18 de setembro de 2025
Jeff Buckley, Madonna, David Lynch, Werner Herzog, Lucrecia Martel e
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“It’s Never Over”, Jeff Buckley, de Amy Berg

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Depois de ser revelada a abertura e encerramento é desvendado agora os destaques das secções Heart Beat e Da Terra à Lua. A 23ª edição do Doclisboa vai decorrer entre os dias 16 e 26 de Outubro de 2025.

Madonna, David Lynch, Boy George, Jeff Buckley… Cabem todos na secção Heart Beat, que reúne filmes que atravessam múltiplas formas de arte e expressão, celebrando o acto criativo. Destaca-se Lynch em dose dupla, primeiro com a estreia nacional de “Welcome to Lynchland”, de Stéphane Ghez, que mergulha na obra do surrealista-pop e dá voz a Kyle MacLachlan, Laura Dern e Isabella Rossellini, entre outros dos colaboradores mais próximos. É recuperado ainda “Duran Duran: Unstaged”, experiência lynchiana numa actuação dos britânicos Duran Duran, ícones synth-pop.

“Welcome to Lynchland”, de Stéphane Ghez

Ainda na mesma era, em “Boy George & Culture Club”, de Alison Ellwood, o cantor e os seus colegas de banda partilham pela primeira vez a sua história, num retrato íntimo e divertido da banda que revolucionou a era dos “New Romantics” e de Margaret Thatcher. “Becoming Madonna”, de Michael Ogden, parte de imagens e registos inéditos, num filme que acompanha a transformação da jovem outsider do Michigan na estrela pop mais poderosa e controversa do mundo.

Mais uma estreia nacional — “It’s Never Over”, Jeff Buckley, de Amy Berg. O filme retrata Buckley, cuja voz única e carreira promissora terminaram tragicamente com a sua morte em 1997. Com imagens e testemunhos privados, a cineasta Amy Berg revela o legado e o mistério de uma das figuras mais marcantes da década.

Diogo Varela Silva regressa ao festival com “Soco a Soco”. Nos anos 1970, Orlando Jesus foi mais do que um pugilista: tornou-se símbolo de uma Lisboa dura e marginal. É um retrato que preserva a sua memória e a da cidade que o formou, num contraste brutal com a Lisboa actual. “Pele Nómada”, de João Fiadeiro e Aline Belfort, é um filme sobre memória e transformação. A partir da Lisboa marcada pela gentrificação, acompanha Fiadeiro no processo de embalar e transportar o percurso do atelier RE.AL para ser arquivado em Serralves. O filme interroga a forma como o passado ressoa no futuro e como os lugares guardam — ou não — as marcas da criação artística. Em “Estava Escuro na Barriga do Lobo”, Joana Botelho acompanha Sara Carinhas numa viagem pelas suas memórias pessoais (avós, lobos, festas, fotografias e imaginação) que a conduzem até à criação de “Última Memória”, estreada em 2023 no Teatro São Luiz. Entre jogo e confissão, o filme — que no Doclisboa será acompanhado de uma performance de Sardinhas — traça um retrato íntimo da artista, onde a memória se cruza inevitavelmente com a cena.

“Ghosts Elephants”, filme de Werner Herzog

“One to One: John & Yoko”, de Kevin Macdonald e Sam Rice-Edwards mergulha no universo musical, artístico e político de John Lennon e Yoko Ono, tendo como pano de fundo uma (outra) época turbulenta da história americana. No centro está o concerto solidário One to One para crianças com necessidades especiais — o único concerto completo de Lennon após os Beatles. O filme apresenta arquivos raros e inéditos, de chamadas telefónicas pessoais a filmes caseiros, bem como imagens remasterizadas do concerto.

Nesta edição do festival, celebram-se os 100 anos do nascimento de Luciano Berio com um programa especial dedicado ao compositor italiano. Serão apresentados quatro filmes raros e essenciais que exploram a relação entre música, imagem, memória e experimentação. “Il canto d’amore di Prufrock” (1967), de Nico D’Alessandria, inspirado no poema homónimo de T. S. Eliot, combina a declamação de Carmelo Bene com a música de Berio. “Sirènes” (1961), de Emile Degelin, é um filme experimental baseado no poema The Sirens, de James Joyce, em diálogo com música eletrónica e sonhos marítimos. “The Colours of Light” (1963), de Bruno Munari e Marcello Piccardo, investiga luz e cor com a presença conceptual de Berio. Por fim, “Voyage to Cythera” (1999), de Frank Scheffer, centra-se na terceira parte da “Sinfonia de Berio”, transformando citações musicais de Mahler, Stravinsky e Boulez num fluxo contínuo de sons e imagens, guiado pelo próprio compositor. Este programa oferece um percurso singular pelas interseções entre cinema, literatura e música, revelando o gesto radical e poético de Berio.

“Becoming Madonna”, de Michael Ogden

Agora na secção Da Terra à Lua, dois pesos pesados do cinema mundial — Werner Herzog e Lucrecia Martel. Começando pela cineasta argentina, com “Landmarks”. Em 2009, Javier Chocobar, líder da comunidade indígena de Chuschagasta, é assassinado por três homens que alegam ser donos da terra. O filme acompanha a luta de nove anos por justiça, combinando vozes e imagens da comunidade com footage do tribunal, para explorar as consequências do colonialismo e da expropriação de terras. Werner Herzog regressa ao festival com “Ghosts Elephants”, um filme que questiona, à boa maneira do cineasta alemão, se certas epopeias não são melhores se ficarem por concluir… Em “Ghost Elephants”, o explorador Steve Boyes parte com três mestres rastreadores da Namíbia numa busca ‘à la Moby Dick’ pelos raros elefantes-fantasma de Angola. O filme acompanha a missão, despertando questões existenciais e reflectindo sobre a conservação ambiental e cultural em África. Destaque ainda para “Cover-up”, dirigido pela oscarizada Laura Poitras em colaboração com Mark Obenhaus. O filme, acabado de chegar do Festival de Veneza, explora a carreira do jornalista Seymour Hersh, jornalista premiado com o Pulitzer, que revelou os escândalos de tortura do exército dos EUA nas guerras do Vietnam e Iraque.

Voltando a Portugal, um filme importante e inédito: “As Brigadas Revolucionárias na Luta Contra a Ditadura (1970-1974)”, de Luiz Gobern Lopes. Entre 1970 e 1972, as Brigadas Revolucionárias lutaram contra a ditadura portuguesa, o capitalismo, o colonialismo e o imperialismo. Este documentário traça a sua história única, desde a implantação da Ditadura em 1926 até ao aparecimento e ação desta organização antifascista, as cisões entre operacionais e o culminar de uma história de resistência que desagua no 25 de Abril de 1974.

A programação completa será anunciada a 25 de setembro, na Culturgest, em Lisboa. 

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Fonte: https://comunidadeculturaearte.com/jeff-buckley-madonna-david-lynch-werner-herzog-lucrecia-martel-e-laura-poitras-em-destaque-no-doclisboa/