
Na Semana Santa deste ano, a rotina da enfermeira Karinna Leite, de 27 anos, moradora de São Luís, foi interrompida por um susto que ela jamais imaginaria viver tão cedo. O que começou como uma gripe não tratada acabou se transformando em uma batalha pela vida, marcada por dores, medo, noites de incerteza e a esperança inabalável da família.
“Percebi que meu estado de saúde estava agravando quando na viagem para o Rio eu estava sonolenta e bem cansada, mas se agravou realmente quando cheguei em casa, que comecei a sentir dores no ouvido, febre e dor na costela bem intensa. Aí percebi que realmente não estava bem, que não era só uma gripe”, relembra.
A rotina exaustiva de plantões e trabalhos em diferentes locais havia deixado pouco espaço para o descanso e o cuidado pessoal. Ainda assim, Karinna não abandonou o uso do cigarro eletrônico, hábito que acabou agravando a situação. Pouco tempo depois, os exames realizados no Hospital Carlos Macieira confirmaram o que já se tornava evidente: uma pneumonia com forte comprometimento de um dos pulmões.
Com o quadro se deteriorando, veio a decisão mais difícil. Karinna precisou ser transferida para a UTI e, em seguida, entubada.“Eu não lembro exatamente, pois perdi a memória quando fui para a UTI. Só lembro que o médico disse que ia me entubar e eu disse para ele me trazer de volta e não me deixar morrer…”
Foram oito dias de luta, em que o corpo fragilizado travava batalhas silenciosas, enquanto a família vivia do lado de fora a espera angustiante por notícias. Os pais se revezavam nas visitas, a cada melhora vibrando como se fosse uma vitória.
“Minha família sofreu todos os dias, eles sentiram todas as situações. A cada melhora era uma comemoração. Meus pais principalmente tiveram comigo todo o tempo. A minha família simplesmente começou a sofrer junto comigo e ficaram bastante preocupados”, conta.
O retorno da consciência após a sedação foi, para Karinna, outro desafio. “A maior dificuldade foi quando eu estava saindo da sedação e comecei a sentir dores, como sondas e o tubo, e não conseguir me mexer, falar, e ter a exposição de ver toda hora as enfermeiras me trocando. Isso mexia muito com meu psicológico.”
O dia da alta médica, ainda no mês de abril, foi vivido como um recomeço. “Um alívio, ver minha família toda esperando por mim e vibrando. Eu agradeci muito por poder pisar em casa novamente”, descreve com emoção.
Agora, já em casa, Karinna reflete sobre os hábitos que contribuíram para o agravamento da doença e não esconde o arrependimento.
“Mudaria muita coisa, jamais experimentaria o vape, ficar comendo comidas fast food direto e deixar de me cobrar mais. Era para eu ter focado e cuidado de mim, e não me sobrecarregando.”

O cigarro eletrônico, que entrou em sua vida como um hábito aparentemente inofensivo, tornou-se parte central de sua maior luta. Hoje, Karinna transforma essa experiência em alerta para outros jovens que fazem uso do dispositivo.
“Eu sei que é difícil parar, eu tentei diversas vezes mas nunca conseguia. É uma droga muito forte e ela chama a gente para perto dela. Entendo que tudo na vida não é fácil largar, principalmente um vício. Porém, em vez de se estragar mais, vá a um psicólogo ou busque outros meios para parar, pois eu parei por tudo que passei. Tive que deixar acontecer o pior para me conscientizar. Não deixa acontecer o mesmo com você.”
A enfermeira ressalta que sua história poderia ter tido um desfecho diferente.
“Eu tive sorte de estar aqui contando minha história, porém muitos não têm essa sorte. Então não pense que as coisas só acontecem com os outros, pode sim acontecer com você. Igual foi comigo, não tive nem tempo de pensar. Quando veio… veio só de uma vez. Então pare antes que aconteça o pior.”
O relato de Karinna não é apenas sobre os riscos do cigarro eletrônico, mas também sobre a importância de cuidar da própria saúde em meio às demandas da vida cotidiana. O que para muitos é um hábito inofensivo, para ela foi uma roleta-russa com a própria vida. “Quero que as pessoas que usam cigarros eletrônicos, parem. Eu vivi dias muito difíceis e não quero que ninguém passe pelo que eu passei”, reforça.
Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/08/jornada-de-dor-e-superacao-a-luta-de-karinna-contra-o-perigo-oculto-do-cigarro-eletronico/