17 de setembro de 2025
Economista é demitido da estatal CDHU após gritar "sem anistia"
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Foto: Agência Brasil

A Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU), estatal vinculada ao governo de São Paulo, demitiu o professor e economista Ivan Paixão após ele realizar um protesto contra o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O episódio ocorreu no dia 5 de setembro, quando Tarcísio caminhava a pé para a B3, no centro de São Paulo, onde participaria de um leilão de concessão de rodovias. Ao perceber a passagem do governador, cercado por assessores e seguranças, o economista gritou duas vezes “sem anistia”, em referência ao projeto defendido por Tarcísio para beneficiar condenados pelos atos de 8 de janeiro, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ivan relata que estava tomando café com uma colega de trabalho em um restaurante próximo do prédio da CDHU, onde ele atua como consultor por meio da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), quando viu o governador passando pela rua rodeado de seguranças. Ivan e sua colega não estavam uniformizados e não portavam crachá identificando que trabalhavam na CDHU.

Na segunda-feira seguinte (8), Ivan foi informado de que estava desligado da consultoria. A ordem teria partido diretamente do presidente da CDHU, Reinaldo Iapequino, que apresentou um relatório com seu nome à Fipe. A informação foi confirmada pelo portal Metrópoles.

O episódio ocorreu na mesma semana em que o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento de Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe. Paralelamente, Tarcísio atuava nos bastidores do Congresso para viabilizar uma proposta de anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro.

Ele afirma ter gritado duas vezes “sem anistia”, em protesto à articulação que Tarcísio vinha empenhando naquela semana. O economista afirma que se manifestou de forma pacífica e sem ofensas. Tarcísio percebeu o grito e chegou a fazer um aceno com a cabeça, segundo Ivan.

Pouco depois do ocorrido, ele relata ter notado que uma pessoa, supostamente da equipe do governador, sentou-se em uma lanchonete do outro lado da rua e passou a mexer no celular, sem consumir nada.

Ele lembra que chegou a brincar com a situação, dizendo que devia estar sendo observado por um segurança de Tarcísio. O ex-funcionário suspeita que a pessoa tenha tirado fotos suas para poder identificá-lo.

“Segunda eu fui para o trabalho e falaram que o presidente da CDHU, o Reinaldo Iapequino, ligou no fim de semana para a Fipe, para os responsáveis do projeto, dizendo que tinha um relatório com o meu nome. E que era para me desligar imediatamente, sem explicar o porquê”, afirma o profissional ao portal Metrópoles.

Segundo ele, nem mesmo a empresa de consultoria tinha conhecimento do motivo do desligamento.

“O pessoal lá ficou meio assim, não sabia, mas o cara é o presidente da empresa [CDHU]. Pelo que as pessoas da Fipe me falaram, eles não sabiam o que estava acontecendo. O meu chefe até perguntou se tinha vazado algum vídeo meu, alguma coisa. Só que o presidente da empresa estava com o meu nome lá com ele, falou de dossiê, um relatório com tudo sobre mim e mandando me tirar da consultoria”, diz.

Segundo as informações do portal Metrópoles, internamente, os chefes de Ivan na consultoria afirmaram que a decisão era, de fato, por motivações políticas, que a ordem era de cima e que “não tinha o que fazer”. O economista atuava no projeto na CDHU havia cerca de um ano e meio.

Após o ocorrido, o clima entre os funcionários é de vigilância e receio de se manifestar, pelas redes sociais ou em ambientes de trabalho. “Onde está a liberdade de expressão que eles [bolsonaristas] tanto defendem? Do meu ponto de vista, os principais culpados são o Tarcísio, o grupo dele e o presidente da CDHU. A Fipe foi obrigada a me demitir”, lamenta Ivan.

Fonte: https://horadopovo.com.br/economista-e-demitido-da-estatal-cdhu-apos-gritar-sem-anistia-para-tarcisio/