
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abrem nesta terça-feira (23) a 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O encontro acontece em um cenário de tensão inédita entre os dois países, que acumulam 201 anos de relações diplomáticas, mas nunca haviam enfrentado divergências tão profundas em uma sessão da ONU.
Discursos em rota de colisão
Lula e Trump devem expor visões de mundo diametralmente opostas. Enquanto o brasileiro pretende defender o multilateralismo, a união em torno das pautas climáticas e soluções negociadas para conflitos como os da Faixa de Gaza e da Ucrânia, o líder estadunidense deve reforçar a supremacia dos EUA diante de outras potências, refutar a agenda ambiental e renovar o apoio a Israel.
A expectativa é que os Estados Unidos sejam o principal alvo da fala de Lula, mesmo sem citações nominais. Ele deve usar a tribuna para criticar a política de tarifas adotada por Trump, que atingiu diretamente o Brasil. O presidente vem classificando as medidas como “chantagem econômica” e pretende transformar esse argumento em bandeira de defesa da soberania nacional.
Escalada de sanções
O clima se acirrou ainda mais nas últimas 24 horas, com o anúncio de novas sanções dos EUA. Entre as medidas, está a aplicação da Lei Magnitsky a autoridades brasileiras e à esposa do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Em resposta, o Itamaraty divulgou nota dura em que repudiou a decisão “com profunda indignação” e afirmou que “o Brasil não se curvará a mais essa agressão”. O posicionamento deve pautar o tom de Lula no púlpito da Assembleia.
Desde o início da crise, interlocutores do Planalto e do Itamaraty tentam abrir canais de diálogo com Washington, mas sem sucesso. As conversas ficaram restritas ao presidente Trump e ao secretário de Estado, Marco Rubio, sem margem para negociações.
Bastidores e possível encontro
Tradicionalmente, o Brasil abre os discursos, seguido pelos Estados Unidos. A sessão será precedida pela fala do secretário-geral da ONU, António Guterres, e da presidente da Assembleia Geral, Annalena Baerbock.
Há expectativa de que Lula e Trump possam se cruzar nos bastidores. O encontro, caso ocorra, será breve, na antessala da Assembleia. Será a primeira vez que os dois se encontrarão desde a posse de Trump em janeiro, mas auxiliares do governo brasileiro não demonstram entusiasmo com a possibilidade.
COP30 e o papel do Sul Global
Além das críticas ao protecionismo dos EUA, Lula pretende destacar a realização da COP30 em Belém, marcada para novembro. Ele já chamou o evento de “COP da verdade” e deve cobrar compromissos de países desenvolvidos no financiamento de ações climáticas. Trump, por sua vez, rejeita a agenda ambiental, retirou os EUA do Acordo de Paris e já indicou que não comparecerá ao encontro na Amazônia.
Outro ponto central do discurso do presidente brasileiro será a defesa da maior participação do chamado Sul Global nas decisões internacionais. Em sintonia com parceiros do Brics, como China e Índia, Lula vai defender financiamento para países em desenvolvimento e maior representatividade no Conselho de Segurança da ONU, incluindo a criação de novas cadeiras permanentes.
Reunião com Guterres
Pouco antes da abertura oficial, Lula terá uma reunião rápida com António Guterres na sede da ONU. O encontro deverá servir para alinhar posições sobre a pauta ambiental e os conflitos internacionais que dominarão a Assembleia.
O discurso de Lula, marcado para as 10h (horário de Brasília), deve ser acompanhado de perto por líderes internacionais. Em seguida, Trump subirá à tribuna para apresentar sua versão sobre o papel dos EUA no mundo, consolidando um dos embates diplomáticos mais aguardados da conferência.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/lula-e-o-1o-lider-mundial-a-discursar-na-abertura-da-assembleia-geral-da-onu-acompanhe-ao-vivo/