11 de setembro de 2025
Grãos extraterrestres revelam detalhes da evolução da vida na Terra
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Micrometeoritos podem ser minúsculos, mas carregam pistas valiosas sobre a história da Terra e a evolução da vida. Diferentemente dos meteoritos, seus “irmãos maiores” que costumam ocupar vitrines em museus, esses grãos cósmicos passam despercebidos, embora, todos os dias, cerca de 50 toneladas de poeira espacial caiam em nosso planeta, quase sempre em partículas invisíveis a olho nu.

Em um artigo publicado recentemente na revista Communications Earth and Environment, pesquisadores descrevem análises de micrometeoritos fossilizados que chegaram à Terra há milhões de anos. 

Em resumo:

  • Micrometeoritos são minúsculos grãos cósmicos que caem diariamente na Terra;
  • Eles funcionam como cápsulas do tempo, preservando sinais da atmosfera antiga;
  • Análise dos isótopos de oxigênio em amostras revelou níveis passados de CO₂;
  • As concentrações eram semelhantes às atuais;
  • Isso ajuda a entender como os gases atmosféricos influenciaram a evolução da vida.
Este micrometeorito rico em metal (com apenas 0,4 milímetro de diâmetro) foi encontrado na calha de um complexo de apartamentos em Minnesota, nos EUA, em 2024. Crédito: Scott Peterson

Liderados por Fabian Zahnow, geoquímico de isótopos da Universidade do Ruhr, em Bochum, na Alemanha, cientistas extraíram traços de oxigênio atmosférico incorporados a essas partículas durante a travessia do espaço até o solo e estimaram que os níveis de dióxido de carbono (CO₂) no passado eram próximos aos de hoje.

Em vez de recolher amostras recentes em telhados ou lagos, eles decidiram olhar para o passado profundo. A equipe examinou mais de 100 kg de rochas sedimentares da Europa e identificaram 92 micrometeoritos ricos em ferro. Para completar o conjunto, foram incluídos outros oito de coleções pessoais, totalizando 100 espécimes, usados como cápsulas do tempo.

“História da atmosfera é a história da vida na Terra”

Durante a passagem pela atmosfera, essas partículas derretem e oxidam, absorvendo oxigênio do ar, que fica preso na estrutura do grão e permanece preservado por milhões de anos. Assim, ao analisar o material, os cientistas conseguem acessar informações diretas sobre a atmosfera antiga.

O segredo está nos isótopos de oxigênio, versões diferentes do mesmo elemento. As proporções entre os isótopos 16O, 17O e 18O se relacionam com a fotossíntese e a quantidade de CO₂ disponível em determinado período. Cruzando esses dados com simulações de modelos, a equipe de Zahnow conseguiu reconstruir aspectos da atmosfera terrestre de eras passadas.

E como Matt Genge, do Imperial College de Londres, na Inglaterra (que não participou do estudo), disse ao Eos.org, “a história da atmosfera é a história da vida na Terra”. 

Nove das esférulas investigadas pelo estudo, exibindo diferentes tipos de texturas externas: amostra da armadilha sedimentar antártica moderna (A), marga do Mioceno (B), marga calcária cretácea (C), paleossolo triássico (D), arenito arcósico triássico (E , F), halita permiana (G , H) e calcário carbonífero (I). Essas imagens foram obtidas antes do procedimento de limpeza para análise de isótopos de oxigênio. Crédito: Zahnow, F., Suttle, MD, Lazarov, M. et al.

Segundo Zahnow, a primeira coisa a se fazer foi garantir que os sinais originais não haviam sido alterados pelo contato com água terrestre. O risco de contaminação foi avaliado pela presença de manganês, um metal raro em grãos extraterrestres, mas comum em processos de alteração na Terra. A maioria das amostras apresentou manganês em quantidades significativas e foram descartadas. Apenas quatro micrometeoritos foram considerados realmente intocados para análises seguras.

Os resultados desses quatro grãos apontaram níveis de CO₂ entre 250 e 300 partes por milhão. Eles datam do Mioceno, há nove milhões de anos, e do Cretáceo Superior, há 87 milhões de anos. Os valores são ligeiramente menores que os atuais, que giram em torno de 420 partes por milhão.

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Análise de mais micrometeoritos deve refinar os dados

Apesar de coerentes com estimativas anteriores, os dados têm grande margem de incerteza. Genge classificou o estudo de Zahnow como “uma tentativa corajosa de capturar sinais frágeis de oxigênio antigo”. O desafio agora é coletar mais micrometeoritos bem preservados, especialmente de períodos em que os modelos sugerem níveis extraordinários de CO₂.

Confirmar com dados concretos se épocas como o Triássico tiveram concentrações anormais ajudará a entender como a vida reagiu ao excesso de gás carbônico. Dessa forma, esses grãos cósmicos minúsculos podem lançar luz sobre as grandes mudanças ambientais que moldaram a Terra.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/09/11/ciencia-e-espaco/graos-extraterrestres-revelam-detalhes-da-evolucao-da-vida-na-terra/