Mulheres quebradeiras de coco babaçu do Maranhão ganham destaque em exposição fotográfica em Londres

As mulheres quilombolas quebradeiras de coco babaçu do Maranhão serão destaque na exposição fotográfica Women by Women, promovida pela organização internacional ActionAid, em Londres. A mostra, intitulada “Rooted in Resilience” (“Resiliência Enraizada”), estará aberta ao público de 9 a 12 de outubro, na Oxo Gallery, com entrada gratuita e acesso virtual.

As imagens são assinadas pela artista visual paraense Nay Jinknss, que viajou ao Maranhão para registrar o cotidiano de Kleidianny Ferreira, Bárbara dos Santos e Antônia Pereira — mulheres que têm no babaçu a principal fonte de sustento, identidade cultural e resistência. O trabalho fotográfico foi realizado no município de São Luís Gonzaga (MA), durante visitas às casas e comunidades dessas mulheres.

As quebradeiras retratadas fazem parte da Associação de Mulheres Quebradeiras de Coco (AMTQC) e contam com apoio da Associação em Área de Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA), parceira da ActionAid há 25 anos. As entidades atuam juntas na defesa do território, da floresta e dos direitos das mulheres do campo e das comunidades tradicionais.

“A fotografia pode ser ferramenta para a defesa da memória, da ancestralidade e da luta das comunidades. O que aprendo com quebradeiras de coco, pescadoras, marisqueiras e minhas avós é um conhecimento de biblioteca inteira que não se encontra na universidade nem na internet”, afirma Nay Jinknss.

Entre as retratadas, Kleidianny Ferreira, de 36 anos, moradora da comunidade quilombola Monte Alegre, é coordenadora geral da AMTQC e uma das principais lideranças locais. Ela estará em Londres representando o grupo na abertura da exposição.

“Usamos tudo que vem do babaçu. Vendemos as amêndoas, fazemos carvão com a casca, óleo e adubo com o mesocarpo. A palha serve para cobrir casas, e o talo, para cercas. Enquanto houver palmeiras, haverá quebradeiras. É por isso que lutamos: para preservar os babaçuais”, declara Kleidianny.

Bárbara dos Santos, de 29 anos, é professora e secretária da associação. Além de produzir e comercializar o óleo de babaçu, ela atua na articulação das mulheres da comunidade, ajudando no acesso ao PGPMBio (Garantia de Preço Mínimo para Produtos da Sociobiodiversidade) e na defesa dos babaçuais contra ameaças do agronegócio.

“Quando há derrubamento das árvores, as pessoas entram em contato, e então eu posso mobilizar as outras mulheres. Vamos todas juntas à luta”, relata Bárbara.

A mais velha do trio, Antônia Pereira, de 67 anos, aprendeu a quebrar coco para sustentar a família e repassou o ofício à filha. Para ela, o trabalho é sinônimo de autonomia e tradição.

As quebradeiras de coco babaçu são reconhecidas pela luta constante contra o desmatamento e a contaminação dos rios, provocados pela expansão do agronegócio. No comando da AMTQC, Kleidianny lidera cerca de 80 mulheres em defesa da terra e das florestas do Cerrado.

A diretora programática da ActionAid Brasil, Ana Paula Brandão, destaca a relevância da mostra e da presença maranhense no evento.

“Às vésperas da COP30, a ActionAid reforça a urgência de colocar a justiça climática e as vozes negras, indígenas e quilombolas no centro da ação global. O exemplo das quebradeiras de coco babaçu mostra como gerações de mulheres sustentam suas famílias e preservam ecossistemas vitais”, afirma.

A exposição Women by Women acontece paralelamente ao lançamento do relatório “Desmatamento Financiado: Quebradeiras de coco na mira do agronegócio”, produzido pela ActionAid Brasil, que denuncia os impactos ambientais e sociais provocados por grandes empresas do setor agropecuário. O estudo complementa o relatório internacional “Who Pays The Price?”, da ActionAid Reino Unido.

A ActionAid atua há 25 anos no Brasil, promovendo justiça social, racial, de gênero e climática. A organização já beneficiou mais de 300 mil pessoas em mais de 2.400 comunidades e está presente em mais de 70 países, por meio de parcerias com organizações e movimentos sociais.