11 de agosto de 2025
Conheça a fasciíte necrosante, doença ocasionada por ‘bactérias comedoras de
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Imagine você parar no hospital após um mergulho no mar. Isso aconteceu aqui no Brasil, mais precisamente na cidade de Ubatuba, litoral paulista. No fim de abril de 2025, um homem de 30 anos perdeu a vida após ser acometido por uma infecção rara e devastadora: a fasciíte necrosante.

Causada por bactérias extremamente agressivas, essa condição avança velozmente pelos tecidos, ganhando o apelido sombrio de ‘bactéria comedora de carne’.

Apesar do alerta gerado pelo caso, a prefeitura de Ubatuba esclareceu que não há evidências da presença da bactéria nas praias do município e que a morte não está relacionada com a qualidade da água.

A partir daí, muitas perguntas surgiram, como: onde essa bactéria aparece de fato? Quais os sintomas? Como podemos nos prevenir? Confira as respostas a seguir.

O que é a fasciíte necrosante, doença das ‘bactérias comedoras de carne’?

A fasciíte necrosante é uma infecção bacteriana incomum, mas extremamente perigosa, que compromete a pele e envolve os músculos, nervos e vasos sanguíneos, chamado de fáscia.

Infecção bacteriana de pele com fascite necrosante da perna/Shutterstock_Pepermpron

Popularmente conhecida pela doença das ‘bactérias comedoras de carne’, essa condição pode se alastrar com rapidez assustadora, provocando destruição tecidual severa e risco de morte quando o tratamento não é iniciado de forma urgente.

Geralmente, essa infecção acontece principalmente por bactérias do tipo Streptococcus do grupo A, sendo mais frequente devido à Streptococcus pyogenes. O estudo publicado na revista Anais Brasileiros de Dermatologia com o título “Fasciíte necrosante: revisão com enfoque nos aspectos dermatológicos” divide essas bactérias em dois grupos:

 Tipo I: causado por múltiplas bactérias — incluindo aquelas que vivem sem oxigênio (anaeróbias) e outras que podem sobreviver com ou sem oxigênio (anaeróbias facultativas). Esse tipo é mais comum em pessoas com diabetes, doenças vasculares ou que passaram por cirurgias.

Tipo II: geralmente provocado pela bactéria Streptococcus do grupo A, isoladamente ou em combinação com Staphylococcus aureus. Costuma surgir após ferimentos, queimaduras ou procedimentos médicos, mesmo que a lesão aparente seja mínima ou quase imperceptível.

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Como a infecção por ‘bactérias comedoras de carne’ começa e quem está mais vulnerável

A porta de entrada para a fasciíte necrosante costuma ser uma ruptura na pele — cortes, queimaduras, feridas cirúrgicas ou até aplicações intravenosas podem permitir a invasão de bactérias agressivas.

Embora possa afetar pessoas de qualquer idade, o risco é significativamente maior entre indivíduos com o sistema imunológico comprometido, como aqueles com HIV, câncer ou sob uso de imunossupressores, sendo mais comum em pacientes com mais de 50 anos.

Como a infecção acontece

Segundo o estudo publicado por Michael T. McGee e David R. Frye, da instituição americana StatPearls Publishing, disponível na plataforma do National Center for Biotechnology Information (NCBI), a fasciíte necrosante é uma infecção que avança rapidamente pelos tecidos profundos do corpo, especialmente pela fáscia muscular.

Conceito vetorial de infecções por Vibrio vulnificus: bactérias “comedores de carne” que estão se proliferando em águas salobras devido às mudanças climáticas.
Vibrio vulnificus: bactérias “comedores de carne” que estão se proliferando em águas salobras devido às mudanças climáticas/shutterstock_Vero Rose

Nos primeiros dias, a pele pode parecer normal, mas logo começa a mudar de cor, indo do vermelho para tons arroxeados ou azulados, e fica inchada, quente, brilhante e muito sensível ao toque.

Na sequência, cerca de 3 a 5 dias, podem surgir bolhas e áreas de pele morta (gangrena). Curiosamente, a dor intensa pode diminuir com o tempo, pois os nervos da região afetada também são destruídos.

Em estágios mais avançados, o corpo pode apresentar sinais graves como febre alta, batimentos acelerados e infecção generalizada (sepse).

Além disso, o estudo também destaca que a infecção costuma envolver uma combinação de bactérias que se desenvolvem com e sem oxigênio, como Clostridium, Bacteroides, Klebsiella e Pseudomonas, que se espalham rapidamente e causam destruição dos tecidos e bloqueio da circulação local.

Prevenção e tratamento: como evitar as ‘bactérias comedoras de carne’

A fasciíte necrosante não é contagiosa e não se espalha diretamente de pessoa para pessoa, como acontece com outras doenças infecciosas.

Pessoa com machucado no dedo utilizando um band-aid (Reprodução: Diana Polekhina/Unsplash)

Como já mencionamos, ela começa quando bactérias altamente agressivas penetram no organismo por meio de uma abertura na pele — como cortes, queimaduras, feridas cirúrgicas ou lesões causadas por injeções.

Portanto, para eliminar essas bactérias e impedir a progressão da infecção, o tratamento envolve a administração imediata de antibióticos potentes por via intravenosa e, na maioria dos casos, cirurgia para remoção do tecido infectado.

Em situações mais graves, pode ser necessário repetir os procedimentos cirúrgicos até que toda a área contaminada seja limpa. O diagnóstico precoce e o tratamento rápido são fundamentais para aumentar as chances de recuperação.

Ambientes em que as bactérias comedoras de carne podem estar

Os ambientes mais comuns onde as ‘bactérias comedoras de carne’ podem estar presentes incluem hospitais, locais com água contaminada (como água do mar), águas salobras e quentes, ambientes pós-cirúrgicos e solos contaminados.

Fort Myers, Flórida / EUA - 15/07/2019: Gina Tomlinson fazendo uma reportagem para o telejornal WINK sobre fasceíte necrosante na água em Fort Myers Beach com seu cinegrafista
Fort Myers, Flórida / EUA – 15/07/2019: Gina Tomlinson fazendo uma reportagem para o telejornal WINK sobre fasceíte necrosante na água em Fort Myers Beach/Shutterstock_Por AProvchy

Além do Streptococcus, outras bactérias perigosas como o Vibrio vulnificus, comum em água do mar e salobra, também podem causar infecções graves na pele.

Um exemplo foi relatado por um professor de Medicina da Universidade da Flórida, Paul Gulig, que após cortar o pé e ir à praia na mesma semana, sofreu complicações severas no tecido cutâneo. Embora não haja confirmação laboratorial, ele acredita que foi infectado por Vibrio vulnificus.

Em 2022, novos casos envolvendo a bactéria Vibrio vulnificus chamaram atenção na Flórida, especialmente após a passagem do furacão Ian.

O patógeno se espalhou rapidamente em um condado, possivelmente impulsionado pelo contato da população com enchentes e água parada — condições ideais para a proliferação da bactéria. Segundo o Departamento de Saúde local, houve um aumento incomum nas infecções, atribuído diretamente à exposição pós-desastre natural.

Em meio à diversidade de ambientes onde as ‘bactérias comedoras de carne’ podem se proliferar, o Japão enfrentou um cenário alarmante no ano passado.

Conforme dados do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas, em junho de 2024, houve um aumento expressivo nos casos de infecção por Streptococcus pyogenes.

Foram mais de mil ocorrências registradas somente no primeiro semestre, superando a média anual.

Especialistas atribuem o surto à disseminação de variantes mais contagiosas, à redução das medidas de prevenção adotadas durante a pandemia e a fatores como o envelhecimento da população e a alta densidade urbana.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/08/11/medicina-e-saude/conheca-a-fasciite-necrosante-doenca-ocasionada-por-bacterias-comedoras-de-carne/