
Foto: Rodrigo Costa/Alesp
Guilherme Cortez (PSOL) denunciou o vínculo de doadores de Tarcísio com o crime organizado e critica “milicianização” do Estado
Ao subir à tribuna da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) nesta terça-feira (15), o deputado Guilherme Cortez (PSOL) fez duras críticas ao governo de São Paulo, apontando que o Estado não garantiu a proteção do delegado Ruy Ferraz, assassinado na noite de segunda-feira (14), em Praia Grande, no litoral paulista.
“O Estado de São Paulo falhou em proteger o delegado Rui Ferraz. Assim como falha no combate ao crime organizado. Hoje é um dia triste, lastimável, e por isso, presidente, eu queria pedir a compreensão dos meus colegas para fazermos um minuto de silêncio em memória do Rui Ferraz, esse bravo delegado que, lamentavelmente, nos foi tirado na última noite por combater o crime organizado”, declarou Cortez.
Ele é considerado um dos principais nomes nas investigações sobre a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que o teria jurado de morte desde 2006. Um agente público “que há pelo menos 20 anos vinha travando uma guerra contra o crime organizado, contra o PCC no nosso Estado, e por isso estava sendo jurado de morte”, apontou o parlamentar.
“Eu quero me solidarizar com todos os policiais, civis, militares, todos os agentes da segurança pública do nosso Estado, com os familiares, com os amigos, com os entes queridos do Rui, com todo mundo que está sentindo mais inseguro, que está triste, que está com medo, que está sentindo que, se o Rui foi alvo desse crime, qualquer pessoa no nosso Estado está à mercê do crime organizado”, afirmou Guilherme.
Durante a fala, ele chamou a atenção para o que classificou como “milicianização” do Estado paulista, denunciando a infiltração e a presença de membros da facção criminosa PCC em órgãos da administração pública. “A gente está, infelizmente, constatando o que falávamos que ia acontecer desde a campanha eleitoral (em 2022). Estamos vendo a milicianização do Estado de São Paulo. Estamos vendo o crime organizado, sobretudo o PCC, se infiltrar em todos os ramos do nosso Estado: na política, na Faria Lima, no agronegócio.”
Assista o vídeo:
O deputado fez um alerta contundente sobre a escalada do crime organizado em São Paulo e acusou o governo estadual de permitir a infiltração de facções criminosas nas estruturas públicas. “Quando o Tarcísio foi candidato a governador, a gente dizia que ele ia trazer tudo de ruim do Rio de Janeiro para cá. E, lamentavelmente, o Rio de Janeiro já há muitos anos vem sofrendo com a infiltração do crime organizado na sua política. E estamos vendo isso acontecer aqui no Estado de São Paulo também.”
“Por exemplo, o senhor Diogo Costa Cangerana, policial militar que trabalhava na segurança do governador Tarcísio de Freitas, que até pouco tempo atrás fazia parte da Casa Militar do governo do Estado de São Paulo, e que agora está preso, acusado de abrir contas para que o PCC lave dinheiro.”
“Mas não é só ele. A senhora Maribel Gollin, a sexta maior doadora individual da campanha do governador Tarcísio, que sozinha doou meio milhão de reais para o Tarcísio ser governador. E, apesar dessa gentileza, o Tarcísio disse que não a conhece. Mas quem conhece ela é a Polícia Federal”, citou. “E a Polícia Federal está investigando a Maribel por relação com o Primeiro Comando da Capital. Mas não é só ela. Quem dera ela fosse a única doadora do governador com vínculo com o PCC. Também o senhor Rui Bernardini, que é acionista do Banco Luso Brasileiro, também está sendo investigado por ser utilizado para lavar dinheiro para o PCC.”
“Algumas semanas atrás, o Governo Federal — e que bom que temos o Governo Federal disposto a combater o crime de verdade no nosso Estado — realizou a maior operação da história contra o crime organizado”, citou. “E, ao contrário daqueles que acham que o centro, o cérebro do crime organizado está na periferia, a Polícia Federal encontrou negócios do PCC — sabe onde, deputada Bebel? (deputada Maria Isabel Noronha, do PT, presente à sessão) — na Faria Lima.”
Ao prosseguir, Guilherme relacionou o apoio dos donos de fintechs, parte deles acusados de lavar dinheiro do crime, a uma eventual candidatura do bolsonarista à Presidência da República em 2026. “A Faria Lima que diz para todo canto que já tem candidato a governador, o governador Tarcísio de Freitas. E qual não foi a surpresa quando a Polícia Federal constatou que o Primeiro Comando da Capital lavava dinheiro na Faria Lima através dos bancos digitais, de pequenas movimentações em bancos digitais”, citou.
“Vocês lembram do vídeo do PIX, do Nikolas Ferreira, lá no começo do ano, que ele falava que o governo queria investigar o que estava sendo feito com o PIX? Pois bem, criou todo um pânico na população de que o PIX ia ser taxado, de que o PIX ia ser monitorado. Sabe quem se beneficiou com isso? Mais uma vez, o PCC. O PCC aproveitou a fake news do PIX, do Nikolas, para lavar dinheiro em bancos digitais, em fintechs, sem ser monitorado.”
No início do ano, informações falsas sobre uma suposta taxação ou monitoramento do PIX por parte do governo Lula foram difundidas nas redes por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na época, Nikolas publicou vídeos e mensagens afirmando que o governo queria “vigiar” ou “controlar” as transações feitas por meio do sistema de pagamentos, o que gerou desinformação e pânico nas redes sociais.
“Então, para qualquer lado que a gente olhe, a gente vê o PCC se infiltrando na política. O segurança do governador do Estado de São Paulo, que trabalhava na Casa Militar do Palácio dos Bandeirantes, preso, acusado de lavar dinheiro para o PCC?”, apontou. “Os principais e maiores doadores da campanha do governador, investigados por lavar dinheiro para o PCC? Isso não é estranho?”, alertou.
Com tom firme e provocador, Guilherme Cortez questionou o silêncio da chamada “bancada da bala” diante das denúncias de infiltração do crime organizado no governo estadual e da morte do delegado Rui Ferraz. “Cadê os deputados da bancada da bala que dizem aqui que são valentes no combate ao crime e que apoiam esse governo que está infiltrado pelo crime organizado, que não é capaz de proteger os nossos policiais, como não foi capaz de proteger o delegado?”
“Cadê os deputados da segurança pública? Cadê os deputados ‘linha dura’ no combate ao crime? O que eles têm a dizer de tantos aliados, apoiadores do governador, investigados e até presos por relação com o crime organizado? Vocês têm que responder isso para os seus eleitores que votaram em vocês com a promessa de que vocês vão combater o crime, mas vocês estão apoiando um governo que permitiu a infiltração do crime organizado no Estado de São Paulo”, cobrou.
“A gente tem que interromper a milicianização do nosso Estado, que estamos vendo. Não podemos viver o que está acontecendo com o Rio de Janeiro, que é deputado do crime organizado, é conselheiro do crime organizado, é secretário do crime organizado. Não podemos chegar nesse ponto. Mas o governo do Estado de São Paulo, com a sua péssima política de segurança pública, que não tem sido capaz de enfrentar as cabeças do crime, só gera mais insegurança, só descredibiliza a polícia, sequer tem tido a capacidade de proteger os nossos policiais civis e militares”, denunciou o deputado do PSOL.
Por fim, Cortez criticou a manutenção da sessão durante o velório do delegado Rui Ferraz, realizada nesta terça-feira na Alesp, afirmando que a Casa legislativa deveria estar em luto e respeito nesse momento tão doloroso. “Eu acho que essa sessão não devia estar acontecendo em respeito ao delegado Rui, para que se pudesse participar do enterro dele, em consideração à população do Estado de São Paulo, que merece respeito, que merece segurança e que não pode ver o crime organizado mandando no nosso Estado.”
Fonte: https://horadopovo.com.br/deputado-critica-falha-de-tarcisio-na-protecao-ao-delegado-ruy-ferraz-e-denuncia-infiltracao-do-pcc/