
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) realizará sua primeira reunião na próxima terça-feira (26), em Brasília. O colegiado, formado por deputados e senadores, vai iniciar os trabalhos com a votação dos primeiros requerimentos, que pedem a cessão de servidores da Controladoria-Geral da União (CGU), da Polícia Federal (PF) e do próprio INSS para auxiliar nas apurações.
Na quinta-feira (28), os parlamentares devem analisar e votar o plano de trabalho, a ser apresentado pelo relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL). Segundo o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), o colegiado se reunirá duas vezes por semana: às segundas-feiras, às 15h, e às quintas, a partir das 9h.
Viana explicou que os técnicos da CGU, da PF e do INSS terão papel fundamental nas investigações, especialmente no acompanhamento de diligências, análise de dados e pedidos de quebra de sigilos. A expectativa é dar andamento imediato às apurações em curso, aproveitando investigações já abertas pela PF e processos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF).
Alvos das primeiras convocações
O foco inicial da comissão será ouvir ex-ministros da Previdência Social desde o governo Dilma Rousseff, além de atuais e ex-presidentes do INSS. Até agora, já foram protocolados 448 requerimentos. Entre os nomes mais citados estão o ex-ministro Carlos Lupi, o atual titular da pasta, Wolney Queiroz, o presidente do INSS, Gilberto Waller, e ex-dirigentes do órgão, como André Paulo Felix Fidelis.
Há também dezenas de pedidos para ouvir autoridades como o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, o ministro da CGU, Vinícius Marques de Carvalho, o chefe da AGU, Jorge Messias, e o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues. Outros requerimentos pedem quebras de sigilo bancário e fiscal de associações de aposentados e relatórios financeiros do Coaf.
Um dos pontos mais sensíveis é a possível convocação de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vice-presidente de uma entidade de aposentados investigada pela Polícia Federal. Viana, porém, afirmou que nomes ligados a questões políticas não estão no centro da pauta inicial.
Palanque político
A CPMI do INSS nasce em meio a disputas políticas intensas. A presidência ficou com Carlos Viana e a relatoria com Alfredo Gaspar, ambos ligados à federação União Brasil-PP, que atua hoje em oposição ao governo. A articulação surpreendeu o Planalto, que esperava ver a comissão sob comando de aliados mais próximos, como o senador Omar Aziz (PSD-AM).
Nos bastidores, a vitória da oposição foi interpretada como um “cochilo” da articulação política governista. A perda de controle da comissão gerou efeitos imediatos: líderes do Congresso retiraram de pauta votações importantes para o governo, como a PEC dos Precatórios e a urgência do novo Imposto de Renda, diante do risco de derrota.
Oposição e governistas enxergam a CPMI como um palco de desgaste para o presidente Lula, com narrativas em torno do chamado “roubo a velhinhos” e eventuais convocações de pessoas próximas ao presidente. Para a oposição, o colegiado pode servir como trampolim político rumo às eleições de 2026.
Fraudes e consignados
O principal objeto de investigação são os descontos irregulares em aposentadorias, supostamente realizados por associações de aposentados fantasmas e entidades que intermediavam benefícios. Nos últimos dias, surgiram também denúncias sobre fraudes envolvendo empréstimos consignados. Embora esse tema ainda não seja prioridade, Viana admitiu que poderá entrar na pauta ao longo dos trabalhos.
Vice-presidência indefinida
A definição da vice-presidência da CPMI deve ficar para a segunda ou terceira semana de funcionamento. Entre os nomes cogitados estão deputados da base bolsonarista, como Marcel van Hattem (Novo-RS), Bia Kicis (PL-DF) e Zé Trovão (PL-SC), além de Duarte Jr. (PSB-MA), que tem bom trânsito no governo.
Para o Planalto, a CPMI representa um risco de prolongado desgaste político. A derrota na composição do colegiado acendeu o alerta no núcleo do governo, que agora busca reorganizar sua estratégia. Uma das ideias é montar uma “bancada” dentro da comissão para barrar convocações mais sensíveis, como a de Frei Chico, e tentar aprovar um relatório alternativo.
Enquanto isso, a oposição celebra a conquista de um espaço estratégico que pode servir de vitrine política. “A população quer saber quem roubou os aposentados e quem se beneficiou disso. Nosso trabalho é trazer respostas e responsabilizações”, disse Carlos Viana, em tom de recado ao Planalto.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/cpmi-do-inss-inicia-trabalhos-na-proxima-terca-com-clima-de-tensao-entre-governo-e-oposicao/