
Um grupo de ex-funcionários e atuais empregados da Meta acusou a empresa de restringir pesquisas que poderiam revelar riscos à segurança de crianças e adolescentes em seus dispositivos e aplicativos de realidade virtual (RV).
As denúncias foram apresentadas ao Congresso dos Estados Unidos e devem ser tema central de uma audiência no Comitê Judiciário do Senado nesta terça-feira (9), intitulada “Hidden Harms: Examining Whistleblower Allegations that Meta Buried Child Safety Research” (“Danos ocultos: examinando alegações de que alegam que a Meta enterrou pesquisas sobre segurança infantil”, na tradução literal).
Segundo reportagem do The Washington Post, quatro pesquisadores alegam que, após o vazamento de estudos internos por Frances Haugen em 2021, a companhia passou a utilizar sua equipe jurídica para revisar, editar e até vetar pesquisas consideradas “sensíveis”, especialmente relacionadas a menores de idade. O grupo afirma que os advogados buscavam criar “negação plausível” sobre potenciais efeitos negativos dos produtos da empresa.
Quais documentos da Meta foram apresentados ao Congresso?
- Entre os documentos entregues ao Congresso, há registros de orientações para evitar a coleta de dados que mostrassem a presença de crianças em ambientes de RV;
- Em um caso relatado na Alemanha em 2023, pesquisadores ouviram de um adolescente que seu irmão, com menos de dez anos, havia sido alvo de propostas sexuais de adultos em interações no VR;
- No entanto, segundo os pesquisadores, a chefia ordenou a exclusão da gravação e de registros escritos sobre esse relato. O relatório final apenas mencionou preocupações gerais de pais e adolescentes sobre aliciamento em ambientes virtuais;
- Jason Sattizahn, um dos pesquisadores envolvidos, disse ao Post: “Senti uma profunda tristeza ao ver a reação da mãe. O rosto dela mostrava, em tempo real, a percepção de que o que acreditava saber sobre a tecnologia da Meta estava completamente errado”;
- Ele afirmou, em depoimento, que foi demitido em abril de 2023 após conflitos sobre restrições às pesquisas. Sua parceira, também pesquisadora da empresa, pediu demissão no mesmo ano alegando não conseguir prosseguir com o trabalho de forma ética.
As denúncias foram organizadas com apoio da organização sem fins lucrativos Whistleblower Aid, a mesma que trabalhou com Frances Haugen. O grupo entregou milhares de páginas de mensagens internas, memorandos e apresentações de mais de uma década relacionadas aos serviços de realidade virtual da Meta.

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Pressões políticas
O debate ocorre em meio a pressões crescentes de autoridades estadunidenses. Em 2023, a Comissão Federal de Comércio (FTC) acusou a Meta de violar a lei de proteção infantil online e de enganar pais sobre o controle que tinham sobre as interações de seus filhos. A agência busca proibir a empresa de lucrar com dados de menores de 18 anos, incluindo em produtos de realidade virtual. A Meta contesta as acusações na Justiça.
Além disso, a companhia enfrenta críticas após casos criminais envolvendo interações entre adultos e menores por meio de seus dispositivos. Em 2021, um homem de 48 anos condenado por crimes sexuais usou aplicativos de VR para se conectar a uma menina de nove anos. Em 2022, outro homem sequestrou uma adolescente de 13 anos após contato pela plataforma. Ambos foram condenados pela Justiça dos EUA.
O foco das denúncias reforça questionamentos sobre o compromisso da Meta com a segurança de crianças e adolescentes em ambientes digitais, justamente em um momento em que a empresa aposta bilhões de dólares no desenvolvimento do chamado “Metaverso”.
O que disse a Meta
A Meta, por sua vez, nega as acusações. Em comunicado, a porta-voz Dani Lever afirmou que as alegações são baseadas em poucos exemplos “costurados para se encaixar em uma narrativa pré-determinada e falsa”.
Segundo ela, desde 2022, a empresa aprovou quase 180 estudos relacionados ao Reality Labs sobre questões sociais, incluindo segurança e bem-estar de jovens. Lever acrescentou que o trabalho resultou em atualizações de produto, como ferramentas de supervisão parental, e destacou que os dispositivos são destinados a usuários acima de 13 anos.
A companhia também justificou que a exclusão de dados envolvendo menores de 13 anos tem relação com leis de privacidade, como a Children’s Online Privacy Protection Act (COPPA), nos EUA, e o General Data Protection Regulation (GDPR), na União Europeia (UE), que proíbem a coleta de informações de crianças sem consentimento dos responsáveis. Pesquisadores, no entanto, contestam que houve consentimento nos casos em questão.

Mais problemas
Paralelamente, a companhia também enfrenta outras frentes de contestação. Nesta segunda-feira (8), o ex-chefe de segurança do WhatsApp entrou com uma ação judicial acusando a Meta de ignorar problemas de privacidade e segurança que colocariam em risco informações de usuários.
Em resposta, o porta-voz do WhatsApp, Carl Woog, classificou a ação como parte de “um roteiro familiar em que um ex-funcionário demitido por baixo desempenho vem a público com alegações distorcidas que deturpam o trabalho contínuo de nossa equipe”.
O post Meta “enterrou” pesquisas sobre riscos a crianças em RV, acusam ex-funcionários apareceu primeiro em Olhar Digital.
Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/09/09/pro/meta-enterrou-pesquisas-sobre-riscos-a-criancas-em-rv-acusam-ex-funcionarios/