13 de agosto de 2025
Objeto astronômico recém-descoberto é tão diferente que ninguém sabe o
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Punctum. Você sabe o que é isso? Bem, ninguém sabe. Nem mesmo os astrônomos que encontraram esse objeto misterioso em uma galáxia próxima. 

Visível apenas em comprimentos de onda de rádio milimétricos, ele foi descrito em um artigo disponível no repositório científico arXiv.org, já aceito para publicação pela revista Astronomy & Astrophysics.

Em resumo:

  • Um objeto misterioso foi descoberto em uma galáxia próxima da Via Láctea;
  • Batizado de Punctum, ele foi detectado apenas em ondas milimétricas, apresentando brilho e energia excepcionais;
  • O objeto desconhecido supera magnetares, microquasares e supernovas em luminosidade nessas frequências;
  • Possui forte polarização luminosa, sugerindo campo magnético compacto e estruturado;
  • Suspeita-se que seja um magnetar incomum, um remanescente de supernova ou algum fenômeno astrofísico novo;
  • Futuras observações do ALMA e JWST poderão esclarecer sua verdadeira natureza.

Palavra latina para “ponto”, Punctum foi o nome escolhido pela equipe liderada por Elena Shablovinskaia, do Instituto de Estudos Astrofísicos da Universidade Diego Portales, no Chile, que descobriu o objeto em observações feitas com o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA).

Punctum foi descoberto em observações do Atacama Large Millimeter Array (ALMA), no Chile. Crédito: Jose Luis Stephens – Shutterstock

Galáxia que hospeda objeto misterioso é próxima da Via Láctea

Em entrevista ao site Space.com, Shablovinskaia disse que “fora do reino dos buracos negros supermassivos, Punctum é genuinamente poderoso”. Segundo ela, o objeto é compacto, tem um campo magnético organizado e emite energia de forma intensa. 

Em termos de brilho, ele supera magnetares típicos em até 100 mil vezes, é 100 vezes mais luminoso que microquasares e de 10 a 100 vezes mais brilhante que quase todas as supernovas conhecidas – ficando atrás apenas da Nebulosa do Caranguejo, no caso de fontes associadas a estrelas na Via Láctea.

O misterioso e inexplicável objeto Punctum está na galáxia NGC 4945, que fica a 11 milhões de anos-luz de distância, na constelação do Centauro. Crédito: ESO

Punctum está na galáxia ativa NGC 4945, localizada a cerca de 11 milhões de anos-luz, o que é relativamente próximo daqui. Apesar dessa distância considerada curta, ele não pode ser visto em luz visível ou raios X, apenas nas ondas milimétricas. Isso torna tudo ainda mais misterioso. Até o momento, o Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA, ainda não observou o objeto nos comprimentos de onda do infravermelho.

Como as medições mostram que seu brilho permaneceu estável durante observações em 2023, isso quer dizer que ele não é uma explosão passageira ou evento temporário. Normalmente, ondas milimétricas vêm de objetos frios, como nuvens de gás ou discos de formação planetária. Mas fenômenos extremamente energéticos, como quasares e pulsares, também podem gerar esse tipo de radiação por meio do processo chamado radiação síncrotron.

No caso do Punctum, a forte polarização da luz detectada sugere um campo magnético muito bem estruturado, algo típico de objetos compactos. Isso levou os cientistas a suspeitarem que a emissão seja realmente de radiação síncrotron. 

Visão do núcleo brilhante da galáxia NGC 4945, com o objeto compacto e misterioso Punctum inserido. Crédito: Elena Shablovinskaia et al.

Nada parecido com Punctum foi detectado até agora

Uma hipótese é que ele seja um magnetar, um tipo raro de estrela de nêutrons altamente magnética. No entanto, magnetares conhecidos são muito menos brilhantes nas ondas milimétricas que Punctum.

Outra possibilidade é que se trate de um remanescente de supernova compacto e excepcionalmente energético. A Nebulosa do Caranguejo, por exemplo, é brilhante nessas frequências, mas é muito maior do que o Punctum – e essa diferença complica a comparação.

Punctum é de 10 a 100 vezes mais brilhante que quase todas as supernovas conhecidas, exceto a Nebulosa do Caranguejo. Crédito: ESO / Manu Mejias

Shablovinskaia diz que Punctum não se encaixa em nenhuma categoria conhecida. “Nada parecido com isso apareceu em nenhum levantamento milimétrico anterior, principalmente porque, até recentemente, não tínhamos nada tão sensível e de alta resolução quanto o ALMA”, explica a cientista.

Há chance de ser um objeto comum em condições extremas, como um magnetar em ambiente denso, ou mesmo um novo tipo de fenômeno astrofísico.

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O núcleo ativo da galáxia NGC 4945, alimentado por um buraco negro supermassivo, é muito mais brilhante que Punctum, o que poderia ter dificultado sua detecção. Ele só foi notado devido à polarização incomum de sua luz. Observações futuras do ALMA, voltadas especificamente para o objeto em si, podem reduzir o ruído e revelar mais detalhes.

Segundo Shablovinskaia, o JWST também pode ser decisivo. Se encontrar uma contraparte no infravermelho, poderá determinar se a radiação vem apenas do processo síncrotron ou se há contribuição de poeira e outros elementos, ajudando a restringir as hipóteses e possivelmente classificar o objeto.

Por enquanto, Punctum continua sendo um enigma. Um ponto brilhante e compacto perdido no vasto céu, detectado por acaso e agora no centro de uma investigação astronômica. 

Para a líder do estudo, ele é a prova de que ainda há muito a ser descoberto no Universo – especialmente no misterioso “céu milimétrico”, onde cada nova observação pode revelar algo jamais visto antes.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/08/12/ciencia-e-espaco/objeto-misterioso-proximo-da-via-lactea-intriga-e-desafia-ciencia/