
O processo judicial contra o ‘rapper’ Mo Chara, do trio de rap norte-irlandês Kneecap, por “delito terrorista” foi arquivado hoje pela justiça britânica, devido a um erro processual.
“O processo foi iniciado ilegalmente e, portanto, é nulo”, declarou o juiz do tribunal criminal de Woolwich, no sul de Londres, Paul Goldspring, provocando gritos de alegria entre os apoiantes presentes na audiência.
Mo Chara (cujo nome verdadeiro é Liam O’Hanna, ou Liam Og O Hannaidh em gaélico) tinha sido acusado de manifestar apoio ao Hezbollah, movimento islâmico xiita libanês classificado como organização terrorista no Reino Unido, por mostrar uma bandeira durante um concerto em novembro de 2024.
No exterior do tribunal, alegou que a acusação era uma tentativa motivada politicamente para silenciar o apoio da banda aos palestinianos e prometeu: “Não ficaremos calados”.
A primeira-ministra da Irlanda do Norte, Michelle O’Neill, saudou a decisão, dizendo que as acusações faziam parte de “uma tentativa calculada de silenciar aqueles que se levantam e se manifestam contra o genocídio israelita em Gaza”.
Desde a acusação do cantor em maio passado, o grupo viu a sua notoriedade disparar, mas também sofreu vários cancelamentos de concertos em países como Alemanha e Áustria.
Os membros de Kneecap também foram impedidos de viajar até à Hungria, tiveram a entrada proibida no Canadá e desistiram de uma digressão nos Estados Unidos.
Mo Chara afirmou em várias entrevistas que não sabia como era a bandeira do Hezbollah e que o vídeo que levou à sua acusação havia sido retirado do contexto.
Numa primeira audiência em junho, os advogados do ‘rapper’ afirmaram que a sua acusação tinha sido formalmente apresentada fora do prazo legal de seis meses.
Uma outra investigação policial também foi encerrada em julho por não haver provas suficientes de crime nos comentários contra Israel proferidos em junho no festival de Glastonbury, no Reino Unido.
Durante o concerto, os Kneecap acusaram Israel de ser um Estado “criminoso de guerra” e exortaram a multidão a repetir insultos contra o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer.
A polícia continua a investigar Bob Vylan, outra banda, que gritou “Morte, morte às IDF!”, sigla que significa Forças de Defesa de Israel, o exército israelita, também no festival de Glastonbury.
O trio da Irlanda do Norte, que inicialmente chamou a atenção ao fazer rap em gaélico irlandês e denunciar a repressão britânica na Irlanda do Norte, alcançou a notoriedade em 2024 com o seu álbum “Fine Art” e um filme docudrama, “Kneecap”, premiado no Festival de Cinema de Sundance, nos Estados Unidos e indicado pela Irlanda para os Óscares.
O grupo atuou em Portugal em 2024, no Festival SBSR.
Fonte: https://comunidadeculturaearte.com/tribunal-britanico-anula-processo-relacionado-com-terrorismo-contra-os-kneecap/