
Estudantes fecharam um dos lados da Avenida Paulista nesta quinta-feira – Foto: Comunicação/UMES
Manifestantes denunciaram sucateamento das escolas estaduais e repeliram a interferência externa: “Os estudantes sempre estiveram na linha de frente em defesa do nosso país”
Milhares de estudantes ocuparam a Avenida Paulista nesta quinta-feira (14), em um ato pelo Dia do Estudante. Sob o lema “Em Defesa da Educação e do Brasil”, o protesto denunciou o desmonte da educação pública pelo governo estadual e repudiou as ameaças do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, contra a soberania brasileira.
Organizado pela União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES), em conjunto com a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) e União Nacional dos Estudantes (UNE), o ato ecoou um recado claro: “Com a educação não se brinca, e com o Brasil não se mexe”.
“Os estudantes sempre estiveram na linha de frente em defesa do nosso país, lutando pelas nossas riquezas, pelo nosso povo e principalmente contra o imperialismo”, disse a presidente da UMES, Valentina Macedo.
“Não tem como a gente falar sobre soberania nacional, sobre construir um Brasil forte independente, enquanto a gente não tiver uma educação que corresponda a tudo isso”, completou.

A presidente da UNE, Bianca Borges, destacou em sua fala “que quem manda no Brasil é o povo brasileiro”. “Eu quero saber quem está ocupando a rua hoje, porque quer ver Bolsonaro na cadeia”, destacou em referência ao julgamento de Jair Bolsonaro no STF.
Bianca também fez uma homenagem ao estudante Edson Luis, morto pela ditadura enquanto protestava em defesa do restaurante estudantil do Calabouço, no Rio de Janeiro. “A nossa ocupação das ruas em São Paulo, em todo o Brasil hoje é fundamental, nessa semana do estudante. No 11 de agosto, nós relembramos a memória viva de Edson Luís, estudante assassinado pela ditadura militar, por causa das melhores condições do restaurante estudantil, ele, deixou um legado que nos inspira até hoje”, disse.
“Na mesma data em que lembramos a vida e a luta de Edson Luiz, a UNE completou também 88 anos. 88 anos convocando os estudantes brasileiros para luta, e no momento como esse não poderia ser diferente”, destacou.

“A nossa rebeldia consequente nos trouxe para ocupar o Brasil para dizer que a nossa soberania não se negocia e que nós estudantes queremos ser donos e senhores do nosso próprio destino”, destacou.
A presidente da UNE convocou um novo ato para o dia 7 de setembro, Dia da Independência. “Vamos seguir ocupando as ruas. O 7 de setembro é uma nova data de luta contra Tarcísio, contra Bolsonaro, contra Trump em defesa do nosso país e dos nossos direitos. Porque aqui está a juventude que constrói o enfrentamento, que constrói a luta por um futuro mais justo e próspero para todos e todas”, completou.
“Democracia e soberania da sala de aula ao Brasil. Essa é a palavra de ordem que vai ecoar nos quatro cantos desse país para dizer que os estudantes não vão aceitar os atos dos golpistas e anti-democráticos dessa galera que outra hora vinha verde e amarelo, mas que agora ataca o nosso país e ataca a nossa nação”, destacou o presidente da UBES, Hugo Souza.
“Nós somos verdadeiros amantes do Brasil que estão aqui hoje reunidos para dizer que na sala de aula ao Brasil a nossa luta é por democracia, que a gente não vai aceitar que nenhum Grêmio Estudantil seja calado, que a gente não vai aceitar que nenhum dos nossos seja impedido de se organizar, que a gente não vai aceitar que as salas de aula desse Brasil não possa ser lugar de resistência”, disse.

“Nós estamos tomando a frente da nossa resistência, nós estamos tomando a frente do nosso povo, para dizer que nem um centavo a menos para educação, para dizer que, em São Paulo a gente não quer escola cívico-militar, para dizer que a democracia é inegociável e que se Donald Trump, Eduardo Bolsonaro e companhia acharam que ficariam muito de joelhos, eles estão muito enganados”, destacou.
“Os estudantes se reúnem hoje aqui no 14 de agosto na Avenida Paulista para defender uma educação de qualidade, defender o nosso país e para dizer que imperialista nenhum aqui vai se criar. que aqui é Brasil com S de soberano, disse a diretora da UNE, Magu Haddad.
“A defesa para a educação também passa por defesa por um orçamento de qualidade. Essa semana, a União Nacional dos Estudantes esteve em Brasília na Câmara dos Deputados para debater com eles pedindo mais orçamento para a educação, porque é preciso que nesse momento a gente consiga a recomposição integral do orçamento das universidades e institutos federais, que a gente consiga 10% do PIB para a educação”, explicou Magu.

EM SÃO PAULO, SUCATEAR PARA PRIVATIZAR
As lideranças estudantis denunciaram ainda o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário de Educação, Renato Feder, como arquitetos de um projeto de destruição da escola pública.
“Não há como falar em soberania nacional sem uma educação forte. Enquanto o governo investe em plataformas digitais ineficientes, nossas escolas estão caindo aos pedaços. Querem nos convencer de que a privatização é a solução, mas nós sabemos que é justamente o oposto: é a porta de entrada para o fim do direito à educação. Não vamos permitir que transformem nossas salas de aula em negócio!”, destacou Valentina.
“É encher de plataforma, sucatear e piorar o ensino, colocar no chão e aí depois usar isso como justificativa para privatizar. Mas estamos lutando contra isso, em defesa da educação aqui do estado de São Paulo e também da soberania nacional, da independência real do nosso país”, criticou a liderança estudantil.
Júlia Monteiro (UPES) reforçou o caráter excludente das políticas estaduais:
“Agora, em setembro, existe um projeto de começar a implementação das escolas cívico-militares no estado de São Paulo. Hoje, o ensino técnico está devastado. As escolas PEI [Programa de Ensino Integral] estão fechando noturno e o EJA. E isso tudo tem um objetivo muito claro, que é expulsar os estudantes, é expulsar a classe trabalhadora, é expulsar os estudantes pretos, periféricos de dentro da escola. E isso tem um sintoma muito claro na nossa sociedade, fazer com que quem está na escola só se transforme em mão de obra barata e quem saiu seja só a parte do governo hoje”, disse.

CRISE NA EDUCAÇÃO É UM PROJETO
Presente no ato, o deputado estadual Carlos Giannazi (PSol) relembrou a célebre frase de Darcy Ribeiro para demonstrar a situação da educação de São Paulo. “Darcy Ribeiro, um dos maiores intelectuais da história desse país que dizia que a crise da educação não é uma crise, é um projeto das elites econômicas para manter a dominação de classe social para expropriar os trabalhadores”, disse.
“A crise da educação básica do nosso estado nas Etecs, nas Fatecs, nas universidades cidade, na Unicamp, na USP, na UNESP, essa crise ela é fabricada, ela é um projeto do governador de extrema direita, do governador proto-fascista de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para destruir a educação do Estado de São Paulo”, disse.
“Não é à toa que ele já aprovou na Assembleia Legislativa de São Paulo com o nosso voto contrário, com a nossa resistência e com a resistência de vocês que estiveram lá participando contra a aprovação da PEC que reduziu o orçamento da educação de 30 para 25%”, explicou.
“Hoje o governador Tarcísio de Freitas, bolsonarista de extrema direita, está retirando por ano R$ 11 bilhões da educação, da escola pública, penalizando todos os alunos da educação básica”, denunciou o parlamentar.

Fonte: https://horadopovo.com.br/estudantes-tomam-avenida-paulista-em-defesa-da-educacao-e-contra-a-ameaca-de-trump-a-soberania/