18 de agosto de 2025
Márcio França cobra apuração e critica silêncio de Tarcísio
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Governo Tarcísio permanece em silêncio frente ao caso – Foto: Reprodução

Corrupção bilionária aconteceu nas barbas do secretário de Tarcísio, disse o ministro Márcio França. “É muito dinheiro que fugiu fácil por esse ralo”

O ministro do Empreendedorismo, Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, Márcio França, fez duras críticas ao esquema bilionário de fraudes fiscais envolvendo a rede de farmácias Ultrafarma e cobrou apuração rigorosa sobre possíveis conexões com autoridades do alto escalão do governo de São Paulo. Em tom irônico e incisivo, pelo X, o ministro também questionou o silêncio do governador Tarcísio de Freitas diante da gravidade do caso e apontou contradições entre o discurso oficial de combate à corrupção e os fatos que vieram à tona.

“Hum… Que história torta, enrolada. O dono milionário da Ultrafarma, Sidney de Oliveira, que é muito amigo, assim, do prefeito de São Paulo, que é muito amigo, assim, do governador de São Paulo, corrompe auditores da Receita e surrupia bilhões de todos os paulistas. Olha, é muito dinheiro que fugiu fácil por esse ralo”.

O empresário Sidney de Oliveira, dono da Ultrafarma, foi preso em São Paulo na terça-feira (12), suspeito de articular um esquema de corrupção com auditores da Receita para criar “créditos tributários de mentira”, desviando bilhões dos cofres públicos. “É muito dinheiro que fugiu fácil por esse ralo”, afirmou o ministro Márcio França ao comentar o caso.

A operação revelou um esquema dentro da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, com estimativas de até R$ 1 bilhão em propinas pagas, o que intensificou a pressão sobre o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e gerou expectativa por esclarecimentos.

Desde a deflagração da investigação, no mesmo dia da prisão do empresário, Tarcísio tem fugido da imprensa, evitando se pronunciar sobre o caso e não participando de entrevistas coletivas em que pudesse ser questionado pelos jornalistas. A situação ganha contornos ainda mais inquietantes diante do histórico de proximidade entre os envolvidos. Sidney gravou um vídeo declarando apoio à reeleição do prefeito Ricardo Nunes, em 2024 — aliado político direto de Tarcísio em São Paulo. As relações entre o empresário e figuras do entorno do governador levantam dúvidas sobre o grau de acesso e influência que ele mantinha junto ao poder público.

Márcio também criticou o secretário da Fazenda de São Paulo, apontando que não é servidor concursado e foi “escolhido e nomeado pelo Tarcísio”, com “indicação de Paulo Guedes”. E questionou: “Será que ele percebia esse buracão aí na cara dele?”

Publicamente desgastado, o governador bolsonarista tenta se desvincular das críticas acumuladas no último mês. Ele foi alvo de questionamentos por sua resposta tardia ao tarifaço anunciado por Donald Trump e por ter se colocado como articulador de uma tentativa de aproximação entre Bolsonaro (PL) e o STF (Supremo Tribunal Federal). Além disso, demorou a reprovar os efeitos econômicos provocados por declarações e ações de Eduardo “Bananinha” Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.

França levantou dúvidas sobre a ausência de fiscalização e responsabilização de autoridades superiores. “Será que para criar esses créditos tributários, que são créditos de mentira, não tem que passar por outras pessoas também, fiscalizar, auditar? Ou será que teve algum empurrãozinho aí?”, insinuou. 

MONTANHA PARINDO RATOS

A crítica também se estendeu ao Ministério Público, responsável pela investigação do caso: “Será que ainda vai sair algum peixe grande dessa cartola do Ministério Público? Ou vai sobrar só para esses bagrinhos aí?” O ministro questionou a coerência entre o discurso do governo paulista e suas ações: “Essa montanha dos técnicos que vieram de fora e que não são políticos, de total confiança do governador, será que vai acabar parindo ratos?”

Ele também levantou suspeitas sobre a atuação do secretário da Fazenda, Samuel Kinoshita: “Bem debaixo do nariz do secretário da Fazenda de São Paulo, que não é concursado, foi escolhido e nomeado pelo Tarcísio, indicado pelo Paulo Guedes. Será que ele percebia esse buracão aí na cara dele? Ele deve ter muita confiança do governador, porque, sinceramente, será que para criar esses créditos tributários, que são créditos de mentira, não tem que passar por outras pessoas também, fiscalizar, auditar? Ou será que teve algum empurrãozinho aí? Alguma autorização, sei lá”, sugeriu.

O ex-governador criticou a ausência de controle sobre a fraude bilionária. “Será que ninguém do comando do governo de São Paulo não estranhava, não, esse buraco? Não tinha controle? Porque dois bilhões é só um pão de touro. Imagina o resto. E toda essa fraude gigante estava bem ali, pertinho, pertinho, pertinho de quem comanda os destinos do dinheiro de São Paulo”, apontou. 

O escândalo na Secretaria da Fazenda expõe o maior volume de propinas já identificado durante o governo Tarcísio de Freitas — e envolve diretamente um servidor com cargo de confiança: o supervisor da Diretoria de Fiscalização (DIFIS), Artur Gomes da Silva Neto. A crise se torna ainda mais grave diante do fato de que, logo ao assumir o governo, Tarcísio reestruturou a Controladoria-Geral do Estado (CGE) e lançou com alarde o programa “Radar Anticorrupção”, anunciado como uma ferramenta para blindar a administração contra práticas ilícitas. O contraste entre o discurso e os fatos agora cobra explicações. A situação escancara uma ironia difícil de ignorar.

Fonte: https://horadopovo.com.br/r-1-bi-em-propinas-marcio-franca-cobra-apuracao-e-critica-silencio-de-tarcisio/