
Um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences aponta que terremotos podem ser mais imprevisíveis do que se pensava. A pesquisa analisou o terremoto de magnitude 7,7 que atingiu Mandalay, em Mianmar, em março deste ano, matando milhares de pessoas e provocando tremores em países vizinhos.
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos EUA, analisaram imagens de satélite da região antes e depois do terremoto para entender como falhas geológicas podem se comportar. Eles observaram que o abalo ocorreu ao longo de 510 km da Falha de Sagaing, a maior ruptura continental já documentada, muito além das estimativas anteriores de 300 km.
Essa diferença mostra que rupturas em falhas podem liberar mais tensão acumulada do que se imaginava. A teoria da lacuna sísmica, que tenta prever onde a falha pode ceder, não explica totalmente esses eventos. Mesmo trechos que ficam silenciosos por centenas de anos podem gerar terremotos mais fortes e extensos do que modelos simples sugerem.
Novos tremores em Mianmar podem aprimorar previsões para a Califórnia
A Falha de San Andreas, na Califórnia, é parecida com a Falha de Sagaing, com centenas de quilômetros de extensão e movimento lateral. Os cientistas afirmam que os novos dados de Mandalay podem ajudar a melhorar as previsões para o próximo “Big One” no estado. Modelos atuais de risco sísmico se baseiam em estatísticas de terremotos passados, sem considerar o estado real da falha em cada momento.
Esses modelos calculam a probabilidade de um tremor acontecer em uma região nos próximos 30 anos, mas não ajustam essas previsões de acordo com quais partes da falha estão bloqueadas ou acumularam mais tensão. Por isso, eles não conseguem indicar exatamente quando e onde um grande terremoto pode ocorrer.

“Rupturas sucessivas de uma mesma falha, mesmo tão simples quanto as falhas de Sagaing ou San Andreas, podem ser muito diferentes e liberar ainda mais do que o déficit de deslizamento desde o último evento”, afirma Jean-Philippe Avouac, professor do Caltech e especialista em geomecânica, em um comunicado. Segundo o especialista, isso torna futuros terremotos mais intensos e extensos, mesmo em falhas aparentemente simples.
Além disso, os registros históricos são curtos demais para representar todos os padrões possíveis de terremotos. Modelos baseados na física da falha e ajustáveis às observações atuais podem oferecer previsões mais precisas e dependentes do tempo. Isso é essencial para planejar medidas de prevenção e reduzir riscos para populações próximas às falhas.
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De acordo com o estudo, não se pode confiar apenas em padrões do passado. Cada terremoto é único e pode se comportar de forma inesperada. Entender o estado real das falhas geológicas e acompanhar seus movimentos é fundamental para proteger cidades, infraestrutura e vidas humanas de futuros desastres sísmicos.
“Este terremoto [de Mandalay] revelou-se um caso ideal para aplicar métodos de correlação de imagens [técnicas para comparar imagens antes e depois de um evento geológico] desenvolvidos pelo nosso grupo de pesquisa”, diz Antoine. “Eles nos permitem medir deslocamentos do solo na falha, enquanto o método alternativo, a interferometria de radar, é cego devido a fenômenos como a decorrelação [um processo para desacoplar sinais] e à sensibilidade limitada aos deslocamentos norte-sul.”

Saiba onde estão acontecendo todos os terremotos no mundo
Uma ferramenta online desenvolvida pela Universidade da Califórnia em Berkeley permite saber exatamente quais pontos na Terra estão enfrentando tremores – tudo em tempo real.
No site da instituição, há um mapa interativo que mostra todos os terremotos ativos no planeta – na hora mais recente, no dia anterior e na última semana (clique aqui).
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/08/14/ciencia-e-espaco/terremotos-extremos-desafiam-modelos-atuais-de-previsoes/