9 de setembro de 2025
Tokio Marine revela pedido de resgate e CPI das Câmeras
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A CPI das Câmeras da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) ouviu nesta segunda-feira (08) Laur Fernandes Diuri, diretor de sinistros da seguradora Tokio Marine. Em seu depoimento, ele admitiu ter recebido pedidos de pagamento para resgate de veículos em áreas controladas pelo crime.

A revelação, feita durante depoimento no colegiado, reforçou a suspeita dos parlamentares de que existe uma espécie de indústria paralela de recuperação de veículos, sustentada por cobranças de taxas ilegais. “Nessas casos deixamos os veículos de lado”, assegurou Diuri.

Fernandes afirmou que a proposta chegou à seguradora por intermédio do setor de atendimento, mas disse não saber identificar quais empresas teriam feito a solicitação. Para os deputados, a declaração evidencia a existência de um sistema não oficial de negociação para que veículos roubados sejam devolvidos.

Por conta das revelações, os deputados solicitaram que o diretor encaminhe à CPI a listagem de todas as recuperadoras que tenham relação comercial com a Tokio Marine.

O relator da CPI, deputado Felipe Poubel (PL), informou que vai oficiar à Polícia Civil e ao Ministério Público para que aprofundem as investigações sobre essas associações. Para ele, o esquema já configura crime organizado.

“Essas empresas fomentam o crime, escondem e lavam dinheiro. O pagamento de resgates virou mais uma receita do tráfico. Hoje, não se trata apenas de tráfico de drogas, mas também de roubo e resgate de veículos, algo que cresceu de forma alarmante nos últimos anos”, comentou.

Pressão sobre empresas de recuperação

As informações dadas pelo executivo aumentaram a pressão sobre Lidiane Fernandes Ferreira, proprietária da Black Hawk Monitoramento, que atua diretamente na recuperação de automóveis. No depoimento dela, anterior ao de Fernandes, a empresária não conseguiu esclarecer de forma convincente o funcionamento da companhia.

Uma das parceiras de trabalho da Black Hawk é a Pontual, administrada por Carla Caldas, cuja condução coercitiva já havia sido aprovada pela CPI. Diante das contradições do depoimento de Lidiane, os deputados deliberaram pela quebra de sigilo fiscal e bancário da empresária e da empresa.

Na sessão, ela declarou que, além da Pontual, presta serviços para pelo menos oito companhias, incluindo as locadoras Localiza e Movida.

Suspeita de ligação com a Polícia Militar

Outro encaminhamento da CPI foi o envio de ofício à Secretaria de Estado de Polícia Militar. O objetivo é esclarecer a possível ligação entre a Black Hawk e o major da PM Paulo Fernandes, marido de Lidiane. A comissão também quer ouvir o oficial, que foi outro a ter o sigilo bancário quebrado.

Ele teria figurado como sócio da empresa no momento de sua fundação. Embora a empresária tenha garantido que o esposo não faz mais parte do negócio, os parlamentares querem apurar se houve utilização da estrutura da corporação para favorecer a atuação da companhia.

Os deputados também querem a listagem de todos os policiais que tenham trabalhado para a empresa, o número de clientes, veículos recuperados, convocação de todos os funcionários e ainda farão uma solicitação ao Ministério Público do Trabalho para que fiscalizem a Black Hawk , uma vez que Lidiane informou que a empresa não assina carteira de trabalho.

Com as novas revelações, a CPI das Câmeras amplia o cerco sobre seguradoras, locadoras e empresas de recuperação, buscando identificar eventuais vínculos entre o setor privado e organizações criminosas.

Oitivas da CPI das Câmeras

No último encontro, realizado no dia 25 de agosto, o delegado Mauro César Júnior, titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), informou que o setor já movimentou aproximadamente R$ 11 milhões em um sistema criminoso identificado pela Operação Torniquete, que apura desmanches de veículos roubados e revelou o possível envolvimento de traficantes com empresas da área.

Para completar, o procurador-chefe da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Alexandre Chang, que revelou a dimensão da atuação irregular no setor. Segundo ele, existem cerca de 2,2 mil empresas atuando ilegalmente em todo o Brasil, das quais 449 estariam no Rio de Janeiro.

Chang explicou que essas associações e cooperativas de proteção mutualista sempre funcionaram de maneira informal e só agora, com a Lei Complementar 213, passam por um processo de regularização.

Sessão plenária

Para a sessão de hoje, foram convocadas 54 entidades do setor, das quais 13 confirmaram presença. Alguns dos convocados conseguiram habeas corpus prévios para evitar prisões durante a oitiva e para poder responder aos questionamentos sem risco de detenção. Um dos integrantes da CPI, Rodrigo Amorim (União Brasil), chegou a abordar o tema.

“Não precisa dessa enxurrada de ações judiciais. É só chegar aqui e se reservar no direito de ficar em silêncio”, argumentou.

A CPI das Câmeras investiga tanto o uso de sistemas de videomonitoramento por empresas privadas e órgãos públicos quanto a atuação dessas cooperativas de recuperação de veículos roubados e uma suposta associação com o crime organizado.

Um dos principais alvos é o sistema conhecido como Gabriel, operado pela Gabriel Tecnologia, cujo diretor executivo, Erick Coser, já esteve na comissão em agosto.

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Fonte: https://agendadopoder.com.br/tokio-marine-revela-pedido-de-resgate-e-cpi-das-cameras-quebra-sigilo-de-empresaria/