
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), divulgou nesta terça-feira (7) um vídeo pedindo desculpas pelo deboche feito durante coletiva sobre a crise de intoxicações por metanol em bebidas adulteradas, que deixou ao menos 10 mortos e cerca de 170 contaminados no Estado.
Durante a entrevista, o governador relembrou o tom de desdém de seu guru, Jair Bolsonaro, durante a pandemia e afirmou que “iria só se preocupar com o assunto no dia em que começassem a adulterar Coca-Cola”. A declaração que provocou forte reação pública e foi vista como insensível diante da gravidade da tragédia.
Segundo Tarcísio, o comentário ocorreu após uma reunião com representantes do setor de bebidas e que teria sido “mal interpretado”.
No vídeo, ele reconheceu o erro e pediu perdão:
“Errei. Ontem, ao prestar contas das ações do governo do estado […] acabei fazendo uma brincadeira para descontrair a coletiva que foi muito mal interpretada e que de fato não cabia naquele momento em face da gravidade do que vem acontecendo.”
Dessa vez sem os risos desavergonhados, ele afirmou ainda que o arrependimento “não vai apagar o passado, mas ensina e vai nos ajudar na construção de um caminho que queremos”.
COMPARAÇÃO COM BOLSONARO
A fala do governador provocou repulsa. O tom de deboche remeteu diretamente às declarações do ex-presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia da Covid-19, quando o país enfrentava números crescentes de mortes.
Em 2020, enquanto o Brasil registrava centenas de óbitos diários, Bolsonaro chegou a minimizar a gravidade da doença ao afirmar:
“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre.”
Em outra ocasião, diante do avanço das mortes, ironizou:
“Não sou coveiro, tá certo?”
E ainda, ao ser cobrado sobre a alta do número de vítimas, disse:
“Todo mundo vai morrer um dia.”
As comparações ganharam força nas redes sociais, com usuários apontando semelhanças entre o tom jocoso de Bolsonaro e a insensibilidade da fala de Tarcísio, especialmente num momento em que o estado lidera as estatísticas de contaminação por bebidas adulteradas.
CASOS SOB INVESTIGAÇÃO
De acordo com o boletim mais recente, o estado de São Paulo concentra a maior parte dos registros do país. São 176 casos notificados, sendo 18 confirmados, 158 em investigação e 85 descartados. Entre as vítimas, 10 pessoas morreram — 3 com laudo confirmado e 7 em análise.
A Polícia Civil investiga duas hipóteses principais para a contaminação: o uso de metanol na higienização de garrafas reaproveitadas, que não foram devidamente recicladas, e a adição acidental da substância na produção de bebidas falsificadas.
O metanol é um álcool de uso industrial, presente em solventes e produtos químicos, e é altamente tóxico quando ingerido, podendo causar cegueira, coma, insuficiência de órgãos e morte.
A perícia da Superintendência de Polícia Técnico-Científica já confirmou a presença da substância em bebidas de duas distribuidoras. Na última semana, o governo recolheu mais de 7 mil garrafas suspeitas e anunciou que vai pedir à Justiça a destruição de todo o material apreendido, como garrafas, rótulos, tampas e selos.
Fonte: https://horadopovo.com.br/tarcisio-tenta-se-desculpar-apos-debochar-de-mortos-contaminados-por-metanol/