11 de setembro de 2025
cientistas brasileiros apresentam fármaco que pode restaurar movimentos após lesão
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Bruno Drummont de Freitas, 31, durante processo de recuperação após sofrer um acidente de carro que o deixou tetraplégico, em 2018; ele recebeu a polilaminina 24 horas após o acidente e recuperou os movimentos, praticamente sem sequelas – Foto: Divulgação

Desenvolvido a partir de proteína da placenta, medicamento já permitiu que pacientes voltassem a andar; pesquisadores aguardam autorização da Anvisa para iniciar nova fase de testes

Pesquisadores brasileiros apresentaram nesta terça-feira (9) a polilaminina, um medicamento produzido a partir de uma proteína extraída da placenta humana que pode transformar o tratamento de lesões na medula espinhal. O fármaco, desenvolvido em parceria entre o laboratório Cristália e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostrou capacidade de restaurar parcial ou totalmente a movimentação de pacientes.

A descoberta é liderada pela bióloga Tatiana Coelho Sampaio, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, que pesquisa lesões medulares desde 2007. Foi ela quem identificou que a laminina, proteína presente na placenta, atua no sistema nervoso criando uma rede capaz de reestabelecer conexões entre neurônios. Reproduzida em laboratório, essa malha foi batizada de polilaminina. “É uma alternativa mais acessível e segura do que as células-tronco. Nossos estudos estão em estágio mais avançado, pois as células-tronco possuem imprevisibilidade após a aplicação”, destacou Tatiana.

Nos testes experimentais, oito pacientes receberam o medicamento diretamente na coluna, em até 72 horas após o acidente. Entre eles estavam um jovem de 31 anos, vítima de acidente de trânsito, e uma mulher de 27 anos, que sofreu queda. Ambos tiveram recuperação total ou parcial dos movimentos. Dos oito participantes, seis sobreviveram e apresentaram diferentes níveis de melhora. Casos como o de Nilma Palmeira de Melo, que voltou a ficar em pé, e de Guilherme, que recuperou mobilidade nos braços e no abdômen, ilustram o potencial da pesquisa. “Ficar em pé, porque o médico falou que eu não ficaria. Eu só faltava dançar de felicidade”, disse Nilma.

O bancário Bruno Drummond de Freitas também participou do estudo após sofrer grave lesão cervical em 2018. Ele relata que, duas semanas após a aplicação, conseguiu mexer o dedão do pé. “Na hora que eu só mexi o dedão do pé, na minha cabeça: ‘Tá bom, vou fazer o que com o dedão do pé?’”, lembra. O gesto, aparentemente pequeno, foi o início de uma reviravolta. Com o tempo, Bruno voltou a erguer as pernas, andar, correr e até dançar. “Hoje em dia, consigo me movimentar inteiro, claro que com certas limitações. Minha perna movendo. Aí, consigo levantar, consigo andar, dançar, voar. Consigo me movimentar aqui. Então, isso daqui, graças a Deus, me garantiu minha independência. Estou me movimentando. Pé. Tem movimento do pé”, comemora.

Antes dos testes em humanos, os estudos já haviam mostrado resultados animadores em animais. Em ratos, a resposta surgiu em apenas um dia. Em cães com medula rompida, a recuperação foi total em alguns casos. “Isso é uma coisa inédita. Porque nenhum estudo tinha demonstrado isso até o momento. No mundo. Se a gente buscar hoje, a gente não vai encontrar nenhum estudo no mundo com medicação atuando em regeneração medular que conseguiu isso”, afirmou o neurocirurgião Marco Aurélio Brás de Lima, que acompanha o projeto.

O laboratório aguarda agora autorização da Anvisa para iniciar a primeira fase oficial de estudos clínicos, prevista para cerca de cinco pacientes. Enquanto isso, já firmou parcerias com hospitais para coleta de placentas doadas por mulheres saudáveis, etapa fundamental para garantir a continuidade da pesquisa. Segundo o fundador do Cristália, Ogari Pacheco, “isso não é apenas uma conquista científica nacional, mas também a realização de um sonho para médicos como eu, que já testemunharam o sofrimento de pacientes com lesão medular”.

Brasil pode estar à beira de uma revolução médica capaz de devolver movimentos a pacientes antes condenados à imobilidade. Com mais de 25 anos de estudos, registro de patente e publicação internacional dos resultados, a polilaminina surge como uma nova esperança para milhares de pessoas.

Fonte: https://horadopovo.com.br/polilaminina-cientistas-brasileiros-apresentam-farmaco-que-pode-restaurar-movimentos-apos-lesao-medular/