
A primeira sessão de depoimentos da CPI dos roubos de carros da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), realizada nesta segunda-feira (22), foi marcada por momentos de tensão logo no início.
O presidente da comissão, deputado Alexandre Knoploch (PL), repreendeu o CEO da Global – Clube de Benefícios do Brasil, Ricardo de Oliveira, após uma troca de palavras considerada intimidadora.
De acordo com o relato, o executivo perguntou a um servidor se havia sido ele o responsável por sua intimação e afirmou que “era bom de guardar fisionomia”. A fala provocou reação imediata do presidente da CPI.
“Não iremos aceitar esse tipo de intimidação. Na próxima vez, o senhor será processado. Se isso acontecer durante a CPI, será preso em flagrante”, advertiu Knoploch.
Reação firme da comissão
O episódio reforçou a postura de tolerância zero da comissão diante de qualquer tentativa de constrangimento durante os trabalhos. Para os parlamentares, a intenção é manter as oitivas focadas na apuração do esquema de roubos de veículos, considerado um dos crimes mais recorrentes no estado.
O colegiado tem buscado esclarecer a relação entre seguradoras, empresas de proteção veicular e a atuação de quadrilhas especializadas, aprofundando as investigações sobre possíveis falhas e brechas exploradas por criminosos.
Suspeitas de sonegação fiscal
Já durante a oitiva, o gestor da empresa MAC Assistência 24h, Marcos David Fuerte, tio da presidente da RioBen, Nathalia Paiva David, foi questionado sobre quais tributos sua empresa recolhe. Ele respondeu citando “ISS e FGTS”. A declaração foi prontamente corrigida pelo parlamentar. “FGTS não é imposto.
Os três principais tributos que o senhor poderia pagar são: Imposto de Renda, recolhido na declaração ou na fonte; ISS, por ser prestador de serviços; e ICMS, caso venda produtos”, explicou Luiz Paulo, decano da Casa.
O episódio ocorreu após o deputado Rodrigo Amorim (União) levantar denúncias sobre um dos principais pontos investigados pela CPI: a sonegação de impostos.
“A cada oitiva, percebemos uma teia de relações: uma empresa de um familiar contratando outra, que por sua vez contrata o mesmo dono que já foi presidente. Até aqui, nada de ilegal, pois são empresas privadas. Mas todas essas entidades estão amparadas pelo artigo 250 da Constituição Federal, ou seja, não pagam impostos”, afirmou o parlamentar.
Amorim ainda destacou que associações e cooperativas, por natureza, não possuem finalidade lucrativa, mas podem estar sendo utilizadas para mascarar ganhos privados. “Associações e cooperativas, a princípio, não têm finalidade lucrativa. Quando se disfarça essa finalidade contratando empresas do mesmo grupo familiar, isso se torna a forma mais torpe e imunda de mascarar o lucro”, disse.
O deputado sugeriu que a CPI estabeleça diálogo com a Delegacia Fazendária para aprofundar as investigações. Segundo ele, empresas terceirizadas e quarteirizadas ligadas ao setor não apenas deixam de pagar tributos, mas também estariam alimentando a cadeia de roubos de carros no estado.
Novos depoimentos e diligências
Além do depoimento de Ricardo de Oliveira, a CPI segue ouvindo representantes do setor para analisar dados e confrontar informações obtidas em diligências recentes. Na semana anterior, os deputados estiveram no presídio de Gericinó, onde conversaram com presos envolvidos no esquema, em busca de elementos que ajudem a mapear a estrutura das organizações criminosas.
O relatório final da comissão deve reunir documentos, depoimentos e diligências que sustentem propostas de medidas legais e administrativas para combater o roubo de veículos no estado.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/cpi-dos-roubos-de-carros-na-alerj-tem-inicio-tenso-com-repreensao-a-executivo/