
A rejeição da PEC da Blindagem no Senado abriu uma crise entre as duas Casas do Congresso e colocou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), sob pressão, informa a Folha de S. Paulo. Deputados afirmam que houve quebra de acordo por parte do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e cobram de Motta uma resposta mais firme para preservar a autoridade da Câmara.
A proposta, que previa a necessidade de autorização do Congresso para abertura de processos criminais contra parlamentares, foi aprovada na Câmara por 353 votos a 134. O empenho pessoal de Motta foi decisivo: ele telefonou para deputados e mobilizou líderes aliados para garantir a votação. Nos bastidores, dizia-se que havia um compromisso de Alcolumbre para apreciar o texto rapidamente.
A decisão do Senado de enviar a matéria para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) foi interpretada como uma mudança de rota. O colegiado rejeitou a proposta por unanimidade, em meio a forte pressão popular e críticas nas redes sociais contra deputados que apoiaram a medida. A derrubada gerou desgaste e levou alguns parlamentares a pedir desculpas a eleitores.
Cardápio de retaliações
Líderes de grandes partidos discutem agora como reagir. Entre as medidas cogitadas estão atrasar a tramitação de projetos de interesse dos senadores e acionar a CPI do INSS para ampliar o foco das investigações sobre o Senado. Deputados também condicionam o avanço do projeto de redução das penas aos condenados pelos atos golpistas a um entendimento entre as duas Casas.
A pressão se estende ainda à exigência de quebra de sigilo dos gabinetes do Senado visitados pelo lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, acusado de operar desvios no instituto. Alcolumbre barrou a divulgação dessa informação, mas integrantes do centrão prometem retomar a ofensiva.
Desgaste da imagem de Motta
Para deputados, o episódio expôs fragilidade da liderança de Hugo Motta e abalou sua relação com Alcolumbre, antes considerada estreita. Até a quarta-feira (24), aliados de Motta afirmavam que o senador não atendia suas ligações. Os dois voltaram a interagir em um jantar em homenagem ao ministro Luís Roberto Barroso, que se despediu da presidência do Supremo Tribunal Federal (STF).
Um aliado do presidente da Câmara avalia que, se houve de fato um acordo, Motta deveria expor publicamente para proteger os deputados que votaram a favor da PEC. Outro interlocutor, porém, afirma que ele prefere evitar embates diretos. Questionado, Motta negou traição: “Não tem sentimento de traição nenhuma. Até porque temos a condição de saber que não obrigatoriamente uma Casa tem que concordar 100% com aquilo que a outra aprova. Já tivemos vários episódios em que o Senado discordou da Câmara e a Câmara discordou do Senado. Isso é natural da democracia e do funcionamento do Congresso.”
Impasses à frente
O desgaste aumentou as resistências a projetos polêmicos. O deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator da proposta de redução de penas aos condenados pelo 8 de Janeiro, afirmou temer que o Senado engavete a medida caso ela seja aprovada na Câmara. “Não dá para pacificar o país se a Câmara e o Senado estão em guerra”, disse.
Uma reunião para tratar da crise estava prevista para quarta-feira (24), após o jantar no STF, mas Alcolumbre cancelou o encontro. Paulinho afirmou que tentará retomar as conversas na próxima semana, ressaltando que, sem acordo com o Senado, o projeto não terá avanço.
Enquanto isso, cresce no plenário da Câmara o discurso de que nada de interesse dos senadores será votado com agilidade. A disputa reacende a rivalidade entre as Casas e amplia a desconfiança sobre futuros acordos políticos.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/deputados-pressionam-hugo-motta-a-retaliar-senado-apos-enterro-de-pec-da-blindagem/