
Celebrados no dia 26 de setembro pela Igreja Católica, São Cosme e São Damião são conhecidos como irmãos gêmeos e médicos que, ainda no século III, dedicaram a vida a cuidar dos doentes sem cobrar por seus serviços. Mártires da fé cristã, eles se tornaram símbolos de generosidade, cura e devoção popular. No Brasil, sobretudo no Norte e no Nordeste, a tradição de homenagear os santos ganhou um sabor especial: a distribuição de doces às crianças, gesto que mistura fé, partilha e alegria coletiva.
Em São Luís, a data é marcada por ruas enfeitadas, rezas, promessas e filas de crianças que esperam os saquinhos de bombons. Entre os devotos que reforçam essa tradição está a professora Ana Lídia, de 54 anos, moradora da capital e participante ativa da festa desde a infância. Ela conta que sua relação com São Cosme e Damião começou ainda menina, quando acompanhava os vizinhos que distribuíam bombons no bairro.
Com o tempo, a devoção virou compromisso pessoal e coletivo: “Ganhei de presente um saquinho de bombom e a pessoa me disse: ‘se tu quiser ter saúde e muita fé, continue distribuindo bombom porque você é uma pessoa muito amiga’. Foi daí que comecei, já com 21 anos, e nunca mais parei”, lembra Ana Lídia.
Todos os anos, ela organiza sua própria celebração, que começa com oração, missa e vela acesa. A distribuição acontece na porta da casa da mãe, no Centro, onde crianças e até idosos recebem os doces. “Cada ano incluo algo novo: um doce diferente, algo que as crianças gostem. Para mim, não é só tradição, é um fortalecimento da fé”, destaca.
Para Ana Lídia, a devoção ultrapassa o gesto simbólico do bombom. “Essa festa tem tudo para se manter viva, porque é também uma corrente solidária. Tem quem distribua cestas, quem ajude de outras formas. O doce é só um motivo para reunir pessoas e falar de fé, saúde e ternura.”
Ainda que em algumas regiões a tradição tenha enfraquecido, em São Luís ela resiste com vigor. E, para quem participa, a festa é mais do que uma memória afetiva: é um gesto de fé transmitido de geração em geração. Assim como Cosme e Damião, que dedicaram suas vidas à cura e ao cuidado, os devotos encontram na distribuição de doces uma forma de espalhar esperança e convivência comunitária.
Herança
Desde setembro de 1996, Raydenisson Sá e família entregam bombons e doces no bairro Fé em Deus. È uma promessa deixada pela avó materna para a mãe dele, após o falecimento em maio do mesmo ano. Este ano, Segundo Raydenisson, pelo menos 700 saquinhos de bombons serão entregues a partir das 17h30, com bolo, pipoca, cremosinho. A maior parte dos doces também vem de doações das próprias pessoas da comunidade e amigos da família.
“Na minha casa a promessa com o tempo foi dedicada à Menina da Ponta D’areia e Dona Rosa Menina, que é menina da jussareira, que são duas entidades crianças do tambor de mina”, disse Raydenisson. E complete que ele e os irmão já estão engajados Nessa promessa desde sempre. Agora, além deles, a filha de 8 anos e a sobrinha de 13 dias, também perpetuarão a tradição e promessas deixadas pela avó.
Santos Gêmeos
São Cosme e Damião eram irmãos gêmeos médicos, mártires cristãos venerados no século III no Império Romano, que curavam doentes sem cobrar por seus serviços. Sua celebração no Brasil, especialmente em 27 de setembro, envolve a distribuição de doces às crianças e é marcada pelo sincretismo com os orixás Ibeji das religiões afro-brasileiras, que os associam aos deuses gêmeos da pureza e da alegria das crianças.
Celebração em duas datas
No Brasil, a Igreja Católica celebra a memória dos santos em 26 de setembro. No entanto, a data de 27 de setembro é mantida por algumas tradições religiosas, como a Umbanda e outras de matriz africana.
A tradição de distribuir doces no dia 27 de setembro é uma prática enraizada nas religiões afro brasileiras. Nesse dia, é celebrada a entidade Ibeji, uma representação dos gêmeos, sincretizada com os santos católicos.
A festa de São Cosme e Damião também celebra o sincretismo religioso, que ocorreu quando escravizados e seus descendentes encontraram na fé cristã uma forma de expressar sua própria cultura e espiritualidade, muitas vezes ligada a seus orixás e divindades.
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Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/09/sao-cosme-e-damiao-em-sao-luis-mantem-viva-a-tradicao-da-partilha/