho para que as pessoas que ganham menos não paguem. Isso não é aumento de imposto, é justiça tributária. É por isso que alguns reclamam”, afirmou o presidente em São João da Barra (RJ).

Após o anúncio do tarifaço, o governo incorporou as cores verde e amarela e a bandeira do Brasil em sua comunicação oficial — símbolos tradicionalmente ligados ao bolsonarismo — numa tentativa de disputar o discurso nacionalista contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem Lula chama de “traidor da pátria”.

Sob a liderança do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Pereira, o governo tem se afastado do slogan “União e Reconstrução” e da imagem vinculada ao Centrão, apostando numa comunicação mais direta com a população.

A estratégia para o segundo semestre inclui ampliar a presença pública de Lula, com lançamentos de programas e participação em entrevistas. Embora o governo negue que haja viés eleitoral nessas ações, especialistas avaliam que as entregas sociais tendem a fortalecer o desempenho do PT no ano eleitoral.

Para o cientista político Marco Teixeira, da FGV, o governo reforça a identidade de esquerda e recupera elementos das gestões anteriores de Lula, demarcando a diferença para a direita. “Esse movimento chega em um bom momento, ajudando a consolidar sua posição”, observa.

Além disso, a crise provocada pelo tarifaço de Trump gerou uma “tempestade perfeita” favorável ao governo, na avaliação de Teixeira, ao reduzir o atrito com o Congresso, especialmente com alas mais radicais da oposição.

A cientista política Lara Mesquita, também da FGV, destaca que o discurso do presidente impõe um custo político elevado ao Legislativo, que, ao derrubar esses programas, reforçaria a imagem de um Congresso alinhado aos interesses dos ricos, contra um Executivo que defende os mais pobres. Segundo ela, é pouco provável que os parlamentares optem por esse caminho, considerando o impacto negativo para sua imagem pública.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/lula-acelera-programa-social-para-reconquistar-apoio-da-classe-media-e-periferia-em-ano-eleitoral/