11 de outubro de 2025
Microsoft tem ‘posição única’ para liderar a corrida da IA,
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A Microsoft quer se firmar como o novo império da infraestrutura de inteligência artificial (IA). Numa postagem recente no X/Twitter, o CEO Satya Nadella afirmou que a empresa está “unicamente posicionada” para atender à demanda global de IA. Foi um recado direto a rivais como OpenAI, Google e Amazon, que disputam cada megawatt de poder computacional.

Por trás do discurso, a companhia acelera um plano bilionário para ganhar soberania computacional – isto é, independência na produção e operação da tecnologia que alimenta seus sistemas de IA. 

O plano envolve desde o super data center Fairwater, em construção nos Estados Unidos, até o desenvolvimento de chips próprios e contratos de aluguel em larga escala com provedores de nuvem.

Soberania computacional é a nova fase da corrida da IA

A postagem de Nadella reforça a nova fase da corrida pela infraestrutura de IA. Se antes a disputa girava em torno dos modelos mais avançados, agora o foco está em quem controla o poder de processamento que torna esses modelos possíveis.

A Microsoft quer dominar essa base — dos chips aos data centers — para garantir autonomia e vantagem na era da chamada “soberania computacional”. 

É uma corrida por escala, eficiência e independência tecnológica que vai muito além do software. E começa, literalmente, no chão dos servidores.

Data centers próprios e chips ‘made in Microsoft

A base da estratégia da Microsoft é dominar toda a cadeia produtiva da IA. Em vez de depender de fornecedores como Nvidia e AMD, a empresa quer construir seu próprio ecossistema de hardware. 

Ideia da Microsoft é só usar dispositivos próprios nos data centers (Imagem: IR Stone/Shutterstock)

O plano começou a tomar forma em 2023, com o lançamento do Azure Maia AI Accelerator, voltado para cargas de trabalho de IA, e do Cobalt CPU, processador criado para rodar aplicações em servidores de alto desempenho.

Esses chips serão integrados à rede de mais de 300 data centers em 34 países, que já sustentam o serviço de nuvem Azure e produtos como o Copilot. 

Segundo Nadella, essa estrutura coloca a Microsoft “unicamente posicionada” para lidar com os sistemas que esticam a fronteira da IA (aqueles modelos tão grandes e complexos que exigem uma infraestrutura de supercomputação).

A meta é atingir autossuficiência computacional, o que traria redução de custos e ganho de liberdade para otimizar o desempenho de suas aplicações. 

O CTO da Microsoft, Kevin Scott, resume a ambição: o objetivo é ter controle total “do design do sistema às decisões de resfriamento”, garantindo que cada peça da infraestrutura seja moldada para extrair o máximo da IA.

Fairwater: o super data center da Microsoft

O símbolo mais visível dessa ambição é o projeto Fairwater, em Mount Pleasant, Wisconsin. O complexo está sendo construído no terreno de uma antiga fábrica da Foxconn e deve receber US$ 3,3 bilhões (cerca de R$ 18 bilhões) em investimentos. Quando estiver pronto, será dez vezes mais poderoso que o supercomputador mais rápido em operação.

Visão aérea de super data center de inteligência artificial (IA) da Microsoft
Data center Fairwater, da Microsoft, tem três prédios, com 111,5 mil metros quadrados de área construída (Imagem: Divulgação/Microsoft)

O Fairwater vai reunir centenas de milhares de GPUs Nvidia GB200, conectadas para funcionar como um único supercomputador. Essa arquitetura permitirá processar mais de 865 mil tokens por segundo, o que vai tornar o data center essencial para o treinamento da nova geração de modelos de linguagem.

Além da potência, o data center busca ser um exemplo de sustentabilidade. A instalação usa resfriamento líquido em circuito fechado, que evita desperdício e evaporação de água — mais de 90% da operação ocorre sob esse modelo. 

O projeto, no entanto, chega em meio a questionamentos sobre o impacto energético de centros desse porte, que exigem gigawatts de eletricidade para funcionar.

A fase do aluguel: bilhões em ‘nuvens terceirizadas’

Mesmo com infraestrutura própria, a Microsoft recorre a uma estratégia complementar: alugar poder computacional de terceiros. A tática serve para contornar a escassez global de chips e servidores de IA, que limita a expansão das big techs.

data center
Ao alugar data centers de terceiros, Microsoft pode direcionar seu próprio poder computacional aos clientes (Imagem: Oselote/iStock)

Nos últimos meses, a empresa firmou contratos que somam mais de US$ 33 bilhões (R$ 176 bilhões) com provedores de infraestrutura conhecidos como neoclouds – entre eles, estão: Nebius, Nscale, Lambda e CoreWeave. O maior desses acordos, com a Nebius, vale US$ 19,4 bilhões (R$ 103,7 bilhões) e garante acesso a mais de 100 mil chips Nvidia GB300.

O poder alugado é usado internamente para treinar modelos e desenvolver produtos de IA, o que libera os próprios data centers da Microsoft para atender clientes corporativos. A empresa “não quer ficar limitada em termos de capacidade”, disse Scott Guthrie, chefe da divisão de nuvem. 

Segundo ele, a estratégia representa uma “conquista de território no espaço da IA”. Isso porque garante poder de processamento enquanto o mercado global disputa cada servidor disponível.

Independência no discurso, dependência na prática

Apesar do discurso de autossuficiência, a Microsoft ainda depende fortemente da Nvidia para tocar seus projetos mais ambiciosos. Tanto o Fairwater quanto os contratos de aluguel operam com chips da fabricante, que segue dominando o mercado de GPUs de alto desempenho.

A contradição expõe a transição pela qual a empresa passa: enquanto investe em seus próprios chips, ainda precisa do hardware da Nvidia para sustentar a atual geração de modelos de IA. O mesmo ocorre com concorrentes como Amazon e Google. Isso mostra que a autonomia total ainda é uma meta distante.

Para a Microsoft, o desafio é equilibrar velocidade e independência. Ou seja: avançar na construção de uma infraestrutura própria sem perder competitividade numa corrida acirrada.

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A disputa pelo poder no setor da IA

A corrida pelos data centers de IA não é apenas tecnológica. É também uma disputa por influência econômica e política sobre a infraestrutura que sustenta o futuro digital. Controlar o poder de processamento significa definir quem terá acesso aos modelos mais avançados. E a que custo.

Com investimentos bilionários e chips desenvolvidos em casa, a Microsoft tenta se posicionar como arquiteta da nova era da IA, ao invés de apenas uma fornecedora de nuvem. 

O sucesso desse plano pode redefinir o equilíbrio de forças entre as big techs. E estabelecer um novo padrão de soberania digital, no qual o verdadeiro poder não está no software, mas na energia e nos servidores que o mantêm “vivo”.

(Essa matéria também usou informações do site TechCrunch.)

O post Microsoft tem ‘posição única’ para liderar a corrida da IA, diz CEO apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/10/10/pro/microsoft-tem-posicao-unica-para-liderar-a-corrida-da-ia-diz-ceo/