26 de agosto de 2025
Mercado de apostas no Brasil movimenta mais de R$ 17
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As apostas esportivas e os jogos online já movimentam cifras bilionárias no Brasil. Entre janeiro e junho deste ano, o setor registrou R$ 17,4 bilhões em receitas, de acordo com dados inéditos divulgados pela Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda. É a primeira radiografia do mercado após a regulamentação do segmento, que inclui tanto as plataformas de apostas esportivas quanto os chamados jogos de azar digitais, popularmente conhecidos como jogos do tigrinho.

Em entrevista ao videocast C-Level Entrevista, da Folha de S. Paulo, o secretário de Prêmios e Apostas, Regis Dudena, detalhou o perfil dos jogadores e a estratégia do governo para conter os riscos sociais da atividade. Segundo ele, 17,7 milhões de brasileiros apostam regularmente, sendo 71% homens e quase metade com até 30 anos. O gasto médio por pessoa chega a R$ 983 no semestre, cerca de R$ 164 por mês.

Crescimento descontrolado e regulação

Dudena ressaltou que a ausência de regulamentação entre 2019 e 2022 fez o setor crescer sem controle. “O descontrole que houve de 2019 a 2022 é muito responsável por problemas que vivenciamos hoje. Nos cabe agora limpar a casa. A gente precisa resolver essa bagunça”, afirmou. Para o secretário, a regulação devolveu ao Estado o poder de monitorar e fiscalizar o mercado: “Hoje nós sabemos exatamente quantos apostadores brasileiros apostam nessas empresas autorizadas pelo governo federal. Nós estamos falando de 17 milhões de pessoas”.

O levantamento também permitiu calcular o chamado GGR (Gross Gaming Revenue), que corresponde à diferença entre o valor apostado e o montante pago em prêmios. Nos primeiros seis meses de 2025, o índice chegou a R$ 17 bilhões, com média mensal de R$ 2,9 bilhões.

Riscos sociais e jogo responsável

Dudena destacou que a tendência é de perda financeira para o apostador e que o Estado precisa garantir políticas de proteção à população. “O que a população tem que entender quando se engaja em uma atividade de aposta? Você vai perder o dinheiro. A tendência é que você perca o dinheiro”, afirmou.

Segundo ele, a responsabilidade pelo chamado “jogo responsável” não pode recair apenas sobre o apostador. “A nossa compreensão como regulador é que a responsabilidade no jogo responsável é da casa de aposta, primariamente”, explicou. Isso inclui mecanismos de autolimitação de gastos, botões de autoexclusão e monitoramento do comportamento de usuários vulneráveis.

Medidas contra fraudes e ludopatia

A SPA também prepara mecanismos para impedir que beneficiários de programas sociais, como Bolsa Família e BPC, depositem dinheiro em sites de apostas. O Ministério da Saúde, por sua vez, começou a treinar equipes para atender casos de dependência em jogos.

Outra frente de atuação é o combate às plataformas ilegais. Dudena explicou que sites não autorizados vêm sendo identificados e retirados do ar em parceria com a Polícia Federal e o Banco Central. Instituições financeiras estão proibidas de processar transações ligadas a essas empresas.

Publicidade sob avaliação

Sobre a publicidade de apostas, o secretário reconheceu que o tema pode exigir ajustes no futuro, mas defendeu sua importância na distinção entre empresas legais e ilegais. “Não se pode falar que você vai ficar rico, vai ser mais bonito, vai ter sucesso social. Que você vai ter complementação de renda. Isso é proibido”, destacou, citando restrições de mensagens e o monitoramento da exposição de atletas e pessoas públicas.

Diante de críticas de setores como a Febraban, que alertaram para o risco de uma “catástrofe de inadimplência”, Dudena afirmou que a Fazenda acompanha o setor de perto. “Eu não estou minimizando, eu estou enfrentando o problema. Eu estou enfrentando o problema impondo restrições”, disse.

O governo aposta que, com dados confiáveis, regulação firme e cooperação entre ministérios, será possível conter os danos sociais e garantir que um dos mercados de maior expansão no país opere sob regras claras.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/mercado-de-apostas-no-brasil-movimenta-r-17-bilhoes-em-seis-meses/