
O Brasil figura entre os países com maior desigualdade de renda entre autoridades e a população. Segundo o Índice de Disparidade Salarial 2025, elaborado pelo grupo Livres — que defende o liberalismo econômico –, políticos e juízes federais brasileiros recebem salários que chegam a ser 22 vezes superiores à média nacional. A disparidade coloca o país atrás apenas de México e África do Sul entre os 16 países avaliados.
Em 2024, o presidente da República e deputados federais tiveram remuneração de R$ 44 mil, valor 21 vezes maior que a renda domiciliar per capita do brasileiro, de R$ 2.069, de acordo com o IBGE. Já os magistrados federais registraram média de R$ 48,6 mil, o equivalente a 23,5 vezes o rendimento da população. Em alguns casos, juízes chegaram a receber até R$ 444 mil, ampliando ainda mais a diferença.
Para efeito de comparação, a desigualdade salarial no Brasil supera a média global (10,7 vezes) e também a média de países em desenvolvimento (16,8 vezes). Em nações vizinhas, como Argentina e Chile, o contraste é significativamente menor: no caso argentino, o presidente recebe 9,2 vezes a renda média da população, enquanto no Chile a relação é de 13,7 vezes.
Diferenças internacionais
No Legislativo, as distorções brasileiras também são mais acentuadas. Deputados federais no Brasil recebem 21 vezes a renda média, contra 4,5 vezes na Argentina, 3,7 no Reino Unido e 3,0 em Portugal. No Judiciário, ministros do STF, do TSE e do STJ têm remuneração cerca de 22 vezes superior à dos brasileiros, número que praticamente dobra o verificado na Argentina e no Reino Unido, onde a relação é de 11 vezes. Em países como Suíça e Alemanha, a diferença cai para 6 vezes.
O levantamento utilizou dados da Pnad Contínua, do IBGE, e informações oficiais de órgãos estatísticos estrangeiros, como o INDEC, da Argentina, e o INE, da Espanha. A pesquisa não incluiu salários de servidores concursados ou comissionados do Executivo federal, onde as diferenças podem ser ainda maiores. Em 2024, advogados da União, por exemplo, receberam até R$ 547 mil em honorários.
Impacto na percepção pública
Para especialistas, a disparidade afeta a confiança da sociedade nas instituições e na formulação de políticas públicas. Magno Karl, diretor do Livres, afirma que a distância entre os rendimentos de autoridades e da população alimenta a sensação de injustiça. “Como a população entende que essas pessoas não estão familiarizadas com aquele ambiente, a crença de que elas podem legislar de forma eficiente sobre isso diminui. Há potencial de corroer a crença nas instituições da democracia representativa”, diz.
Cibele Franzese, professora de administração pública da FGV, ressalta que o caso do Judiciário é ainda mais problemático devido aos chamados supersalários, que extrapolam o teto constitucional. Para ela, a remuneração de políticos do Executivo e Legislativo é proporcional à responsabilidade do cargo, sobretudo no caso da Presidência da República, mas magistrados contam com benefícios exclusivos, como verbas indenizatórias livres de imposto e duas férias anuais, além da vitaliciedade no cargo.
A professora pondera que altos salários não significam necessariamente prejuízo à qualidade dos serviços públicos. “Não temos evidência de que o gasto com salários de políticos prejudique a qualidade dos serviços públicos. A gente tem evidência de que a qualidade depende mais de um serviço público bem gerenciado, de uma boa gestão de desempenho e pessoas capacitadas trabalhando, tanto nas carreiras públicas, quanto na ponta”, afirma.
O estudo reforça que a desigualdade salarial no Brasil é uma das mais elevadas do mundo e que a distância entre a elite do serviço público e cidadãos comuns pode minar a legitimidade das instituições, caso não seja acompanhada por resultados efetivos para a sociedade — que, aliás, precisa de mais, e não de menos direitos. Neste sentido, é importante combater supersalários e “penduricalhos”, mas também aumentar a renda média dos trabalhadores em geral e reforçar a importância dos serviços públicos para a democracia. Salário justo e direitos trabalhistas não devem ser tirados de uns, mas estendidos a todos.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/salario-de-juizes-e-politicos-no-brasil-chega-a-ser-22-vezes-maior-que-renda-media-da-populacao-diz-estudo/