17 de setembro de 2025
Nésio Fernandes participará das próximas eleições no ES
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Nésio Fernandes com o governador Renato Casagrande (foto: reprodução/Facebook)

VITOR VOGAS

Secretário estadual de Saúde durante quase todo o governo passado de Renato Casagrande (PSB), de 2019 a 2022, o médico sanitarista Nésio Fernandes afirma: “Participarei das eleições de 2026 no Espírito Santo”.

Desde antes de dirigir a Secretaria de Saúde, o catarinense, radicado no Espírito Santo, é filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), agremiação política que integra a Federação Brasil da Esperança (Fe Brasil) com o PT e o PV. Em 2026, Nésio será candidato por essa federação de esquerda.

Se o deputado federal Helder Salomão (PT), pré-lançado a governador no último sábado (13), for mesmo candidato ao Palácio Anchieta, Nésio será candidato a deputado federal – um dos 11 integrantes da chapa da Fe Brasil no Espírito Santo, a qual também terá, entre outros, os petistas Jack Rocha e João Coser.

Agora, se Helder, por algum motivo – decisão pessoal ou coletiva –, acabar se candidatando a mais um mandato na Câmara dos Deputados, Nésio diz que tem “disposição e disponibilidade” para ser o pré-candidato de PT, PV e PCdoB a governador do Espírito Santo, representando a mesma federação nessa disputa majoritária. Mas sublinha: somente “se for um movimento harmonioso, num cenário de construção coletiva e de consenso”. “Não farei disputas internas por essa posição.”

Nésio já foi candidato uma vez, sem sucesso nas urnas. Concorreu a deputado estadual pelo PCdoB, em 2018, no estado de Tocantins, onde trabalhou antes de vir para o Espírito Santo, a convite do governador Renato Casagrande (PSB), durante a transição de governos, no fim daquele ano. Após passar quase quatro anos à frente da Sesa, ele participou da equipe de transição do governo Lula (PT), no fim de 2022, em Brasília. De janeiro de 2023 a fevereiro de 2024, foi secretário nacional de Atenção Primária à Saúde. Atualmente, trabalha na própria empresa de consultoria em gestão para empresas privadas.

“Sou um quadro do sanitarismo brasileiro. Estabeleci vínculos profundos com o estado do Espírito Santo. Exerço aqui a minha cidadania, o meu direito a voto. Nunca me desvinculei da agenda do Espírito Santo, desde que vim para cá. E entendo que este momento da minha vida é adequado para eu participar do processo eleitoral aqui do Estado. A posição em que eu vou jogar será definida nos debates das próximas semanas. O certo é que eu estarei jogando no campo no ano que vem”, assegura o ex-secretário estadual de Saúde, aliado de primeira hora de Casagrande.

Para Nésio, a pré-candidatura de Helder a governador, fortemente impulsionada no último sábado, durante a posse do novo Diretório Estadual do PT, “é preciosa para a federação e pode se consolidar”. Segundo o ex-secretário, o deputado petista e ex-prefeito de Cariacica reúne características para ser candidato a governador.

“A federação tem, na figura do Helder Salomão, um quadro extremamente preparado. O Helder é um dos quadros mais leves da esquerda capixaba, do ponto de vista eleitoral. É muito gentil, não se envolve em polarizações desnecessárias, fez um governo muito bem avaliado… Não por acaso, foi o puxador de votos da nossa chapa para a Câmara em 2022”, elogia Nésio. Na última eleição geral, Helder foi o candidato a deputado federal mais votado do Espírito Santo, com mais de 120 mil votos.

Por outro lado, como recorda Nésio, o próprio Helder apresentou algumas condições para assumir uma pré-candidatura ao Palácio Anchieta em nome da Federação Brasil da Esperança: ele topa trocar a eleição de deputado federal pela disputa majoritária a governador se esse projeto contar com aval e apoio integral da direção nacional do PT e do próprio presidente Lula, se tiver sustentação política e financeira e se for construído um palanque forte no Espírito Santo.

Nésio pondera que Helder pode acabar optando pela renovação do mandato na Câmara (seria o seu quarto seguido). Se esse for mesmo o caso, o próprio ex-secretário disponibiliza o nome.

“O Helder colocou algumas condições para confirmar a pré-candidatura ao governo. Se essas condições não forem preenchidas, ou mesmo se forem preenchidas, ele ainda poderá escolher ser candidato a governador ou não. Nesse caso, eu também coloco meu nome à disposição da federação para, num ambiente de harmonia interna, sem disputas internas, também me posicionar como pré-candidato a governador do Estado.”

De modo muito franco, Helder se apresentou diante da militância, no último sábado, como alguém que vive um grande dilema pessoal entre ser ou não ser candidato a governador. Mais do que questões pessoais, há um cálculo estratégico a ser feito. Novamente, ele é a principal aposta para ser o puxador de votos da chapa da Fe Brasil à Câmara Federal. A meta da federação é eleger dois deputados federais no Espírito Santo, repetindo 2022.

Ora, se Helder desfalcar a chapa para disputar o governo, as chances de alcance dessa meta ficam ameaçadas. Não será impossível, mas, na certa, bem mais difícil, como o próprio Helder ponderou diante dos apoiadores.

Também por isso, Nésio agora dá um passinho à frente:

“Se a federação considerar que é necessário reforçar a chapa de federal e preservar a recondução do Helder para a Câmara, também guardo disposição e disponibilidade para ser o pré-candidato da federação a governador. Eu estou dizendo: vou participar da eleição do ano que vem, seja na posição de candidato a deputado federal, seja num espaço majoritário, como pré-candidato da federação a governador do Estado.”

Segundo Nésio, sua decisão sobre candidatura deverá ser tomada dentro dos próximos 60 dias.

Nésio defende “frente ampla” e diálogo com Ricardo e Arnaldinho

Ao contrário do que pode parecer em primeira leitura, Nésio Fernandes não defende que a Federação Brasil da Esperança tenha um candidato a governador a todo custo. Ao contrário, ele entende que as pré-candidaturas majoritárias (ao Senado, com Fabiano Contarato, e ao Governo do Estado) cumprem o papel estratégico de fortalecer a posição da federação na mesa de negociações eleitorais com representantes de outros campos, inclusive com as forças que gravitam em torno de Renato Casagrande.

A Casagrande, aliás, é devotada a lealdade incondicional de Nésio. O ex-secretário de Saúde avalia que as forças de esquerda concentradas na Fe Brasil devem estabelecer mais pontes e abrir frentes de diálogo com aliados do governador, inclusive o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) e o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido), citados nominalmente por ele. Ambos são postulantes à sucessão de Casagrande, dentro do movimento político-eleitoral liderado pelo governador.

Para Nésio, não se pode perder de vista o que realmente é mais estratégico: derrotar a “extrema-direita golpista” no Espírito Santo, como ele a classifica. Para isso, considera o ex-secretário, é fundamental a formação de uma frente ampla democrática, repetindo uma “tradição consolidada no Espírito Santo” – e reproduzida, sempre com êxito nas urnas, tanto por Casagrande como por seu antecessor no governo, Paulo Hartung.

Sendo assim, na avaliação de Nésio, PT, PV e PCdoB podem lançar um pré-candidato próprio a governador para ganhar força nas negociações e compor uma frente ampla (com outros aliados de Casagrande) já no 1º turno; ou manter a candidatura, concorrer no 1º turno (contra outros aliados de Casagrande) e, no 2º turno, formar a dita frente ampla, a fim de derrotar a extrema-direita. Para o ex-secretário, a primeira opção é a ideal: frente ampla já no 1º turno. Assim condenso o raciocínio de Nésio, exposto por ele desta forma:

“Eu entendo que o ideal para nós é construir no Espírito Santo uma frente ampla e estabelecer diálogos com Arnaldinho, com Ricardo Ferraço, com todo esse campo que orbita em torno da frente que é liderada pelo governador Renato Casagrande. Esse é o cenário ideal. E, para poder influenciar esse cenário ideal, nós precisamos ter candidaturas próprias, para podermos sentar na mesa e construir caminhos. Podemos nos sentar na mesa para disputar o 1º turno e construir uma frente ampla no 2º turno. No entanto, o ideal é uma frente ampla já no 1º turno”.

Ele prossegue: “Existe uma posição minha que é de lealdade à liderança do Renato Casagrande e à ‘tradição frentista’ que ele representa neste momento no Espírito Santo. Eu entendo que atrapalha o processo político majoritário no Estado qualquer movimento persistente que não respeite a estratégia que deu certo até agora”.

Para Nésio, os progressistas representados por PT, PV e PCdoB precisam realizar “um exercício de paciência e de muita sagacidade”. “A federação tem uma situação muito delicada em que precisa estabelecer mais pontes, mais vínculos com todos os campos políticos do estado.”

ES vira estado estratégico na disputa ao Senado

Nésio defende uma aproximação com o eixo liderado por Casagrande pensando, acima de tudo, na disputa para o Senado, considerada crucial para os rumos políticos do país, e da democracia brasileira, nos próximos anos. Condenado pelo STF na semana passada, Bolsonaro não esconde que está priorizando a eleição de senadores. A estratégia é fazer pelo menos um bolsonarista em cada unidade federada. O objetivo final é, na próxima legislatura, a partir de 2027, ter no Senado aliados suficientes para cassar ministros do Supremo.

Para barrar essa ofensiva sobre o Senado por parte das “forças golpistas”, como as chama Nésio, a estratégia reversa é, naturalmente, impedir a chegada de bolsonaristas à Câmara Alta. Como? Elegendo o maior número de senadores do campo progressista, comprometidos com a preservação das instituições e dos valores democráticos – ou não alinhados ao “golpismo”.

Nesse contexto, o Espírito Santo adquire importância política capital, embora pequeno geográfica, demográfica e economicamente. No Senado, a representação dos estados é paritária. Cada uma das 27 unidades federadas tem os mesmos três senadores. Cada uma elegerá dois senadores no ano que vem.

Assim como a deputada federal Jack Rocha, Nésio avalia que o Espírito Santo é um dos poucos estados que têm grandes chances – possivelmente, o único das regiões Sul e Sudeste – de eleger dois senadores do campo democrático e progressista que, uma vez no Senado, não farão o jogo do bolsonarismo: Casagrande e Contarato.

“Na avaliação do PCdoB, o Espírito Santo tem chances de ser um dos estados do Brasil onde nenhum senador do bloco mais à extrema-direita e golpista possa ser eleito. A estratégia nacional de impedir que a extrema-direita eleja um senador por estado terá talvez no Espírito Santo um dos cenários mais favoráveis. Isso porque aqui existe uma pulverização de candidaturas do campo da direita, o que fragmenta o eleitorado de direita. Existe um eleitor tradicional do campo mais democrático a antiextremista. E nós entendemos que a eleição precisa ser tratada do ponto de vista estratégico muito cirúrgico”, formula Nésio (que não é cirurgião, mas especialista em atenção primária).

“Aqui no Estado, o ideal será preservar as características de um estado que consolida frentes amplas e que possa ter no Renato Casagrande e no Fabiano Contarato os dois senadores eleitos pelo Espírito Santo”, finaliza o ex-secretário de Saúde.

Originalmente publicado no site ES360, produzido pela Redação da Rede Capixaba de Comunicação, integrante do Grupo Sá Cavalcante.

Fonte: https://horadopovo.com.br/nesio-fernandes-participara-das-proximas-eleicoes-no-es/