
Entre curvas perigosas, pistas estreitas e tráfego intenso, principalmente de cargas pesadas, a rodovia que é a principal ligação entre as regiões oeste e litoral de Santa Catarina se arrasta em condições precárias. Essencial para a economia, a prometida duplicação da BR-282 é aguardada pelo estado, mas continua na fase de elaboração de projetos e sem previsão de sair do papel.
O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL-SC), propôs ao governo federal a estadualização da BR-282. Pela sugestão, apresentada no mês de março, o estado assumiria a gestão da rodovia. Ele também solicitou a transferência do orçamento de manutenção.
“Deixamos claro ao governo federal que Santa Catarina está disposta a assumir a responsabilidade, se for preciso, para fazer essa obra sair do papel. O catarinense quer resultado — e nós não vamos descansar enquanto essa rodovia não tiver a estrutura que o nosso estado merece”, disse Mello.
A Gazeta do Povo questionou o Ministério dos Transportes sobre o pedido do governador catarinense, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
BR-282 sustenta economia e atrai turistas ao ligar oeste e litoral catarinenses
A BR-282 conecta Florianópolis ao município de Paraíso, no extremo-oeste do estado, na fronteira com a Argentina. Considerada vital para a ligação na região, a rodovia também é o caminho entre oeste e os portos do litoral, funcionando como principal corredor de escoamento da produção industrial e agropecuária.
Com a BR-470, forma o eixo logístico que interliga o oeste e a serra ao litoral. É pela BR-282 que circula boa parte da riqueza catarinense — carnes, grãos, insumos industriais e manufaturados dependem dessa via.
Além do transporte de cargas, a rodovia absorve o movimento turístico, sendo usada principalmente por visitantes brasileiros e argentinos que buscam as praias e os complexos turísticos do estado. Nos oito primeiros meses de 2025, cerca de 385 mil argentinos visitaram o estado, representando 67,91% dos turistas estrangeiros.
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Sem duplicação da BR-282, custos logísticos aumentam
De acordo com a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), o corredor reúne mais de 130 mil estabelecimentos industriais e agroindustriais, responsáveis por cerca de 1,3 milhão de empregos. “A ausência de duplicação da BR-282 limita a fluidez logística, aumenta custos e afeta diretamente a competitividade das empresas”, afirmou o presidente da Fiesc, Gilberto Seleme.

Segundo estudo da federação, a modernização completa da BR-282 — incluindo duplicação, faixas adicionais, contornos e obras emergenciais — exigiria investimentos de R$ 728,5 milhões do governo federal. O valor é estimado até 2028 contando o custo dos projetos e das obras.
Seleme destacou que a precariedade da rodovia encarece a produção e compromete contratos. “No oeste, os custos logísticos chegam a R$ 0,14 para cada real faturado, o mais alto do estado. Isso reduz as margens, aumenta o preço final e coloca vidas em risco. Santa Catarina é o segundo estado com mais acidentes e o terceiro com mais mortes nas rodovias federais”, alertou.
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Dnit diz que governo federal investirá R$ 3 bilhões em melhorias na BR-282
Em nota à Gazeta do Povo, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) informou que há 13 lotes com projetos de duplicação da BR-282 contratados, entre Palhoça e São Miguel do Oeste, com investimento estimado em mais de R$ 3 bilhões após a aprovação dos projetos.
Santa Catarina é o segundo estado com mais acidentes e o terceiro com mais mortes nas rodovias federais.
Segundo o órgão vinculado ao governo federal, há uma série de frentes de trabalho em andamento na BR-282, tanto em projetos de duplicação quanto em obras de conservação e adequação da rodovia, com foco na ampliação da capacidade da via, no aumento da segurança dos motoristas e na melhoria da mobilidade em áreas urbanas e rurais. Outras frentes em andamento são:
- terceiras faixas entre Águas Mornas e Alfredo Wagner: 80 km de extensão e 17 novos acessos, investimento de R$ 2,1 milhões, com conclusão prevista para 2026;
- contorno de Santo Amaro da Imperatriz: em fase final de elaboração, o trecho de aproximadamente 7 quilômetros incluirá dois túneis, cinco viadutos e uma ponte, criando uma alternativa ao tráfego urbano de Palhoça e Santo Amaro. O investimento é de R$ 6,3 milhões;
- vias marginais em Palhoça (quilômetro 15 a 18): anteprojeto concluído, aguardando acordo entre a prefeitura e o DNIT para licitação;
- viaduto de Rancho Queimado: revisão das fundações, conclusão prevista até o fim de 2025;
- marginais em Maravilha: obra de 3,4 quilômetros, com ponte sobre o Rio Iracema, ciclovia e rótulas alongadas. O investimento de R$ 40 milhões e previsão de entrega é junho de 2026;
- contorno viário de São Miguel do Oeste: projeto de engenharia em fase de contratação.
O Dnit afirmou ainda que “as ações de conservação e recuperação da BR-282 estão sendo executadas em toda a sua extensão” e que 70% da rodovia se encontra em boas condições de tráfego. Questionado pela Gazeta do Povo sobre qual a previsão para o início das obras de duplicação em cada trecho da BR‑282 e quais são os entraves que poderiam atrasar, o Dnit não respondeu.

Demora na duplicação da BR-282 pode afastar investimentos
Enquanto a duplicação da BR-282 segue sem previsão de início, a Fiesc, em parceria com o Dnit e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), elaborou o programa “BR-282 + Segura e Eficiente”, que prevê cerca de 70 km de terceiras faixas entre Santo Amaro da Imperatriz e Lages. A medida, segundo Seleme, traria resultados rápidos e efetivos.
“O desafio agora é garantir que os recursos previstos na Lei Orçamentária de 2026 sejam suficientes para viabilizar as obras. O setor produtivo precisa de ações imediatas”, reforçou o presidente da Fiesc.
Seleme também alertou que a demora na duplicação pode afastar novos investimentos. “Empresas buscam eficiência logística, e essa é hoje uma das maiores limitações do estado. Investir na BR-282 é investir em produtividade, segurança e crescimento.”

Enquanto o impasse persiste, a Fiesc defende a diversificação da matriz logística catarinense, já que mais de 70% das cargas circulam por rodovias. “É preciso fortalecer o transporte ferroviário e ampliar as conexões com os portos”, disse Seleme.
O Plano Estadual de Transporte e Logística, em elaboração pelo governo estadual com apoio da Fiesc, é uma das apostas para avançar nesse sentido. “A intermodalidade é o caminho para reduzir custos, melhorar a eficiência e garantir o futuro logístico de Santa Catarina.”
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/santa-catarina/governador-sc-propoe-estadualizacao-para-destravar-duplicacao-br-282/